Capítulo 3

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Uma maquiam é como uma máscara: ambas escondem nossos medos e inseguranças... quem somos.

Helena

Mais um pouco de base aqui, um corretor ali e pronto! Quem diria que eu levei um tapa do meu pai que está me obrigando a se casar? Ninguém, com certeza. Anos cobrindo com maquiagem as manchas que ele deixa em mim têm que servir de alguma coisa, comigo sempre funcionou e funciona, já com a minha mãe ela nunca precisou já que quase nunca sai de casa e quando sai é só para ir à igreja uma vez por mês rezar... pela alma do meu pobre pai? Bem que ele precisa mesmo.

Ainda estou desnorteada com tudo o que se passou ontem, mas eu preciso viver enquanto posso e tentar arranjar uma solução, então vou trabalhar usando meu vestido amarelo de mangas curtas, um pouco justo o suficiente para salientar minhas curvas e comprido até os joelhos. Prendi o meu cabelo fazendo um rabo de cavalo longo e calcei minha botas pretas, eu parecia mesmo uma dama, não entendo o porquê de ser chamada "Maria-Rapaz"... ah lembrei, talvez porque eu afasto todos os homens da vila e gostar de praticar esportes e consequentemente ser melhor que muitos dos que se dizem ser homens.

Termino de me arrumar, pego minha bolsa e desço silenciosamente as escadas para não acordar ninguém o que não funciona já que vejo minha mãe me esperando.

Paula: Filha, podemos falar?

Helena: Agora não vai dar, mãe.

Paula: Por favor! Eu preciso te contar algo importante.— disse com a voz já trémula, mas eu não poderia conversar, não agora, estava irritada e me atrasaria.

Helena: Agora não dá, mãe.

Saí de casa pegando a minha bicicleta preta e pedalando até à vila, até à loja de vestidos onde trabalho ajudando mulheres a escolherem os vestidos que usarão em dias importantes para eles, sejam eles felizes ou não.

Maria Clara: Eu não acredito nisso.— me abraçou após eu ter contado tudo o que tinha acontecido, desde o casamento até o tapa.

Helena: Pois, mas acredita. Eu estou ferrada.

Maria Clara: Eu sinto muito, Helena. Eu sei que você mais do que ninguém não quer isso.

Helena: Quem me dera meus pais soubessem...ah, eles sabem, só não se importam!— forço um sorriso.

Maria Clara: Mas você sabe com quem você vai se casar?

Helena: Eu não sei e nem quero saber, Maria Clara.

Maria Clara: Mas você deveria , vai que é um senhor de idade... isso tornaria tudo menos pior, porque aí não demoraria nada para ele ir dessa para melhor, se quiser eu até te ajudo a sumir com o velho.— disse sorrindo.

Helena: Meu Deus, Maria Clara.— tento não sorrir, mas acabo falhando e estamos ambas rindo alto— O que eu faria sem você?

Maria Clara: Provavelmente tudo o que não deve. É melhor a gente voltar a trabalhar.

Helena: Sabe, provavelmente daqui a um tempo serei eu nessa loja escolhendo um vestido?— digo triste.

Maria Clara: Só se for para o funeral do seu futuro marido.— me abraçou rápido e em seguida se afastou— Agora vamos trabalhar, sim?

E assim foi durante a tarde toda. Eu e Maria Clara trabalhamos nesta loja há 2 anos, não ganho muito, mas o suficiente para eu tentar juntar meu dinheiro para ir embora dessa cidade com a minha mãe e começarmos uma vida longe do meu pai. Sim, estou chateada com ela, mas ela é só mais uma vítima dele e eu a amo, é a minha mãe, não é? Mais um turno terminou e eu e Maria Clara nos despedimos, ela foi embora já que vive aqui no centro da vila e antes de eu subir na minha bicicleta ouço uma voz rouca de homem atrás de mim perguntando:

__ Me desculpa, moça. Pode me dizer se é
aqui onde eu encontro a Helena Sanches?

Helena: É sim, quem a procura?

Marcelo: Marcelo Rodrigues, o futuro marido dela.

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