Capítulo 7

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No dia seguinte, Clara saiu sozinha conforme tinha prometido ao mito. Caminhava tranquila quando foi sobressaltada pela presença dele vinda de algum lugar.

No instante seguinte ele desamarrou uma camiseta que estava no cós traseiro da calça e a colocou rapidamente.

Vestido assim era a imagem perfeita de um rapaz comum. Ela o observou de soslaio. Ele era bem bonito mesmo. A pele aveludada e os olhos quando não estavam iluminados pela luz prata da fúria eram de um verde metálico quase vítreo, nariz reto e fino, cílios longos e uma boca perfeitamente desenhada.

Clara tinha um metro e setenta de altura e ele era por certo uns quinze centímetros mais alto que ela, uma contrariedade já que pela lenda o curupira tem baixa estatura.

-Por que carrega sempre uma camiseta pendurada?

-Porque elas são consumidas pelo calor do meu corpo quando ...-Ele hesitou. -...sou todo curupira.

- As calças são mais resistentes?

-Minhas pernas não se aquecem tanto. O meu peito está próximo do calor do meu cabelo.

-Seu cabelo é poderoso. A temperatura dele é constante?

-Não. Apenas quando estou bravo ou em batalha.

-O que quer dizer, quase sempre.

Ele riu com a observação dela e percebeu que a menina era bastante observadora.

- É como Sansão? Digo, se cortar os cabelos perde seu poder de fogo?

Ele ficou mudo. A questão era que tanto ela quanto ele tinham seus segredos para guardar. Já tinham tido problemas anteriormente com isso. Os mundos se confrontavam e revelar a ela seus pontos fracos poderia ser como entregar as cartas ao inimigo.

Clara percebeu que tinha perguntado demais e se desculpou.

-Ah Rico, desculpa. Foi ...sem querer. Não tive intenção.

-Tudo bem. Quanto à sua pergunta, a resposta é não. Não é assim que funciona.

O cabelo não era seu ponto fraco. Ao contrário, era seu ponto forte. Portanto podia responder sem problemas e o fez, mas não queria continuar com esse assunto, então mudou o enredo da conversa.

-Já leu todos os seus livros sobre as lendas da Amazônia?

-Quase. Tenho dispensado poucas horas para a leitura.

-Por quê? Tem perdido muito tempo ensinando ao lince como se portar? – Ele provocou. – Devia então se dedicar mais a leitura, teria um resultado melhor.

Ela riu. Ao contrário de Joshua, Rico não era fácil de levar. A menina duvidava que um dia ele pudesse esquecer o ocorrido.

-Não devia guardar rancor. Foi uma situação infeliz. Jos até já esqueceu o ocorrido.

-Jos?

-Ah, Joshua, o lince.

-Sei quem é.

O que ela não sabia era que tê-lo chamado pelo apelido causou no mito aquele mesmo desconforto do dia anterior quando ele presenciou o excesso de preocupação da menina para com o amigo.

Rico entendia que apelidos carinhosos era sinal de intimidade e ele não gostou de saber que o lince e a animista tinham se aproximado tanto.

Andavam paralelos um ao outro, mantendo a distância necessária. Curiosamente passaram pelo lugar onde a briga entre os rapazes tinha acontecido. Rico olhou a poça de lama e depois olhou para a menina.

O CURUPIRAOnde histórias criam vida. Descubra agora