𝗙𝗜𝗥𝗘 𝗔𝗡𝗗 𝗕𝗟𝗢𝗢𝗗 - @𝗅𝟢𝗌𝗍𝗋𝖾𝗂𝖽

𝟕𝟎 ⌁ 𓈒 ֹ LORENZO MATTIOLI ˳ׄ ⬞

Agora era fatal
Que o faz-de-conta terminasse assim
Pra lá deste quintal
Era a uma noite que não tem mais fim

Pois você sumiu no mundo sem me avisar
Agora eu era um louco a perguntar
O que é que a vida vai fazer de mim?

João e Maria - Chico Buarque

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Naquela noite, Lorenzo não conseguiu ir para a mansão Mattioli. O peso da culpa e da frustração o impedia de tomar qualquer decisão clara, e Enrico, ao perceber a tempestade interna que o irmão enfrentava, foi firme e gentil ao sugerir que ele fosse até sua casa, acreditando que o distanciamento temporário seria o melhor para que todos pudessem, enfim, refletir sobre o que aconteceu e resolver as coisas no dia seguinte. Não havia mais espaço para palavras impulsivas. Donnatela, foi levada para a casa de Giorgia, como uma precaução, para evitar qualquer encontro entre as irmãs naquele momento tenso.

Ao entrar na casa de Enri, Lorenzo desabou no sofá da sala de estar, como se carregar o próprio peso fosse insuportável. A tensão em suas feições era evidente, um homem quebrado por dentro, lutando contra seus próprios demônios. Enrico sentou-se ao lado do irmão, observando cada detalhe de seu rosto, como quem busca respostas antes mesmo de perguntar. Por um instante, hesitou, mas sabia que precisava esclarecer aquilo.

─ Eu sei que você está machucado, Enzo. Mas preciso saber... ─ Sua voz era baixa, quase cuidadosa, enquanto tentava atrair o olhar perdido do mais velho. ─ Você dormiu com a Donnatela mesmo?

Lorenzo fechou os olhos, suspirando profundamente. A pergunta o atingiu como um soco, reabrindo feridas que nunca cicatrizaram. Ele tentou reunir forças para responder, mas a verdade era um fardo insuportável. Sua memória daquela noite era um quebra-cabeça incompleto, com peças que ele temia nunca encontrar.

─ No dia em que você pediu Angelina em casamento...eu já estava apaixonado por ela. ─ As palavras saíram carregadas de dor, e ele precisou buscar ar antes de continuar, sentindo o peito se apertar como se cada palavra fosse uma lâmina. ─ Fui até a Bianchi para tentar esquecer... juro que tentei. Bebi tanto que a última coisa que lembro é do Francisco me deixando na mansão. Subi as escadas e vi uma mulher loira...pensei que fosse ela. Não lembro de mais nada depois disso.

O silêncio de Enrico era quase palpável. Ele escutava cada palavra atentamente, sem interromper, mas seu olhar carregava mais perguntas. Lorenzo fez uma pausa, o gosto amargo da lembrança parecia invadir sua boca enquanto continuava, os olhos marejados.

─ Acordei no dia seguinte... com aquela vadia do meu lado. Ela disse que nós transamos, mas eu simplesmente... não lembro.

Enri manteve-se em silêncio por um instante. Conhecia o irmão melhor do que ninguém. Lorenzo não era um homem que fugia de responsabilidades, nunca teve medo de assumir seus erros, por mais difíceis que fossem. E, naquele momento, algo dentro de Enrico começou a questionar. E se Lorenzo tivesse sido enganado? E se nada tivesse realmente acontecido?

As lágrimas escorriam pelo rosto do Don, a dor o consumindo novamente. O mais novo, sem pensar duas vezes, puxou o irmão para um abraço apertado, como se quisesse afastar ao menos uma parte daquela angústia.

─ Vamos fazer um teste de DNA o mais rápido possível e descobrir a verdade, fratello. Eu prometo.

Lorenzo retribuiu o abraço, apertando Enrico ainda mais forte. Apesar de todo o caos, ele sentia um fio de gratidão por ter o caçula ao seu lado. Naquele momento, não havia ninguém que ele desejasse mais perto do que o irmão, que carregava a mesma determinação de proteger a família, custe o que custar.