-Por Deus Rico, você foi aceito pelas forças superiores...
-O que é isso?
-Nossa força animal que comanda o povo animista.
-Como sabe?
-Porque o portal só se abre para um animista. É como se fosse um de nós.
Vem comigo.
Joshua o levou para a casa de Davi. Clara levou um susto ao vê-lo ali dentro.
-Rico, Jesus, aconteceu alguma coisa?
-Eu...não...Só que o portal se abriu pra mim.
-Como assim?
-Não sei. Me encostei no tronco da árvore e ela me puxou pra dentro.
Sofia e Davi arregalaram os olhos incrédulos. A notícia correu como um tiro de bala dentro do Vale e em meia hora havia um tanto considerável de pessoas ali dentro.
Paulo e Lottero chegaram logo. O ancião mais velho perguntou como Rico se sentia.
-Normal. Não me sinto mal em nada.
O homem pensou um pouco.
-Foram os votos. Só pode ser.
Davi e todos os outros queriam entender melhor.
-Como assim?
-Quando Rico fez o voto de fidelidade eterna aos nossos princípios o guepardo de Clara o saudou como um igual. Ele foi realmente tomado como um de nós por isso o portal o reconheceu.
Finn tinha uma dúvida que não era apenas dele.
-Mas porque só agora? Quase um ano depois?
-Não foi apenas agora. Por certo ele seria reconhecido no momento seguinte aos votos, mas não aconteceu porque Rico nunca mais tentou entrar.
Clara abraçou o marido e mal podia conter sua felicidade. Sem mais reclamações sobre o Vale e o fato dele não poder frequentá-lo.
Joshua pensou alto.
-Vou fazer os meus votos com Luara assim que o combate estiver finalizado.
-Ela vai ficar feliz de poder vir morar no Vale.
Rico bufou indignado.
-Você disse que ia construir no quintal da Casa da Árvore.
Todo mundo olhou para os dois. Era isso mesmo? Rico queria Joshua e Luara por perto?
-Eu sei, mas isso foi antes de saber que ela podia vir morar aqui um dia. Sabe que essa sempre foi a vontade dela.
Sofia falou sonhadora.
-Você e Clara poderiam vir morar aqui Rico. Lekan cresceria no Vale junto de nós.
O Curupira ficou em silêncio. Estava muito feliz por ter acesso livre à comunidade, mas vir morar dentro dela era outra história. Tinha sua Quimera para cuidar e todo o seu domínio ficava visível da Casa da Árvore, sua prole e seus angras eram livres para ir e vir da sua casa. No Vale não seria assim. Clara compreendeu que não era um assunto fácil de se resolver e interveio na situação.
-Luara não tem as mesmas responsabilidades que Rico na Quimera mãe.
Morar aqui dificultaria muito, mas estou feliz que ele possa entrar sem restrições. Muito feliz.
Ela beijou o marido e ele se sentiu aliviado pela compreensão dela. Rico pegou o filho no colo e Davi fez uma proposta tentadora.
-Porque não nos reunimos na praça central para uma pequena celebração?
Os garotos mais jovens ficaram entusiasmados.
-Isso mesmo. Foi uma semana árdua e é a primeira vez que o Curupira adentra o Vale como um dos nossos. Vamos comemorar.
Joshua se aproximou.
-Consegue alcançar os pensamentos de Luara?
-Não daqui.
Rico pensou na irmã que tinha ficado do lado de fora. Sabia o que era esperar sem notícias.
-Vou até ela explicar o que aconteceu. Volto mais tarde para festejar com vocês.
Rico gostou da receptividade. Essa era sem dúvida sua família agora e ele inacreditavelmente estava mais e mais ligados à eles. Ele foi andando com o filho no colo pelas ruas da comunidade. As duas vezes anteriores que esteve ali não tinha tido a oportunidade de observar. O lugar era belíssimo e ricamente natural. Alguns curiosos se aproximavam dele querendo vê-lo de perto. Outros ainda tinham um pouco de medo e observavam de longe. Foi uma grande farra que durou muito tempo. Os animistas gostavam de festa e de estarem reunidos e Rico gostava de estar entre eles.
Lekan passou por muitos colos e Rico não o perdia de vista.
-Relaxa. Ninguém aqui fará mal a ele.
-Sei que não. Mas ele pode estar cansado. Devíamos ir.
-Tudo bem, eu vou busca-lo.
Quinze minutos depois Rico e Clara estavam passando pelo portal. O mito ainda não tinha habilidade para se manter firme diante da torção e assim como tinha sido anteriormente, ele caiu no chão como se tivesse sido cuspido pelo tronco.
Clara riu e Rico se levantou xingando.
-Merda...
Assim que ele olhou ao redor seus olhos se acenderam e ele se colocou protetoramente diante de Clara e Lekan. A menina também sentiu o perigo emanando do local e seu corpo animal emergiu. O local estava com resquícios de luta. Árvores derrubadas e pequenos focos de incêndio. O chão tinha marcas de corpos que bateram em lugares diferentes em uma luta corporal. Seja o que for que aconteceu ali, tinha sido violento.
Os olhos acesos do Curupira rastrearam o lugar e ele deu uma ordem baixa para a animista.
-Volte para o Vale e deixe Lekan em segurança com seus pais. Chame os
garotos.
Ela não discutiu. Voltou para o Vale e Rico chamou Luara por pensamento. A menina não respondeu de imediato. Ele tentou Timóteo e o rapaz apareceu num rastro de fogo por entre as árvores.
-Chamou Rico?
-Onde está Luara?
-Não a vejo desde a tarde depois do treinamento.
O portal se abriu e todos os animistas envolvidos no grupo de combate saíram apressados.
-O que foi Rico?
-Olhem ao redor. Houve uma briga por aqui.
Clara chegou até Rico.
-Onde está Joshua?
-Ele me disse que vinha falar com Luara e que voltava para a festa mais tarde.
Cheh e Finn se entreolharam.
-Ele não voltou.
Rico tentou outro contato com Luara e nada. O mito materializou um angra de deu ordens para que as esferas varressem a área atrás da irmã, em seguida falou com Timóteo.
-Tente encontrar Luara. Tem alguma coisa de errado com ela e com o lince.
Os animistas se agitaram. O corcel irlandês sugeriu que eles se separassem para fazer uma busca.
-Joshua estava na mira da sociedade. Pode ser que tenham conseguido pegá-lo. Vamos dividir os grupos.
Clara puxou o ar nervosamente e Rico a abraçou. Timóteo mandou um pedido de socorro ao líder e a direção que estava.
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O CURUPIRA
Novela JuvenilRico olhou fixamente para sua maior inimiga no mundo, Clara Jordani, e intimamente ficou muito surpreso. Tinha ouvido falar o quão poderosa ela podia ser, mas não esperava que fosse tão jovem e estupidamente bonita como de fato era. Ele percorreu o...