Capítulo 23

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Clara estava atrasada para a aula, a menina saiu correndo sem tomar o café da manhã. Sua host mother ainda tentou fazer com que ela levasse um lanche para comer pelo caminho, mas a menina saiu apressada. Pegou a bicicleta na garagem e pedalou velozmente pelas avenidas secundárias para evitar o trânsito.

Era o dia do teste final do semestre de inverno e o único que a menina não podia chegar atrasada. Eles eram muito rigorosos na escola e Clara muito disciplinada. Ela mal podia acreditar que já tinha se passado três meses desde que chegara à cidade de Salt Lake nos Estados Unidos.

De início, os pais acharam a escolha estranha. Prefeririam que ela fosse para a Flórida, Nova Iorque ou para um desses lugares cinematograficamente famosos, mas Clara preferiu ir para o oeste. Utah tinha fama pelas belezas naturais, era uma cidade linda e a menina simpatizou-se de cara com a escola.

Desde que chegara ela tinha feito poucos amigos, vivia exclusivamente para os estudos. Tentara não pensar no Brasil e no que tinha deixado para trás, exceto é claro por seus pais e Joshua com quem sempre conversava pela internet ou por telefone.

Sua host Family era bastante agradável e faziam de tudo para que ela se ambientasse à nova vida.

Era um casal de senhores cujos filhos já eram casados e que resolveram receber estudantes em sua casa para aumentar a renda e ter alguma companhia. Clara adorava conversar com eles que eram sempre muito gentis e prestativos.

A menina finalizaria seu semestre em Junho, mas talvez fizesse ainda um curso de verão, estendendo sua estada na cidade até agosto. Clara não queria admitir que tinha medo de voltar ao Brasil porque seus sentimentos em nada mudara.

Não havia um só dia em que não fosse dormir pensando nele ou que não acordasse no dia seguinte desejando vê-lo nem que fosse por um único minuto. Ele tinha feito aniversário naquela semana e isso mexeu demais com as emoções dela. Por mais que estava se esforçando muito mesmo para deixar essa parte da sua vida para trás não conseguia completamente. Era como se soubesse que ele estava trancado em um porão velho que ninguém nunca entrava e ela tivesse ficado do lado de fora.

Ela sabia que a porta jamais se abriria, mas que ele estaria ali dentro para sempre.

Depois das aulas o pessoal ia se encontrar na lanchonete da escola.

Clara normalmente ia embora, mas dessa vez sua amiga de sala Amy não tinha deixado e para ser sincera ela estava faminta. A animista perdeu uma hora ali, conversando e tomando lanche. Os amigos americanos achavam o máximo ela ter vindo de Manaus e tudo que eles sabiam do Amazonas era que a floresta era uma das maiores do mundo e que nela habitava a Anaconda.

Clara ria muito com as informações limitadas que eles tinham do Brasil e da fauna brasileira. Ela gostava de falar do país dela, mas preferia ouvir as histórias deles. Falar do Brasil era doloroso, falar da floresta era quase insuportável.

A menina estava juntando as coisas para voltar pra casa. Tinha combinado de ir ao mercado com Elizabeth, sua hospedeira, e não queria deixá-la esperando.

Jogou a mochila nas costas e já descia as escadas que dava para o estacionamento de bicicletas quando alguém chamou a atenção da menina.

-Eu não estou acreditando no que estou vendo. Clara Jordani estudando em Salt Lake?

Ela virou-se assustada e mal pôde acreditar. Tibor, o Jaguar, estava bem de frente com ela.

-Nossa. Tibor. O que faz aqui?

-Eu que te pergunto. Eu sou daqui. Esqueceu?

De fato, Clara mal se lembrava dele quanto mais do lugar de onde ele vinha. Depois da última vez que ele havia provocado Rico, na Casa Colonial, os líderes tinham decidido que era hora dele voltar pra casa e a menina nunca mais ouviu falar do rapaz.

O CURUPIRAOnde histórias criam vida. Descubra agora