Desejo visceral

esbarra em mim por acaso, um dia...

  Fiquei toda a noite grudada em Otávio, estava mais carinhosa que o normal. Logo após o momento quente, tomamos banho juntos e deitamos. Deitei em seus braços enquanto ele me fazia carinho no cabelo:

🧔🏻 - juro que vou te dar uma vida linda e sossegada, com nosso bebêzinho.

Ao escutar essas palavras eu sentia tanta vontade de chorar, mas tinha que ser firme. Apenas ficava calada. Otávio adormeceu, ele estava com o sono pesado essa noite, estava até mesmo roncando. Então o balancei pra verificar se tinha risco dele acordar, parecia ser um sono daqueles!

Então peguei o celular de Otávio e novamente desbloqueei com a digital do mesmo, fui até a conta bancaria que Otávio guardava dinheiro poupança e retirei 45 mil reais, fiz uma transferência pra minha conta, tudo isso enquanto ele dormia um soninho dos deuses! Claro que eu me sentia mal por estar fazendo aquilo, mas também não era tão burra, esse dinheiro cobriria o desgaste mental de tantas vezes que tentei dar certo com ele. Sem falar que esse dinheiro ia segurar minha barra até eu me estabilizar em Belo Horizonte.

Eu olhava pra Otávio dormindo, eu me sentia quebrada por dentro, só Deus sabe o quanto eu queria ter tido uma vida decente com ele.

Coloquei o celular de Otávio onde estava e dormi, na verdade cochilei. Eu iria acordar as 3:30 para sair o mais rápido possível sem fazer barulho.

Dormi consideravelmente bem o pouco tempo que tive.

3:30 acordei e me levantei na ponta dos pés, puxei lentamente a mala que estava debaixo da cama e a Coloquei no sofá da sala, facilitaria minha saída. Fui até o banheiro, escovei os dentes, lavei o rosto e ajeitei meu cabelo de qualquer jeito.

Voltei ao quarto de mansinho, abri o guarda roupas com muitooo cuidado, peguei uma roupa mais apresentável, voltei ao banheiro e vesti a roupa.

4:00 fui em direção ao quarto para me despedir de Otávio silenciosamente, ele estava dormindo tão bonitinho, fiquei imaginando a dor de acordar e não me achar ali, me procurar em todos os cantos. A cada vez que eu imaginava o desespero de Otávio, era um soco no estômago. Senti as lágrimas silenciosas escorrendo em meu rosto, eu sentia que estava me desfazendo de uma parte minha. Eu sentia vontade de tocá-lo, mas não podia para não acordá-lo. Eu queria abraçá-lo e dizer "Adeus, meu amor, a gente se vai se encontrar em outro momento".

Várias coisas se passaram em minha cabeça naquele momento, pensava no desespero de Otávio procurando o filho por anos. Eu me sentia o pior dos seres humanos. Mas poderia ficar pior? Isso tinha que acabar ali, se eu ficasse, seria uma vida de mentiras pra sempre. Eu precisava me escolher, escolher meu filho...

Com os olhos cheios de lágrimas foi minha despedida silenciosa do meu grande amor, meu amor louco, meu amor carnal, o homem que eu sonhei e fiz tanto...

Fui até a sala, escrevi um bilhete pra Otávio:

" Meu grande amor, estou indo embora. Eu te amo mais do que a mim mesma, você sabe, mas você mente tanto. Sei que ontem você estava com Luna e não com seus colegas. Isso me fez pensar na vida que eu quero levar com meu filho. Eu estou indo embora pra sempre, é uma decisão difícil, você é uma parte minha que estou arrancando bruscamente. Eu quero te encontrar um dia, recomeçar uma vida bonita e saudável, por favor, esbarra em mim por acaso, um dia... Eu te amo, sempre vou te amar, mas preciso ir".

Deixei o bilhete em cima da mesa da cozinha, pedi um uber em direção a rodoviária e saí me desmanchando em lágrimas. Ao passar pela porta eu me senti tão pequena pq sabia que estava prestes a encarar o mundo sozinha com um filho. Eu chorava olhando pra porta. Minhas últimas palavras foram "Adeus, meu amor"...

Eu fui embora. Dessa vez eu fui de verdade.