Devagar.

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Saímos na varanda e nos deparamos com Luan e uma garota

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Saímos na varanda e nos deparamos com Luan e uma garota.

Ela era mais alta que eu, e os cabelos curtos e escuros estavam presos para trás com um único grampo.

Na hora notei o fino salto agulha, pois ela estava com a perna enganchada no quadril de Luan, encostada na parede de tijolo.

Quando ele percebeu nossa entrada, tirou a mão de baixo da saia dela.

— Ana Flávia — ele disse, surpreso e sem fôlego.

— Oi, Luan — falei, abafando uma risada.

— Como, hum... Como você está?

Sorri com educação.

— Ótima, e você?

— Hum — ele olhou para sua acompanhante. — Ana Flávia, essa é a Amber. Amber... Ana Flávia.

— Aquela Ana Flávia? — ela perguntou.

Luan assentiu, rápida e desconfortavelmente.

Ela me deu um aperto de mão com um olhar de desprezo e então olhou para Gustavo como se tivesse acabado de encontrar o inimigo.

— Prazer em te conhecer... eu acho.

— Amber — Luan falou em tom de aviso.

Gustavo riu e abriu a porta para que eles passassem.

Luan agarrou Amber pela mão e entrou.

— Isso foi... estranho — falei, balançando a cabeça enquanto cruzava os braços, me apoiando na balaustrada.

Estava frio, e só havia um punhado de casais ali do lado de fora.

Gustavo estava todo sorridente.

Nem Luan seria capaz de estragar seu bom humor.

— Pelo menos ele desencanou e não está mais enchendo o saco para voltar com você.

— Eu não acho que ele estava tentando voltar comigo, e sim me manter longe de você.

Gustavo torceu o nariz.

— Ele levou uma garota pra casa uma vez pra mim. Agora age como se toda vez aparecesse em casa pra salvar cada caloura que já comi.

Desferi um olhar seco para ele.

— Já te falei como odeio essa palavra?

— Desculpa — ele disse, me puxando para seu lado.

Ele acendeu um cigarro e inspirou fundo.

A fumaça que soprou era mais espessa que de costume, misturada com o ar gelado do inverno.

Ele virou a mão e olhou demoradamente para o próprio pulso.

— Não é estranho que essa tatuagem seja não apenas a minha preferida, mas que eu goste de saber que ela está aqui?

— Bem estranho.

Gustavo ergueu uma sobrancelha e eu ri.

— Estou brincando. Não posso dizer que entendo, mas é meigo... de um jeito meio Gustavo Mioto.

— Se é tão bom ter isso no braço, não posso nem imaginar como vai ser colocar uma aliança no seu dedo.

— Gustavo..

— Daqui a quatro, talvez cinco anos — ele acrescentou.

Respirei fundo.

— Precisamos ir devagar. Bem, bem devagar.

— Não começa, Flor.

— Se a gente continuar nesse ritmo, estarei grávida antes de me formar. Não estou pronta para me mudar para a sua casa, não estou preparada para usar aliança, e certamente não estou pronta para ter um relacionamento definitivo com alguém.

Gustavo me agarrou pelos ombros e me virou de frente para ele.

— Esse não é o discurso “quero conhecer outras pessoas”, é?Porque não vou dividir você. Nem ferrando.

— Eu não quero mais ninguém — falei, exasperada.

Ele relaxou e soltou meus ombros, segurando a balaustrada.

— O que você está dizendo, então? — perguntou, encarando o horizonte.

— Estou dizendo que precisamos ir devagar. Só isso.

Ele assentiu, claramente desapontado.

Encostei no braço dele.

— Não fique bravo.

— Parece que damos um passo para frente e dois para trás, Flor. Toda vez que acho que estamos falando a mesma língua, você ergue um muro entre a gente. Eu não entendo... A maior parte das garotas pressiona o namorado para que o relacionamento fique sério, para que falem sobre seus sentimentos, para que sigam para a próxima fase...

— Achei que já tínhamos concordado que eu não sou como a maioria das garotas...

Ele deixou a cabeça pender, frustrado.

— Estou cansado de tentar adivinhar. Pra onde você acha que isso vai, Ana Flávia?

Pressionei os lábios na camisa dele.

— Quando penso no meu futuro, vejo você nele.

Gustavo relaxou, me puxando para perto.

Ficamos olhando as nuvens noturnas se mexerem pelo céu.

As luzes da faculdade pontilhavam o bloco escurecido, e os convidados da festa cruzavam os braços em espessos casacos, correndo para o aconchego da casa da fraternidade.

Vi a mesma paz nos olhos de Gustavo que tinha visto apenas algumas vezes, e me ocorreu que, tal como nas outras noites, a expressão satisfeita dele era resultado direto da segurança que eu lhe transmitira.

Eu conhecia o sentimento de insegurança, de viver uma onda de azar atrás da outra, de homens que temem a própria sombra.

Era fácil ter medo do lado negro de Las Vegas, o lado que o neon e o glitter nunca pareciam tocar.

Gustavo Mioto, porém, não tinha medo de lutar, ou de defender alguém com quem ele se importasse, ou de olhar nos olhos humilhados e furiosos de uma mulher desprezada.

Ele podia entrar numa sala, encarar alguém duas vezes maior que ele e mesmo assim acreditar que ninguém conseguiria encostar nele, que ele era invencível.

Ele não temia nada.

Até me conhecer.

Eu era uma parte da vida de Gustavo que lhe era desconhecida, o curinga, a variável que ele não conseguia controlar.

Independentemente dos momentos de paz que eu lhe dava de vez em quando, em um dia ou outro, o turbilhão que ele sentia sem mim piorava dez vezes na minha presença.

A raiva que ele sentia havia se tornado apenas mais difícil de controlar.

Ser a exceção não era mais um mistério, algo especial.

Eu havia me tornado a fraqueza de Gustavo.

Tal como eu era para o meu pai.

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Continua....☆

I. Espero que estejam gostando, não se esqueçam de votar e comentar muito.

II. O próximo capítulo....

III. Capítulo revisado, porém pode conter alguns erros.

--Beijos, 🦋

Belo Desastre | miotelaOnde histórias criam vida. Descubra agora