Rico acordou, seu corpo estava mais da metade em cima do de Clara e ele sorriu. Olhou para a namorada dormindo, tirou os cabelos do rosto dela, se colocou sobre os cotovelos pra admirá-la.
Eles tinham tido a primeira noite de amor deles e nunca em sua vida o Curupira imaginou o quão incrível seria. Óbvio que ele já tinha pensado muitas vezes no assunto e estivera ansioso para que acontecesse logo, mas mesmo assim, tinha sido muito mais do que ele podia prever.
O rapaz pensou que o amor era um sentimento muito perigoso. Quando olhava para si, via alguém que faria qualquer coisa, e ele queria dizer, qualquer coisa mesmo por Clara.
Ele ficaria aos seus pés e renunciaria a todo seu mundo mítico com toda a fama que o cercava como o maior lendário do século para ficar com ela. Olhando-a em seu sono tranquilo ele tinha que admitir que somente ela, e ninguém mais, era a pessoa por quem ele morreria se fosse preciso.
Levantou-se com cuidado para não acordá-la e foi preparar o café-da-manhã pra ela. A animista era faminta, ele achava que isso devia ao seu apadrinhamento. Ele tinha se abastecido de algumas coisas das quais sabia que ela gostava de comer e enquanto preparava ela acordou.
Enrolou-se nos lençóis e veio ter com ele na cozinha. Rico respirou fundo quando a viu. Do jeito que estava, parada na soleira da porta segurando os panos que a cobria com as mãos enquanto o observava trabalhar, os cabelos ligeiramente desarrumados e o rosto sonolento era, pra ele, a visão de uma deusa.
Em poucos minutos já tinha preparado uma série de coisas e ambos sentaram-se para comerem juntos. Clara observou que o namorado nunca comia demasiadamente, enquanto que ela era uma devoradora.
Ele deu a volta na pequena mesa de centro e posicionou-se atrás dela. Sentou-se de forma que ela ficava entre suas pernas e tirou delicadamente o garfo da mão da menina.
-Deixa que eu faço isso.
O rapaz espetou um pedaço de melão do prato e levou à boca dela. Ela recostou sua cabeça no peito dele enquanto pensava em quão sensual era ele alimentando-a daquela forma tão carinhosa.
Ela se virou para olhá-lo. Ele tinha cortado um pouco os cabelos. Estavam repicados em camadas uns dois dedos abaixo do ombro. Os fios da franja comprida não paravam atrás da orelha e sempre escapavam um e outro que fazia com que ele pendesse a cabeça para tirá-lo dos olhos e esse era um gesto muito sedutor. Ele tinha cortado mais de um palmo e os fios ainda permaneciam compridos. Clara adorava a maciez e o tom de vermelho muito intenso porque contrastavam com a pele branca e deixavam os olhos dele ainda mais verdes. Eles sorriam um para o outro maliciosamente. As memórias da noite anterior rondando-lhes a mente. Estavam em êxtase com a presença tão íntima um com o outro. Ele colocou outro pedaço de fruta na boca dela e a menina aninhou-se a ele manhosa.
Rico adorava esse lado humano dela, quando se mostrava toda dependente do encantamento dele. Ela quebrou o silêncio.
-Sempre come tão pouco?
Ele assentiu.
-Não preciso de muito.
-Não se alimentam de comida lá na Quimera?
-Não.
A animista queria muito que ele superasse a barreira de falar sobre a Quimera e as coisas relacionadas a ela, mas ele era sempre muito restrito nesse assunto.
-Rico, acho que já pode falar pra mim sobre seu mundo sem se preocupar.
Ele a olhou pensativo. Não gostava de falar do seu mundo porque não era algo que Clara lidava bem, mas não queria desapontá-la.
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O CURUPIRA
Ficção AdolescenteRico olhou fixamente para sua maior inimiga no mundo, Clara Jordani, e intimamente ficou muito surpreso. Tinha ouvido falar o quão poderosa ela podia ser, mas não esperava que fosse tão jovem e estupidamente bonita como de fato era. Ele percorreu o...