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— Eu mataria vocês pela Heather, sem pensar duas vezes — falo descontraído, enquanto saio da piscina de Kairon.
Magnus, Elliot e ele me encaram perplexos.

Eu sei que posso falar coisas absurdas para eles, mesmo levando a sério. Nada se altera entre a gente. Uns demonstram de menos e outros mais, mas a obsessão por suas coisas sempre está ali.

Porém, uma coisa que eu não suporto são as provocações com o nome da minha Heather.

— Isso é hipoteticamente falando ou...? — Magnus dá uma pausa, receoso, voltando a se movimentar para fora da água.

— Pode virar uma realidade se chamarem ela de novo para tomar banho na piscina.

Com isso, eu enrolo a toalha em minha cintura e saio dali. Ouço quando a porta da frente se abre, eu não olho para trás e continuo o caminho até minha casa.

O fato de viver mais na casa de Kairon e Heather é porque meu pai proíbe pessoas em minha casa, então, assim que abro a porta principal da minha residência e escuto a voz de Louise, eu acho estranho.

Estão falando algo sobre o treinador Mark Lowrey ter assediado Heather, não consigo escutar muito já que o assunto está quase se encerrando.

Mas se estão comentando uma para outra, é algo que precisa ser resolvido.

Escuto Louise contar a minha mãe sobre o que descobriu, e eu quero garantir que isso nunca mais vai se repetir.

Heather não me contou nada e agora entendo seu desânimo em continuar,
mas eu vou fazer isso mudar muito em breve.

— Nosso monstrinho não pode saber disso — Louise diz apreensiva, mas bufa uma risada.

— Claro que não, será mais um problema para resolver — Mamãe responde, calma. Eu subo para me trocar rapidamente.

Depois de apenas trocar de roupa, me apresso para sair primeiro e terminar logo com isso, não é fácil esconder as coisas de mim e sabem disso.

Tudo chega até mim, por bem ou mal, e isso alimenta ainda mais minha raiva.

As pessoas não conseguem guardar segredos por muito tempo, elas sentem a necessidade de que pelo menos uma pessoa saiba.

Mas as paredes têm ouvidos. Eu estou atrás delas.

Minha falta de empatia ou remorso em qualquer ocasião me leva a dizer e fazer coisas que podem machucar o outro, mas isso é só uma falha deles. Só sente a dor quem dá atenção a ela.

E se aos dezesseis eu já sei disso, é porque algo está errado comigo?
Avisto Heather sentada em sua porta e Ava na sua frente, lhe mostrando alguns passos de Balé.

Seus olhos verdes brilham em
admiração pela maldita loira que me inferniza desde que me conheceu. Eu até mesmo a ameaço, mas então aparece outra loira medrosa, a Noemia.

Por fim, meus amigos passaram a ficar interessados demais nelas. Eles dizem, talvez, amá-las.

Já eu posso afirmar que sou obcecado por Heather, ela é a única em quem tenho interesse, mesmo que eu sempre tenha chamado a atenção das outras garotas de nossa escola, é somente ela que eu vejo em todos os lugares.

Posso, também, afirmar que é recíproco, já que consigo afastar todos os garotos que ousam tentar algo com a minha rainha.

Sim, ela é isso tudo para mim, e sim, eu a faria pensar que somente eu existo. Seu olhar encontra o meu e ela sorri, logo depois acena.

Heather tem o sorriso mais lindo que já vi, ainda mais depois que tirou o aparelho, ela sorri com os olhos, e eles ficam pequenos de um jeito que me abala. Ela é um anjo, a luz que não existe em mim.

— Parado aí, seu bastardo. — Ava coloca um dedo na frente do meu rosto. — O que você quer?

Intercalo o olhar entre ela e Heather, que não interfere.

Seu olhar está baixo e ela parece um pouco distraída. Não é difícil identificar que algo a entristeceu. E isso me acende a mais pura raiva.

— Toma conta da sua vida, Ava. — Eu esbarro em seu ombro.

Me aproximo de Heather e estendo a mão, ela não a pega de primeira, mas olha confusa entre mim e Ava, que parece desaprovar o que vem a seguir, mas não diz nada.

Somos feitos cão e gato, tem momentos que ela me odeia mortalmente e outros em que conseguimos ser perfeitos um para o outro.

Ela, um dia, perguntou se eu a amo, mas o amor é uma farsa, no final, ele te destrói como todos os outros sentimentos.

O que sinto por ela é devoção, talvez eu compare em como mamãe é com sua religião. Heather é a minha.

— Eu quero te mostrar algo que vai te fazer sentir bem. — Seu olhar se ilumina, muito mais do que vendo Ava dançar.

Heather agarra minha mão e se levanta, se despedindo vagamente de Ava que bate os pés, saindo do quintal.

Eu não me importo desde que eu consiga ter a total atenção de quem eu realmente quero.

A Dinasty Junior não fica tão longe daqui, e com a distração de mamãe e Louise, eu consigo pegar o carro para que seja um caminho curto e que aconteça rápido, bem rápido ou de forma agonizante, esse é meu desejo.

Heather olha para o outro lado enquanto brinca com a barra de seu vestido, ela está nervosa, mas só por estar aqui, eu sei que confia em mim mais do que tudo.

Há algo na raiva que me consome quando algo de ruim pode estar prestes a acontecer com ela, quando algo pode machucá-la e tirá-la de mim, isso traz à tona meus piores demônios.

— Sabe para onde estamos indo? — pergunto sem encará-la, pelo canto de olho a vejo me olhar assustada.

— Esse é o caminho do colégio, certo?
Saboreio sua voz doce, isso me dá mais certeza de que estou no caminho certo.

— Então sabe o que vamos fazer, não é?

Eu viro a última rua que dá acesso ao estacionamento dos fundos, mais especificamente dos professores, e a parte onde ficam os vestiários de Rugby, o lugar onde Mark Lowrey vai aparecer.

— Mamãe disse que não era para te contar, eu juro que quis, mas ela disse que resolveria. —

Atração fatal Onde histórias criam vida. Descubra agora