Capítulo 2

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Helena

Helena: Como assim vocês têm alguém para eu me casar? — vou entrando na cozinha sem acreditar no que ouvi  e vejo os meus pais— Eu devo ter ouvido mal, não é? — esperei por uma resposta, mas ninguém se pronunciou— Mãe?

Paula: Venha, meu amor, precisamos conversar.— disse-me ela com o semblante infeliz.

Semblante este quase todo coberto por seus cabelos ruivos compridos e volumosos assim como os meus que estavam soltos, seus olhos azuis diferentes dos meus que são escuros e nesse momento embaçados assim como os dela. Segui-a, assim como meu pai que não dizia absolutamente nada, e nos sentamos nas cadeiras à volta da mesa de madeira que está na sala.

Helena: Alguém pode por favor me dizer o que se passa?

Paula: Antes de tudo, queremos que saibas que eu e o seu pai só queremos o melhor para você. — segurou as minhas mãos fazendo-lhes carinho— Queremos partir em paz sabendo que você estará bem e vivendo feliz sendo protegida e cuidada por alguém que a ame, filha, que terá uma família e não estará sozinha.

Eu não acredito no que estava ouvindo, o que eu mais temo está se realizando ou prestes a se realizar... eu serei obrigada a me casar e viver tudo o que eu mais abomino? Me casar e ir contra tudo que eu acredito ou me casar mantendo tudo o que acredito e ser infeliz para o resto da vida ou até que meu futuro marido se divorcie de mim? Seria esse o meu destino?

Rogério: Helena, estás a ouvir?— meu pai se pronunciou, finalmente.

Helena: Não sei... estou?

Rogério: Helena, você preci....

Helena : Preciso o quê, pai?— interrompo meu pai que me olhava irritado agora— Me casar com um estranho? Um homem que eu não amo e ser infeliz assim como a minha mãe é com o senhor?

E nesse momento eu senti parte do meu rosto arder, meu pai me bateu, não é uma surpresa, ele sempre faz comigo, com minha mãe e comigo sempre que se sene irritado ou confrontado e minha mãe nada faz e nem eu, mas apesar disso não a culpo, nessa vila isso é normal, as mulheres não têm voz e seus maridos as tratam como quiserem.

Eu sei, isso é bem do século passado, mas não aqui, pelo menos não a maioria. Nossa vila é um dos lugares mais conservadores e com isso tem tudo desde machismo até coisas piores, e isso é o que eu não quero para a minha vida porque eu sempre soube que a partir do momento em que eu me casasse com um homem não haveria mais saída, mas comecei  a achar que eu nunca tive.

Ainda com a minha mão em meu rosto sentindo a pele arder, pele que ficaria vermelha não tarda nada, ouvi-o dizer berrar, como quase sempre:

Rogério: Você vai se casar! Você vai ter um marido e se puder filhos, reze para Deus ter te dado um útero melhor que o de sua mãe e dê somente filhos homens a seu futuro marido para não ter que passar pelo que eu passo.— passou às mãos pelo  seu cabelo castanho — Você tem estudos, sabe fazer coisas da casa e sabe trabalhar, de certo vale mais do que sua mãe vale, você vale mais, mas você não é esperta o suficiente para saber que ter estudos e saber trabalhar não é o suficiente para se ser alguém nessa sociedade, nessa vila...— suspirou se acalmando— Nisso você e sua mãe são iguais, não são nada e você, minha querida filha que vive debaixo do meu teto e não quer dar um desgosto para sua amada mãe, vai me obedecer e se casar já, nem que tenha que ser amanhã!

E assim saiu deixando eu e minha mãe que só mantinha a cabeça abaixada chorando junto comigo... esse será o meu destino agora?

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