Naquela tarde o Dr. Demétrio mostrou o garotinho já todo formado para a menina. Ela queria muito que Rico pudesse entrar e ver o filho se mexendo e remexendo dentro dela. Quando a menina cogitou a possibilidade dele ir à casa da árvore para auxiliá-la no parto, o jovem senhor sorriu amável.
-E quem vai dizer não ao Curupira?
Ela sorriu pensando que a fama do marido era mesmo de arrepiar. Mas o médico não pareceu aborrecido, apenas pediu que ele mantivesse algumas coisas na casa para uma emergência.
-Emergência?
-Sim. Algumas crianças podem adiantar o nascimento, então peça para ele ter todas essas coisas em abundância e tudo correrá bem.
Clara olhou a lista do médico e concordou. Estava quase lá. Em pouco tempo veria o rostinho do seu reizinho e então teria outras preocupações, mas por enquanto ela estava apreensiva com a dor do parto. Todo mundo dizia que era muito forte.
-Vai doer muito?
O médico riu e foi honesto.
-Muito. Não usamos anestesias em parto natural e sem problemas, apenas em casos extremos. Nossos apadrinhadores agradecem.
Ela sorriu amarela e ele terminou a consulta.
Mais tarde na república Clara ficou pensando sobre o quão doido ia ser colocar o filho pra fora. Ela já tinha visto alguns filmes, mas as cem por cento humanas tinham recursos que os animistas dispensavam. A menina pensou que seria muito bom poder usufruir de algumas dessas coisas evoluídas que tiravam a dor, como a anestesia por exemplo.
Na hora do café da tarde Rico apareceu e perguntou pra ela sobre a visita ao médico.
-Foi boa.
Ele a olhou com receio.
-Está tudo bem com Lekan?
-Sim.
-Parece nervosa.
Os outros garotos também acharam isso, mas respeitaram o silêncio dela. Agora que sabiam que ela tinha ido ao médico ficaram preocupados. O menino falcão a incentivou falar.
-Somos todos seus irmãos aqui. O que está te incomodando?
Joshua chegou próximo da grande mesa e Luara estava com ele. Ela cumprimentou o irmão um pouco receosa e ele apenas mexeu a cabeça de volta.
O mito não estava familiarizado com essa nova irmã, independente e feliz longe dele e da Quimera. Voltou sua atenção à esposa.
-É que nunca tinha pensado no momento do parto e doutor Demétrio disse que vai doer muito.
-Doer?
Rico ficou agitado. E os rapazes riram do casal. Finn era um dos mais velhos e falou descontraído.
-Em que mundo vocês vivem? Nunca viram uma mulher dar a luz?
O Curupira respondeu primeiro.
-Não. Os lendários da minha espécie só conhecem seus filhos aos cinco anos de idade. E meu contato com o mundo humano foi bastante restrito como sabem. Como ia adivinhar que o processo era doloroso?
-Eu já assisti em filmes e tudo o mais...Só que eu vi Lekan hoje, ele está grande e ainda vai crescer mais...como vou conseguir?
-Viu Lekan? Consegue ver como ele é?
-Sim. A imagem não é tão nítida, mas ele está todo perfeitinho.
O mito sorriu imaginando e foi bem nesse momento que Joshua e todos os outros tiveram a certeza que o instinto paternal tinha chegado para Rico. Era nítido pela forma que sua expressão se suavizou e pela maneira que olhou para Clara.
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O CURUPIRA
Teen FictionRico olhou fixamente para sua maior inimiga no mundo, Clara Jordani, e intimamente ficou muito surpreso. Tinha ouvido falar o quão poderosa ela podia ser, mas não esperava que fosse tão jovem e estupidamente bonita como de fato era. Ele percorreu o...