O cheiro da mata era inebriante e trazia ótimas lembranças para a menina Clara. Estar em casa não tinha preço. Seus dois corações, um animista e um humano, batiam acelerados quando recostou seu corpo no tronco muito espesso da Árvore do Portal e sentiu os ramos retorcerem engolindo-a sutilmente. Segundos depois pisou no solo puro do Vale.
O Vale do Portal era a maior comunidade animista do mundo e a mais respeitada também. Situava-se bem no meio da floresta amazônica e tudo dentro dele era de imensa perfeição.
Clara caminhava devagar para curtir toda a beleza estonteante do lugar onde nascera e de onde estava longe há tempos. As centenas de casas feitas de pedra talhada, os jardins bem cuidados, o lago de água cristalina. Flores de todos os tipos e uma paisagem linda de se ver. Algumas crianças saíram correndo anunciando em alto e bom tom que ela estava de volta.
Em geral, sentia-se bastante tímida diante da sua imagem pública, mas a felicidade de estar de volta era tão maior que a timidez não teve lugar para se apresentar naquele momento.
De longe avistou sua mãe correndo em sua direção e também saiu em disparada para abraçá-la. Seu pai estava logo atrás sorrindo.
-Deus do céu, não posso acreditar. – A voz chorosa da mãe era de imensa alegria.
-Hei mãe, não chore, por favor – Embora pedisse para que a mãe não chorasse, ela própria estava bastante emocionada.
Não sabia como tinha suportado estar longe por tanto tempo.
Em minutos um aglomerado de pessoas tinha se formado pra vê-la e davam-lhe as boas vindas. Muitas perguntas eram feitas ao mesmo tempo que saudações vinham de todos os lados e sua presença foi provocando uma pequena confusão que dificultava a passagem da menina.
Um pouco encabulada com tanta hospitalidade, a menina foi simpática, porém pôs-se a andar logo para casa abraçada a mãe e ao pai.
Protegida pelas paredes familiares da casa que passou toda sua infância, Clara finalmente teve privacidade para relaxar.
-Então veio para ficar conosco de vez?
-Não sei pai. Apenas vim. Era tempo de voltar. Mas não sei por quanto tempo.
-Conte-me tudo. O que tem feito, por onde andou. Queremos saber de tudo. - Disse a mãe eufórica.
Mesmo tendo mandado mensagens dos lugares que esteve através de outros animistas viajantes e de ter ligado na república onde funcionava a sede do IBAMA, cujos membros animistas, incluindo o pai, eram os principais líderes, a menina sabia que não tinha sido o suficiente para que eles não se preocupassem.
A noite foi longa, cheia dos relatos de suas aventuras e buscas por mitos, os pais não cansavam de ouvir, perguntar e a menina gostava de falar. O dia estava raiando quando o cansaço bateu e eles decidiram que tinham que dormir.
-Amanhã quero ver a Halina e o Nando.
-Eles estão passando um tempo na comunidade do Taiga.
-Não acredito, no Canadá? Poxa, estou morta de saudades deles. Talvez eu passe por lá em breve.
-Nem pensar em ir embora tão cedo. Eles estão muito bem. Nando quer conhecer todas as comunidades e ampliar seus conhecimentos. Ele está empenhado em se integrar mais e mais ao nosso mundo.
-Ele é um grande animista. Sem dúvida que é. – Clara pensou alto, lembrando-se do esforço do cunhado em buscar os meios de se tornar um animista para que pudesse ficar com sua irmã Halina.
Fora uma batalha sangrenta e da qual Clara participou com especial afinco. Os dias na Irlanda não tinham sido os melhores da sua vida, mas tudo tinha valido a pena. O mundo animista ganhou um guerreiro fabuloso e de grande valor.
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O CURUPIRA
Teen FictionRico olhou fixamente para sua maior inimiga no mundo, Clara Jordani, e intimamente ficou muito surpreso. Tinha ouvido falar o quão poderosa ela podia ser, mas não esperava que fosse tão jovem e estupidamente bonita como de fato era. Ele percorreu o...