Balança

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A sensação de peso nos meus olhos me impedia de abri-los completamente, e a dor de cabeça parecia martelar ainda mais quando, finalmente, forcei as pálpebras a se erguerem. O quarto do hotel estava mergulhado em uma escuridão quase total, com apenas algumas frestas finas de luz escapando pela cortina e se esforçando para iluminar o mínimo ao redor, sem realmente me incomodar.

Todo o meu corpo parecia ter passado por uma maratona: os músculos das pernas formigavam de cansaço, os braços estavam doloridos como se eu tivesse feito levantamento de peso a noite inteira, e os pés, surpreendentemente limpos, não se mexiam como eu gostaria. Foi quando percebi que eles pareciam estranhamente... diferentes. Grandes, com pequenos pelos nos dedos. Esperei um momento, em choque, até que me ocorreu uma hipótese assustadora: aqueles pés não eram meus.

Movi o pescoço de uma vez para o lado, ignorando a dor no processo, e então o vi. Carlos estava deitado ao meu lado, sua presença ali me causando um impacto imediato, principalmente porque eu não fazia ideia de como tinha voltado da festa.

— Carlos?! — gritei, levando as mãos aos cabelos em um misto de desespero e confusão.

Ele se mexeu devagar, parecendo tão confuso quanto eu, e respondeu com a voz sonolenta:

— Oi? Que foi? — Ele esfregou os olhos, tentando afastar o cabelo da testa enquanto me encarava, piscando para focar melhor.

— O que você tá fazendo aqui? — perguntei, sentindo o pânico tomar conta enquanto eu tentava juntar as peças da noite passada. O medo de que algo pudesse ter acontecido, e nós dois estivéssemos bêbados demais para lembrar, apertava no peito.

Carlos suspirou e respondeu, com um tom quase irritado:

— Ué, tô dormindo. — Ele me olhou de canto de olho, tentando entender meu alarme. Eu, por minha vez, inspecionava minha roupa da festa, ainda intacta. Respirei um pouco mais aliviada.

— Tá, mas... o que aconteceu antes? Por que você dormiu aqui? — Ele se endireitou, franzindo a testa enquanto me olhava de cima a baixo, como se eu estivesse exagerando.

— Sério isso, Isa? Você nem bebeu tanto assim... — Ele ergueu uma sobrancelha, e aquele olhar de ceticismo me deixou ainda mais preocupada.

— Eu não tô brincando, Carlos. Eu realmente não lembro! — falei, começando a perder o controle enquanto vasculhava a memória, sem sucesso.

Ele suspirou, frustrado.

— A gente não fez nada, tá bom? Nada. Agora vai lá, toma um banho e faz um esforço pra lembrar sozinha — disse ele, com uma autoridade que me fez congelar. Sem mais paciência, ele virou de costas para mim e se sentou na beira da cama, me ignorando enquanto ajeitava os cabelos bagunçados.

— Tem certeza, né? — perguntei, dando alguns passos na direção do banheiro, mas ainda hesitante.

Ele se virou e me lançou um olhar sério, a voz agora fria e irritada.

— Isa, eu não faria nada com você. Muito menos se você estivesse bêbada. — O tom firme dele me deixou desconfortável, e a intensidade daquele olhar me deixou muda.

— Certo... — murmurei, tentando não soar defensiva, mas claramente não ajudou.

— Você tá insinuando que eu faria isso? — Ele se levantou de uma vez, as mãos fechadas em punho ao lado do corpo, e uma expressão de raiva transformava seu rosto. — Pra deixar claro, só tô aqui porque você insistiu ontem à noite. E você mesma disse, se hoje estivesse arrependida, eu podia te cobrar.

A lembrança daquele momento da noite finalmente emergiu, ainda vaga, mas agora mais real.

— Ah... tá, tô começando a lembrar disso. — Suspirei, desviando o olhar, tentando recuperar o controle da situação.

At Hing Speed- Carlos SainzOnde histórias criam vida. Descubra agora