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Até meus doze anos, papai lia para mim todas as noites sobre os monstros que viriam pegar quem não se comportava. Naquele tempo, eu acreditava tanto em suas palavras que dormia rápido por medo. Eu não era comportada, não do jeito que ele queria.

Ele descrevia os monstros como criaturas terríveis e feias, impossíveis de serem encaradas por muito tempo. Listava as coisas que mais os desagradavam também, só quando cresci mais um pouco, percebi que eram as coisas que, na verdade, desagradavam a ele. Era uma forma indireta para que eu seguisse suas regras, então o monstro sempre esteve ali.

Kairon às vezes entrava no meu quarto durante a madrugada, dizendo que sentia quando eu estava com medo.

Meu irmão sempre foi meu porto seguro, admirava o quanto não ligava para absolutamente nada e não aparentava ter medos. Ele foi adotado assim que nos mudamos para cá, eu com seis anos, e ele aos sete anos, sendo apenas cinco meses mais velho que eu.

Lembro de sua chegada como se fosse uma luz no fim de um túnel de solidão, já que era assim que eu me sentia a maior parte do tempo, solitária. Meu irmão nunca quis saber de sua família antiga e assim mamãe pôde ficar aliviada, já que chorava dia e noite com medo que ele pedisse para voltar a sua verdadeira mãe.

Mas sabemos que Louise sempre foi a verdadeira em sua vida, criados de igual para igual e sempre com as cartas postas à mesa sobre a verdade. Fizemos os mesmos amigos, claro que com o tempo o ciclo de amizade dele aumentou e o meu não, mas isso nunca mudou nada entre nós dois. Inseparáveis, dizem que o homem da nossa vida normalmente é o pai, uma tolice, Kairon é o único homem que habita em meu coração e tem grande parte dele.

O amor de irmão é algo que aumenta a cada ano.

Aos treze, ele me levou para finalmente conhecer o lago que mamãe dizia ser lindo, mas era longe de nossa casa, ela nunca teve tempo de nos levar até lá. Ele foi comigo depois que lhe contei sobre meu sonho com o tal lago, caminhamos muito nesse dia, mas valeu a pena.

Na realidade, ele e Hades, que nesse dia mal falou comigo, já que foi depois de mais um fim de semana que passou trancado em casa com seu pai. E foi o único fim de semana que não o escutei

tocar minha música favorita em seu piano, mínimos detalhes que marcam a gente.

Essa é uma memória forte para mim.
— O que achou? — pergunto enquanto dou uma voltinha para meu irmão.

— Não precisam se vestir feito vadias, mas combinou com vocês — Kairon diz com um meio sorriso, depois de um olhar breve em mim e Ava.

Ele está um pouco esquisito, sondando muito nossas intenções para essa noite.

— O que te leva a pensar que não somos? — rebato, enquanto mexo na bolsa em busca de meu gloss.

Eu uso um vestido rose até metade da coxa, um pouco colado, e salto branco, meu cabelo escuro com ondulações está solto. Talvez eu queira atenção essa noite. Ava usa um vestido lilás um pouco soltinho e saltos prata, em sua perfeita postura de bailarina, seu cabelo loiro cai em uma cascata.

É compreensível que Elliot morra de amores por ela, mesmo que não admita.

Não contar ao meu irmão sobre o lugar que vamos, ele pode ir atrás de nós com os garotos e essa é a última coisa que queremos. Eu nem esperava o encontrar em casa hoje, o que é estranho.

Pego minha bolsa e saio do quarto, puxando Ava para que ele não faça nenhuma pergunta.


Continuar....

Atração fatal Onde histórias criam vida. Descubra agora