Nova Era - Cap.38

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O Curupira narrou tudo com conhecimento trivial, mas os animistas retraíram seus rostos em agonia diante das consequências. O mito estava penalizado em saber que o filho sentiu dor.

-Porque demorou tanto?

-Estive observando o acampamento dos bastardos.

O pessoal da sala ficou muito curioso e quis saber mais.

-Me deem um minuto e já falamos sobre isso.

Rico caminhou para o escritório e Clara o seguiu. Assim que fechou a porta ele olhou para ela carrancudo.

-Não disse que ia ficar no Vale? O que faz aqui?

-Lekan chorou metade da noite e a manhã toda. Pensei que ele estava sendo afetado por estar na comunidade.

-E então teve a idéia insana de andar com ele pela floresta sozinha?

-Não andei com ele sozinha. Meu pai e Jos estavam comigo.

-Grande coisa. Como se pudessem se safar de um ataque do Bear Lake ou do Bradador ou talvez dos dois ao mesmo tempo. Perdeu o juízo?

-Rico...é que...

-Não me venha com desculpas Clara. É por isso que não quero meu filho fora da casa da árvore.

Clara estava visivelmente surpresa com a reação dele. Antes que pudesse esboçar qualquer opinião ele continuou.

-Está proibida de sair sozinha por ai com ele, está me ouvindo?

-Que absurdo é esse?

-É isso mesmo que ouviu. Não é mais para andar com Lekan pela floresta sem meu consentimento.

-Você deve estar brincando. Eu sou mãe dele Rico, MÃE. Não me imponha regras sobre o meu próprio filho.

-Uma mãe irresponsável pelo que pude perceber já que não se importou com os riscos que ele estava correndo. Fica com ele sozinha uma única vez e o que faz? Expõe o menino ao perigo.

A animista ficou pálida e muito magoada com o que ele tinha acabado de dizer. Tentou argumentar, mas Rico estava muito alterado embora sua voz estivesse relativamente baixa em consideração ao bebê que dormia em seu peito.

-Está sendo injusto comigo.

O Curupira olhou para ela raivoso. Nada do que a menina dissesse o acalmaria naquele momento e a animista tentou não chorar embora as lágrimas ardessem seus olhos. Uma noite toda acordada e preocupada com o filho. Uma manhã longa e angustiante esperando um milagre acontecer para que o bebê se acalmasse e para finalizar uma repreensão injusta e desmedida do marido que ainda a classificava como uma mãe irresponsável.

Rico podia ver a mágoa nos olhos da esposa e já tinha se arrependido de ter sido tão duro com ela. Mas saber que o filho podia ter sido vítima dos lunáticos da sociedade o deixava insano. Clara precisava entender que não estavam em tempos de paz. Não podiam facilitar as coisas para os inimigos. Andar pela mata com o menino tinha sido de uma estupidez sem fim.

Ele não gostava de chateá-la, mas se a mulher não enxergasse a imensidão do perigo que envolvia o filho deles e mesmo ela, então ele teria que tomar medidas austeras ainda que isso afetasse seus sentimentos.

Davi bateu na porta e entrou sem esperar consentimento.

-Está tudo bem por aqui?

Clara não olhou para o pai. Não queria dar nenhuma explicação no momento. Rico falou pelos dois.

-Sim. Estou levando Clara e Lekan para a casa da árvore e volto para contar o que eu vi no acampamento.

A animista mais uma vez ficou surpresa pela decisão dele.

O CURUPIRAOnde histórias criam vida. Descubra agora