Em Familia

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O céu estava nublado naquela manhã fria em Xangai, e o vento gelado parecia cortar a pele. Apesar disso, o aeroporto privado estava surpreendentemente calmo, talvez porque estávamos em uma área mais isolada. Nosso pequeno grupo de seis caminhava em direção ao portão de embarque: eu, Liam, Lando, Carlos e dois amigos do meu irmão que mal chamavam minha atenção. Seus nomes nem chegaram a grudar na memória, já que eles passavam mais tempo rindo entre si do que interagindo com o resto de nós.

Lando e eu estávamos juntos, brincando e rindo de nossas bobagens

Enquanto isso, Carlos permanecia em completo silêncio, caminhando alguns passos atrás de nós com as mãos nos bolsos. Ele parecia perdido em pensamentos. Sua expressão era fechada, e os fones de ouvido denunciavam que ele queria se isolar. Talvez fosse apenas mais uma de suas manhãs ruins, mas isso me incomodava mais do que eu gostaria de admitir.

Chegamos ao jato após uma breve caminhada pela pista de táxi. O interior do avião era deslumbrante, uma obra-prima de luxo e conforto: poltronas de couro em tons de bege, detalhes em dourado e mesas de madeira polida que brilhavam sob a luz suave dos lustres embutidos.

Escolhi um assento ao lado da janela, querendo aproveitar a vista das nuvens durante o voo. Lando se jogou na poltrona à minha frente, tirando o boné e colocando a cabeça no encosto, já assumindo sua pose relaxada. Carlos preferiu o fundo, posicionando-se onde eu não conseguia vê-lo. Liam e seus amigos ficaram próximos à cabine do piloto, rindo de alguma piada interna que parecia só fazer sentido para eles.

No início, o clima era descontraído. Compartilhamos lanches e conversamos sobre as últimas semanas, mas minha mente não conseguia ignorar o silêncio de Carlos. Ele assistia a algo em seu celular, parecendo alheio a tudo.

Depois de algum tempo, Lando se cansou de brincar comigo e decidiu implicar com Carlos — um de seus passatempos favoritos. Ele deixou sua poltrona e foi até o fundo, sentando-se de frente para Carlos e colocando os pés no encosto da poltrona dele, balançando-os de um lado para o outro.

Carlos levantou os olhos de sua tela, franzindo a testa.

— Você é como uma criança, Norris. Será que consegue ficar quieto por cinco minutos? Ou pelo menos me deixar em paz?

A resposta foi suficiente para arrancar uma gargalhada de Lando, que parecia se divertir mais quando irritava os outros.

— Dormiu mal de novo, Carlos? Oque houve? É cansativo te ver tão ranzinza.

Carlos apenas balançou a cabeça, claramente sem paciência, e voltou a focar no celular. Lando, vendo que não conseguiria arrancar outra reação, desistiu e voltou para o seu lugar.

Eu olhei para Lando com um sorriso.

— Você realmente não sabe a hora de parar, não é?

— É um talento natural.— Me respondeu, porém agora sem animação.

O voo seguiu tranquilo, com conversas intermitentes e risadas ocasionais. Lando roubava pedaços do lanche de Liam, que reclamava, mas no fundo parecia se divertir. Eu, por outro lado, passei a maior parte do tempo olhando pela janela, observando as nuvens se formarem e se dissiparem, tentando organizar meus próprios pensamentos.

Mesmo calado e distante, Carlos tinha essa habilidade irritante de ocupar um bom espaço na minha cabeça, como se sua presença fosse uma constante que eu não conseguia ignorar, me incomodava seu silêncio, e o porque dele.

Quando finalmente pousamos em Mônaco, senti uma onda de alívio ao ver o azul familiar do Mediterrâneo reluzindo sob o sol da tarde. Só conseguia pensar na minha cama e em dormir por longas e merecidas horas.

At Hing Speed- Carlos SainzOnde histórias criam vida. Descubra agora