Descarte

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  Logo após essa madrugada eu passei a ignorá-lo totalmente. Nas confraternizações de sua família eu não o olhava mais nem de forma discreta, ficava grudada em Gustavo o tempo inteiro, nas conversas em família eu fingia que não havia prestado atenção no que ele estava dizendo, me fazia de distraída. Otávio sentia aquela rejeição e me olhava com os olhos quase esbugalhados pra fora. Eu não estava facilitando pra ele, não dava pra ele uma chance sequer de ficar sozinho comigo. Trocava carinhos e palavras de afeto com Gustavo na frente dele, ele tentava se conter forçando os dentes como forma de não se exaltar e demonstrar algum destempero. Passei a falar em sua frente sobre o desejo de logo formar uma família com Gustavo e como tinha certeza que ele era o homem certo pra mim. A família apoiava nossos planos enquanto ele tinha que fingir que apoiava também, enquanto engolia os pedacinhos de seu ego quebrado por estar sendo ignorado por mim.
 
Passou a tocar a campainha durante a madrugada, as vezes tocava todas as madrugadas em dias seguidos, eu ignorava, não abria, ele desistia e ia embora, mas sempre voltava na madrugada seguinte. As vezes fumava um cigarro atrás outro, escondido para que ninguém pudesse perceber. Acendia o cigarro com a mão completamente trêmula, dava dois ou três tragos no cigarro e  jogava no chão pisando em cima, logo em seguida acendia outro pra novamente fazer a mesma coisa, assim um ciclo de cigarros interminados e pisados antes do fim, antes de acabar toda a fumaça. Otávio me exergava naqueles cigarros, por isso os pisava com força após os primeiros tragos. No momento era a única forma que ele achava de demonstrar seu descontrolade em relação a mim, já que eu havia o descartado.

Mas eu não estava o ignorando por decidir sossegar com Gustavo, eu estava fazendo aquilo para machucá-lo, para vê-lo perder a cabeça por mim...

Desejo visceralOnde histórias criam vida. Descubra agora