𝟕𝟐 ⌁ 𓈒 ֹ LORENZO MATTIOLI ˳ׄ ⬞

163 20 8
                                    


A sala de ultrassom tinha uma atmosfera que parecia cuidadosamente projetada para transmitir calma, mas, naquele momento, não conseguia cumprir seu propósito. A luz suave banhava o ambiente em um tom cálido, criando sombras delicadas que brincavam nas paredes decoradas com quadros abstratos em tons pastel. A maca acolchoada no centro, com um branco impecável. Ao lado, o equipamento de ultrassom emitia um leve zumbido, e os cabos perfeitamente organizados ligavam o monitor de alta definição ao transdutor, que deslizava com precisão sobre a barriga de Donnatela.

O ar fresco, quase frio, dava à sala uma neutralidade desconfortável, como se a Cosa Nostra quisesse evitar qualquer resquício de emoção ali dentro. Na parede oposta, um armário branco guardava frascos de gel condutor e toalhas descartáveis, organizados com a precisão de alguém que não podia se dar ao luxo de erros. O relógio, embora silencioso, parecia pulsar na mente de Lorenzo, marcando o passar do tempo de maneira cruel, como se quisesse lembrá-lo de tudo o que não conseguiu fazer.

Donnatela estava deitada, o rosto pálido e os olhos presos na tela do monitor, como se tentasse ver algo ali. Havia algo em sua expressão que misturava empolgação, cansaço e, talvez, um leve toque de ironia. Lúcia, a médica, mantinha o semblante neutro, os olhos fixos no monitor enquanto deslizava o transdutor pela pele da loira com gestos precisos, quase mecânicos. Giorgia estava sentada ao lado direito da maca, seus olhos carregavam uma preocupação evidente, uma tensão que parecia pesar mais a cada segundo. Do lado esquerdo, Enrico estava de pé, os braços cruzados, a mandíbula travada, como se sua própria presença ali fosse um esforço que ele fazia questão de suportar por respeito.

Lorenzo, no entanto, mantinha-se afastado. Parado ao lado da janela, ele olhava para fora, mas não enxergava nada. A cidade lá fora era apenas um borrão de luzes e sombras, um reflexo distante do turbilhão que ele sentia por dentro. Sua postura ereta e imponente, habitual para um Don, não conseguia mascarar o cansaço que seus ombros denunciavam. Ele não queria estar ali, mas sabia que precisava. Não por Donnatela, nem mesmo por Giorgia, mas porque, no fundo, ele sabia que era sua responsabilidade. Donnatela transformava a vida de Giorgia em um inferno, e Gio, como sempre, suportava tudo em silêncio. Mas ele não podia permitir que sua mãe carregasse esse fardo sozinha. Era sua culpa, afinal.

Todo o caos, toda a dor, tudo começava e terminava com ele.

Faziam duas semanas desde que Angelina desaparecera. Duas semanas que pareciam uma eternidade. Nenhuma notícia, nenhum sinal, nenhuma pista concreta. Lorenzo havia feito tudo o que estava ao seu alcance. Mobilizou os recursos da Cosa Nostra, ativou contatos que não usava há anos, e, mesmo assim, nada. Vincenzo e Enrico tentaram argumentar que a garota precisava de tempo, que talvez ela só quisesse ficar longe por um período. Mas Lorenzo não acreditava nisso. Para ele, "tempo" era apenas uma desculpa fraca, uma tentativa de justificar o que não podia ser explicado.

Ele havia ido além do habitual. Colocou quatro agentes experientes para rastrear cada canto, cada parente, cada possível esconderijo onde Angelina pudesse estar. Cada dia que passava sem respostas era um golpe na sua paciência, um lembrete constante de sua impotência. Lorenzo odiava a sensação de estar fora de controle. Era algo que não combinava com ele, algo que fazia seu sangue ferver e sua mente trabalhar sem descanso. E ali, naquela sala limpa e organizada, onde tudo parecia estar no lugar certo, ele se sentia completamente deslocado, como uma peça errada em um quebra-cabeça perfeito.

A tensão no ambiente parecia densa como um nevoeiro, envolvendo a todos e dificultando até mesmo respirar. O silêncio, quebrado apenas pelo zumbido rítmico do ultrassom, amplificava cada movimento, cada expressão carregada de frustração. O Don parado junto à janela, parecia uma estátua prestes a desmoronar. Quando finalmente desviou o olhar para encarar a cena à sua frente, sentiu o peso da situação apertar ainda mais em seu peito.

𝗙𝗜𝗥𝗘 𝗔𝗡𝗗 𝗕𝗟𝗢𝗢𝗗 - @𝗅𝟢𝗌𝗍𝗋𝖾𝗂𝖽Onde histórias criam vida. Descubra agora