Dois dias depois os animistas foram avisados que era chegada a hora. As fontes haviam se esgotado e havia um cadáver recém-enterrado no cemitério. Os animistas esperavam do lado de fora para que o Bradador não os sentisse antes da hora exata.
Clara olhava ansiosa para ver se via Rico em algum lugar, mas ele não aparecia. Luara se materializou próximo deles e não se deu ao trabalho de olhar para ela. A amiga índia estava ao seu lado e organizava os arcos e flechas, havia aproximadamente quarenta deles espalhados pelo chão.-Precisa de ajuda Kiara?
-Ah, está tudo bem Clara. Kiara vai terminar de arrumar em poucos minutos.
-Você viu o Rico?
-Vi sim. Falei com ele na floresta pouco antes de chegar a república.
-Ele estava na floresta? Hoje?
-Sim. – A amiga olhou para ela e perguntou casualmente – Está tudo bem?
Clara apenas acenou e concluiu que ele estava evitando encontrá-la. A menina decidiu que ia fazer a melhor luta de todos os tempos para provar a ele que seu instinto animal estava perfeitamente bem e que a ônix nascera nela como prova de seu amor leal e não para transformá-la em uma curupira sem coração.
Rico apareceu e dirigiu-se a todos em geral.
-Ele estará aqui em no máximo dez minutos. Eu cuido dele. As fontes surgirão dos túmulos. Devem atraí-los para a parte de trás do cemitério, próximo ao bosque. Luara erguerá a muralha de fogo através das heras que tem naquela região. Vamos costurá-la e depois teremos que puxá-la. Kiara, você fique sempre próximo das árvores para conseguir a melhor localização entre elas no momento de acertá-los com as flechas.
-Quando devemos entrar?
-Quando eu e ele estivermos lutando porque será o momento em que as fontes tentarão protegê-lo do ataque. Ele não poderá sentir a presença de vocês e será tarde para recuar.
Em momento algum ele olhou em direção à menina. Joshua observava o rosto pálido e triste da amiga e passou os braços por seus ombros em sinal de apoio.
-Vai ficar tudo bem. Ele está preocupado com o Bradador no momento. Será uma batalha difícil, você sabe.
Clara assentiu porque não era capaz de falar. Se tentasse pronunciar uma palavra sequer começaria a chorar e ela não queria provocar uma cena naquele momento. Joshua segurou o pulso e passou a mão pela pequena cicatriz já seca e curada.
-Tá se sentindo bem?
-Eu estou bem. A dor que eu sinto é em outro lugar.
Joshua sentiu repulsa pelo Curupira. Achava que ele devia ter tido mais consideração com os sentimentos de Clara. Ignorar a presença dela não resolveria os problemas deles e só faria a menina sofrer.
Despercebido de atenção Rico observava Joshua com os braços em volta de Clara e o carinho que ele fazia alisando o pulso da menina.
O Curupira achou que não ia se controlar ao vê-los assim, como se fossem um casal de namorados. A menina estava triste e ele podia lhe sentir a tristeza pela ligação que eles tinham agora.
Rico percebeu que Clara não tinha se dado conta do quão conectados eles estavam, mas ele, como líder absoluto da prole já enxergava os primeiros sinais de condicionamento mental e corporal vindos da ônix da menina. O Curupira voltou a olhar os dois animistas e achou que o lince idiota estava fazendo de propósito, tocando-a deliberadamente para provocá-lo.
No momento em que o mito se virou para ir até lá e reivindicar sua namorada de volta e mandar o lince à merda, ele sentiu as vibrações do Bradador. Tinha que se concentrar. Cuidaria disso depois.
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O CURUPIRA
Ficção AdolescenteRico olhou fixamente para sua maior inimiga no mundo, Clara Jordani, e intimamente ficou muito surpreso. Tinha ouvido falar o quão poderosa ela podia ser, mas não esperava que fosse tão jovem e estupidamente bonita como de fato era. Ele percorreu o...