Capítulo 22

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-Há um mês que você mal põe os pés para fora do Vale.

-Eu tenho medo ... de me encontrar com ele.

-Clara, filha...você tem que enfrentar isso de frente. Uma hora vai se esbarrar com ele aqui na mata e ai? Vai sair correndo?

-Acho que vou.

A mãe bufou indignada.

-De jeito nenhum. Vai mostrar a ele que você nem pensa mais nele.

-Mas isso não é verdade mãe.

-Tem que se esforçar.

-Eu sei. Acha que não me esforço? Acha que eu não quero superar? Acredite, eu quero. Mas não é tão fácil quanto parece.

-Tudo bem. Me diz uma coisa. Você conseguiu bloquear a conexão ou ainda sente as reações dele?

A menina pensou em falar a verdade para a mãe, mas desistiu. Ela não entenderia, na verdade ninguém entenderia que não dependia da vontade dela. Pelo o que Clara podia entender nesse um mês de isolamento, Rico tinha o comando da situação o tempo todo. Ela podia sentir o que ele queria que ela sentisse e na maioria das vezes era fúria, rancor e irritação.

Nunca ela tinha percebido saudade, amor ou arrependimento nas emoções dele e era isso talvez que a deixava mais e mais arruinada.

-Não mãe. Não sinto mais nada. A conexão se foi.

-Graças a Deus. Agora vai se arrumar pra ir ao evento com seus amigos.

-Mãe, eu não vou a lugar algum.

-Por favor, vai te fazer bem e Joshua ia ficar feliz. Ele tem sentido sua falta nas atividades aqui da comunidade. Todos têm.

Clara achou que seria pior ficar. A mãe ia ficar lhe aporrinhando as idéias e não a deixaria em paz. Se fosse, pelo menos podia se isolar em um canto e ficar imersa nos seus pensamentos sem ninguém para atrapalhar.

Joshua mal acreditou quando viu a amiga chegando para acompanhá-los. Se adiantou para abraçá-la.

-Bem-vinda de volta à vida.

-Não enche Jos. - Ela respondeu mal-educada, mas sorriu agradecida.

Nenhum dos outros presentes fez nenhum comentário desnecessário, mas mostraram-se felizes por vê-la de volta.

O evento estava lotado e a maioria dos presentes era jovens entre quinze e vinte e cinco anos. Os animistas se espalharam para fazer a segurança da festa, mas sabiam que era muito pouco provável alguma ocorrência que não fosse bebedeiras e pequenas discussões entre desconhecidos. E esses assuntos eles deixavam para a polícia local resolver.

Joshua resolveu fazer companhia a amiga, embora Clara tivesse preferido ficar sozinha. Ela estava muito calada, não tinha ânimo para bater papo.

O lince respeitava o silêncio da animista ficando ao seu lado sem tentar puxar assuntos que sabia não ser do interesse dela no momento.

Já passava das duas horas de festa quando Clara decidiu comprar alguma coisa para matar a sede.

-Deixa que eu vou.- Ofereceu o amigo - O que quer beber?

-Água mesmo.

Jos saiu para comprar a água da menina e Clara passou os olhos pelo recinto. Sentiu que os dois corações iam sair bela boca. Ele estava ali. Bem diante dela. Do outro lado, fitando seu rosto atordoado.

Olharam-se de relance e passado o primeiro impacto, ambos controlaram suas emoções e evitaram se encarar.

Rico tinha adotado uma postura ímpia em relação à ela, a menina por sua essência caridosa, não conseguiu fazer o mesmo. Inconscientemente seus olhos voltavam para a imagem dele ainda que ela não quisesse olhar. O pulso ardia em reconhecimento.

O CURUPIRAOnde histórias criam vida. Descubra agora