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É estranha a forma como papai passou a agir comigo, como se eu fosse um troféu e como se precisasse estar sempre... Impecável.

Mamãe aliviava demais essa atitude dele. Por isso hoje sinto tanto a sua falta, ela amenizada a ausência de meu pai.

— Acho. — Há uma pausa e ele rola o olhar. — Se ficar longe de problemas, e eu falo de Hades, tudo pode melhorar.

— Hades está grudado em minha pele, não há para onde fugir. — Eu torço os lábios, me pego até sorrindo. — É impossível afastá-lo.

Eu dou um gole na bebida e massageio minha nuca, sentindo-a formigar.

— Mas o que há entre vocês dois? O mundo dele parece ser você.

Fora que todo lugar que você está, ele também está, mas te observando. Parece que vou ser morto a qualquer momento quando estou próximo a você.

Passo para ele o cantil e ele toma um gole, logo faz uma careta quando engole a vodca.

— Bobagem, ele não faria nada diretamente com você — o asseguro, mesmo não sentindo firmeza no que eu mesma digo. — Hades parecia alguém que eu poderia amar, eu falo de amar mesmo.

Mas papai me mostrou que ele não passa de um bastardo que só usa as pessoas.

Seu olhar se perde, procurando as palavras.

— Isso é... trágico.

— Isso é fodido pra caralho.

Ele dá de ombros, encerrando o assunto, e se encosta na árvore, olhando para a floresta.

Me perco em pensamentos, lembrando da conversa que tive com papai logo após ele me mostrar o que Hades fez, então, o que era para ser uma comemoração, virou um inferno.

Aquilo não foi uma conversa, para ser específica, foi minha destruição e vergonha.

Olho para o mesmo ponto, observando a floresta e afastando as lembranças.

Dinasty possui um rio há alguns metros, ele divide a escola dos animais da floresta. Às vezes, muito raramente, alguns vem nos fazer uma pequena visita.

Sinto minha nuca formigar de novo e passo a mão ali, esticando minhas costas.

Dou mais um gole no cantil e esse é menos ardente. O escondo e me viro, tendo a sensação de que alguém nos observa.

Olho por todo o prédio de três andares com janelas enormes, a janela da biblioteca fica para o campo, enquanto as das salas de aula para as laterais.

Corro o olhar por tudo, ainda com a mesma sensação. Talvez esse seja um sinal para que voltemos.

Dou um pulo quando o sinal soa alto, nos avisando do intervalo. Dou mais um gole e depois jogo duas balas de menta em minha boca para disfarçar o cheiro.

Atração fatal Onde histórias criam vida. Descubra agora