O Curupira narrou tudo com conhecimento trivial, mas os animistas retraíram seus rostos em agonia diante das consequências. O mito estava penalizado em saber que o filho sentiu dor.
-Porque demorou tanto?
-Estive observando o acampamento dos bastardos.
O pessoal da sala ficou muito curioso e quis saber mais.
-Me deem um minuto e já falamos sobre isso.
Rico caminhou para o escritório e Clara o seguiu. Assim que fechou a porta ele olhou para ela carrancudo.
-Não disse que ia ficar no Vale? O que faz aqui?
-Lekan chorou metade da noite e a manhã toda. Pensei que ele estava sendo afetado por estar na comunidade.
-E então teve a idéia insana de andar com ele pela floresta sozinha?
-Não andei com ele sozinha. Meu pai e Jos estavam comigo.
-Grande coisa. Como se pudessem se safar de um ataque do Bear Lake ou do Bradador ou talvez dos dois ao mesmo tempo. Perdeu o juízo?
-Rico...é que...
-Não me venha com desculpas Clara. É por isso que não quero meu filho fora da casa da árvore.
Clara estava visivelmente surpresa com a reação dele. Antes que pudesse esboçar qualquer opinião ele continuou.
-Está proibida de sair sozinha por ai com ele, está me ouvindo?
-Que absurdo é esse?
-É isso mesmo que ouviu. Não é mais para andar com Lekan pela floresta sem meu consentimento.
-Você deve estar brincando. Eu sou mãe dele Rico, MÃE. Não me imponha regras sobre o meu próprio filho.
-Uma mãe irresponsável pelo que pude perceber já que não se importou com os riscos que ele estava correndo. Fica com ele sozinha uma única vez e o que faz? Expõe o menino ao perigo.
A animista ficou pálida e muito magoada com o que ele tinha acabado de dizer. Tentou argumentar, mas Rico estava muito alterado embora sua voz estivesse relativamente baixa em consideração ao bebê que dormia em seu peito.
-Está sendo injusto comigo.
O Curupira olhou para ela raivoso. Nada do que a menina dissesse o acalmaria naquele momento e a animista tentou não chorar embora as lágrimas ardessem seus olhos. Uma noite toda acordada e preocupada com o filho. Uma manhã longa e angustiante esperando um milagre acontecer para que o bebê se acalmasse e para finalizar uma repreensão injusta e desmedida do marido que ainda a classificava como uma mãe irresponsável.
Rico podia ver a mágoa nos olhos da esposa e já tinha se arrependido de ter sido tão duro com ela. Mas saber que o filho podia ter sido vítima dos lunáticos da sociedade o deixava insano. Clara precisava entender que não estavam em tempos de paz. Não podiam facilitar as coisas para os inimigos. Andar pela mata com o menino tinha sido de uma estupidez sem fim.
Ele não gostava de chateá-la, mas se a mulher não enxergasse a imensidão do perigo que envolvia o filho deles e mesmo ela, então ele teria que tomar medidas austeras ainda que isso afetasse seus sentimentos.
Davi bateu na porta e entrou sem esperar consentimento.
-Está tudo bem por aqui?
Clara não olhou para o pai. Não queria dar nenhuma explicação no momento. Rico falou pelos dois.
-Sim. Estou levando Clara e Lekan para a casa da árvore e volto para contar o que eu vi no acampamento.
A animista mais uma vez ficou surpresa pela decisão dele.
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O CURUPIRA
Teen FictionRico olhou fixamente para sua maior inimiga no mundo, Clara Jordani, e intimamente ficou muito surpreso. Tinha ouvido falar o quão poderosa ela podia ser, mas não esperava que fosse tão jovem e estupidamente bonita como de fato era. Ele percorreu o...