Capítulo 11

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Quando retornou à mata naquela noite, bem mais tarde, Rico foi até os domínios da Árvore da Vida. Precisava muito falar com Clara, tinha urgência da presença dela. O dia tinha sido pesado para ambos e o Curupira sentia- se ansioso para saber que estava tudo bem com a menina.

Ele estava preocupado não com a segurança dela, pois ela era uma grande guerreira e seu povo bastante habilidoso, mas o rapaz havia percebido o seu comportamento durante o show de sedução entre ele e a sereia. E definitivamente ela parecia descontente. Maldita Alamoa.

Lembrou-se de como reagia quando a via com Joshua. Imaginou que ela podia ter se sentido daquela maneira, e não era um sentimento que ele gostasse de lidar. O Curupira sabia que diferente dele, a menina tinha um lado humano muito aflorado e ele embora nunca tivesse entendido muito bem, sabia que as sensações humanas eram intensas.

Rastreou toda a área tentando encontrar um deles. Alguém que pudesse pelo menos avisá-la de que ele queria vê-la. Rodeou por horas o local e já estava amanhecendo quando desistiu. Estava muito frustrado. Decidiu ficar pela mata e dormir um pouco. Pela manhã voltaria a tentar contato com ela.

Mas no dia seguinte não teve notícias e nem no outro. O nível de estresse dele com a ausência de notícias estava muito, muito alto. A república onde costumavam trabalhar para o IBAMA e para FUNAI estava fechada.

-Mas em que inferno de buraco eles se enfiaram?

A pergunta era dele para ele mesmo. Considerava estranho que nenhum deles estivesse correndo a mata por dois dias seguidos.

No terceiro dia, agachado sobre o forte galho de uma enorme árvore, a espreita de algum animista que pudesse aparecer, Rico viu a indiazinha Kiara. Saltou na frente da menina como um raio que cai em dia de tempestade. Ela soltou um grito assustada.

-Ah Curupira, você assustar Kiara.

A indiazinha tinha medo dele. Já o tinha visto em ação milhares de vezes e não era alguém para se tirar do sério, além de ter sido ela quem atirou nele uma flecha tempos atrás quando o rapaz lutava com Clara.

A índia esperava que ele não soubesse que tinha sido ela, porque não queria jamais ser o alvo da fúria dele.

-Preciso falar com a Clara. Onde ela está?

-Rico não saber? A menina Clara ser ferida durante o combate de três dias atrás. Muitos deles foram.

-O quê?

Nem toda a dor de todos os cortes que ainda ardiam em seu corpo em cicatrização, ou todas as outras que um dia tenha sentido podia se comparar com o impacto da informação que ele acabara de receber. Era a sensação de uma lança envenenada atravessando lhe o peito.

-Sim...ela foi...

-Como ela está? Me diz aonde ela está?

Kiara se espantou com a intensidade das emoções do mito. Ela sempre pensou que eles eram seres sem precedentes emocionais. Mas Rico estava claramente abalado com o que ela tinha dito a ele. Tentou suavizar a tensão.

-Ela estar melhor agora Rico. Foi de raspão. Ela estar no Vale.

-Merda, merda, merda de lugar. Eu não posso entrar lá. Droga.

Ele gritava e murmurava palavrões do mais baixo calão e andava de um lugar para outro. Kiara queria muito sair de perto dele, mas não achou boa idéia e permaneceu parada esperando ele se acalmar.

Tentando controlar o tom de voz, pois percebeu que a pequena Uaimiri estava assustada com ele, Rico perguntou quase que suavemente.

-Está muito ferida?

O CURUPIRAOnde histórias criam vida. Descubra agora