O CURUPIRA

Nova Era - Cap.26

Quando saiu do escritório alguns já tinham se recolhido e outros estavam vendo TV. Clara veio até ele e o puxou para seu antigo quarto. Ela fechou a porta e o guiou até a cama.

-Clara eu, tenho que te dizer a verdade.

-Não hoje. Joshua merecia saber o quanto antes, mas eu posso esperar.

Rico estava intimamente aliviado. A esposa continuou a falar.

- Eu sei que seja lá o que foi que aconteceu, foi grave e posso ver que você está arrependido e está empenhado a reverter. Isso me basta por hora.

Joshua tinha razão, ele não a merecia.

-Te amo. – Ele a beijou suavemente. – Eu te amo Clara e não te mereço. Não te mereço.

-Shzzzz. Você está esgotado. Precisa descansar.

-Como está meu bebê?

-Estava ansioso como eu, mas está calmo agora, acho que dormiu.

Rico deitou no colo da esposa e beijou a barriga dela. A moça sentiu toda sua vulnerabilidade nesse gesto e soube que precisaria se preparar psicologicamente para enfrentar com maturidade a confissão do marido quando ela viesse. Ela queria ter Luara de volta primeiro porque achava que poderia suavizar o impacto da ação.

Por hora ela acariciou os cabelos dele e o viu adormecer tão rápido como nunca tinha visto. Era provável que Rico estivesse mais de uma semana sem dormir. Ela ficou ali. Acordada e olhando pra ele.

Era tão incrivelmente lindo dormindo. Parecia mais jovem e menos temperamental. Era como um garotinho indefeso. Ela e Rico iam precisar estabelecer limites toleráveis de atitudes entre os dois mundos porque não ia dar pra ele continuar reagindo desvairadamente aos assuntos que eram contrários a sua vontade.

O marido ia ter que aprender a respeitar o espaço de todos a sua volta e a aceitar os "nãos" que ia receber ao longo da vida. A situação com Luara foi extrema e não dava para se repetir, nem com ela, nem com ninguém.

Mas a menina ia esperar o momento certo para estabelecer essas regras, assim que Luara voltasse e antes de Lekan nascer.

Rico e Joshua estavam de frente com o lago da vitória-régia. O lince ouvia as instruções com muita atenção.

-Tudo sobre a Quimera tem a ver com a mente. Tem que mentalizar a entrada para enxergá-la.

-Mas estou com você, não pode abri-la simplesmente?

-Não. Se eu mentalizar e você não, ele se fecha e você é arremessado pra fora.

-Como vou saber o que fazer se não tenho a mínima idéia de como é?

- Vai ver uma porta bem grande se abrindo pra mim. Imagine que ela está se abrindo pra você. Será suficiente.

Joshua concordou e entrou no lago. Eles emergiram juntos e foi incrível porque o lago se transformou em um caminho de luz e a água não o molhava ou se sentia afogando, era como uma trilha submersa. Rico era muito veloz e o Lince ficou um pouco pra trás.

Ele viu uma porta se materializar e abrir e ela estava fechando quando ele usou a mente para mantê-la aberta. Eles entraram e a porta sumiu.

O lince parou bem atrás de Rico e sentiu o corpo animal querer emergir. Foi rápido em refrear o instinto, mas ali dentro tinha que se esforçar muito. Sua pelagem ia e vinha a toda hora.

-Está tudo bem?

-Sim.

-Vamos direto para a câmera de Luara. Não se distraia pelo caminho porque sua mente não está acostumada a manter a estabilidade do local. Se não se concentrar vai se ver no fundo do lago e terá que nadar até a margem e recomeçar. Eu materializo o ambiente e você o mantém em sua mente.