Clara virou os olhos contrariada mas seguiu o amigo. Lá fora a noite já descia sobre o entardecer e a luz dos angras iluminava lindamente o local. Os amigos caminharam juntos e conforme iam andando novas esferas surgiam guiando-lhes para que não se desviassem da demarcação que os levaria ao Vale.
-Ele realmente faz valer a vontade dele.
Joshua provocou a amiga e ela teve que concordar.
-Eu sei o que ele fez hoje. Quis me mostrar que seria melhor ter optado por ficar com ele na casa da árvore.
Joshua achou que era exatamente isso. Olhou para a amiga e sentiu compaixão. O Curupira era muito apaixonado por Clara e excessivamente emocional no que dizia respeito a ela. O problema era que agia seguindo seus instintos o que complicava as coisas na maioria das vezes. Desde que começaram a se relacionar, a menina conseguiu muito dele, mas o rapaz tinha um gênio do cão e nem sempre era fácil de se domar.
Chegaram ao Vale e no momento em que a árvore se abriu ela viu os angras se acomodarem entre as copas e troncos e por sobre a imensa raiz que sobressaia ao solo. Ela soube que estariam dia e noite no encalço dela e pensou que seria muito melhor se estivesse dormindo nos braços do seu amor ao invés de ficar trancafiada dentro da comunidade. A menina murmurou pra si mesma.
-Grandessíssima idiota você foi hoje Clara Jordani.
Uma semana depois do ocorrido na república e Rico ainda não tinha aparecido para falar com ela. Joshua começara a suspeitar que o mito tinha sido mais afetado pela recusa da namorada em ficar com ele do que podiam imaginar.
Os novos animistas corriam a mata duas vezes por dia e não tinha visto sinal dele em nenhum lugar. Davi tinha partido com os anciões para Manaus a fim de rastrear Tibor e Joshua era o encarregado geral da Casa Colonial em sua ausência. Ele estava muito atarefado e não teve tempo para conversar com a amiga, mas podia ver nela um abatimento propício de quem se arrependeu do que fez.
No final da tarde da sexta-feira Luara apareceu na república. Jos sorriu ao vê-la. Parecia uma eternidade desde que estiveram juntos pela última vez em Salt Lake e não fazia mais que alguns meses.
Tales, o garoto-bison, e Léo, o garanhão, ficaram embasbacados com a beleza exótica da moça que era na verdade cópia fiel e feminina do irmão. Os meninos esforçaram-se bem mais para reter o corpo animal diante dela do que tinham feito com o Curupira. Jos achou graça da reação deles ,mas concordou que os garotos tinham razão o suficiente em estarem abobalhados diante dela.
Mesmo ele, tinha que admitir que ficava às vezes. Joshua via que Rico causava comoção nas mulheres com seu cabelo comprido e sua pele aveludada, mas a irmã era de parar o trânsito e o lince achou péssimo ela não ter a mesma porcentagem humana que o irmão. Seria muito bom se ela fosse mais acessível.
Surpreso com o rumo que seus pensamentos tomaram em relação à moça, Jos se aproximou para recebê-la.
-Como vai Luara?
-Bem. Rico quer saber como estão as coisas em relação ao caso do jaguar.
Clara apareceu diante dela indignada ao ouvir o que a curupira tinha dito.
-Ele te mandou aqui pra saber sobre o Tibor?
-Mandou.
-Pois diga ao seu irmão que se ele quer saber qualquer coisa sobre isso que venha ele mesmo até aqui.
-Ele não pode vir.
-Azar o dele, pois a senhorita-garota-de-recados não vai levar nada de volta.
Luara estava, assim como todos ali, surpresa com a agressividade da cunhada que sempre se mostrava muito educada e complacente. Clara se virou e antes de voltar para a biblioteca foi bem explícita ao dizer.
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O CURUPIRA
Novela JuvenilRico olhou fixamente para sua maior inimiga no mundo, Clara Jordani, e intimamente ficou muito surpreso. Tinha ouvido falar o quão poderosa ela podia ser, mas não esperava que fosse tão jovem e estupidamente bonita como de fato era. Ele percorreu o...