𝟕𝟑 ⌁ 𓈒 ֹ LORENZO MATTIOLI ˳ׄ ⬞

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Uma vez por ano, a mansão principal da Cosa Nostra se transformava no epicentro de decisões que moldariam o futuro da máfia italiana. A reunião anual era um evento sagrado para a organização, onde o Don, seu Subchefe e o Consigliere se encontravam com os cinco Capos responsáveis pelas cidades mais estratégicas da Itália. Cada nome carregava um peso e uma reputação que ecoavam pelos corredores do poder: Pietro Milano, de Gênova; Vittorio Bianchi, de Milão, pai de Serena; Leonardo Lombardi, de Roma; Riccardo Conti, de Nápoles; e Alessandro Ricci, de Florença.

Era um encontro marcado por pompa e tensão, mas Lorenzo Mattioli não conseguia ignorar o momento inoportuno em que aquilo acontecia. Sua mente estava em outro lugar, ou melhor, em outra pessoa: Angelina. Ela ocupava cada canto de seus pensamentos, mas sua posição exigia que ele deixasse suas preocupações pessoais de lado. Ele era o Don, e a Cosa Nostra dependia de sua liderança.

O exterior da mansão refletia a opulência e a força da organização. Carros pretos luxuosos, de marcas que só os mais ricos podiam se dar ao luxo de ostentar, estavam alinhados na entrada, suas carrocerias brilhando sob a luz do entardecer. Soldados bem vestidos patrulhavam a área, seus ternos impecáveis e óculos escuros dando-lhes um ar de mistério e autoridade.

Dentro da mansão, o ambiente era igualmente marcante. A sala de estar principal, ampla e decorada com um luxo clássico, abrigava a imponente mesa de madeira escura com doze lugares cuidadosamente dispostos. Lorenzo ocupava a ponta, como o líder incontestável, sua postura rígida e olhar sério deixando claro quem comandava aquele espaço. À sua direita, Vincenzo, sempre com sua expressão despreocupada, mas olhos atentos. À esquerda, Enrico, cuja presença sólida e postura vigilante reforçavam o peso de seu papel. Os Capos estavam distribuídos ao longo das cadeiras restantes, cada um com uma expressão que oscilava entre respeito e cálculo.

O ar da sala era uma mistura de aromas marcantes: whisky envelhecido, o amargo do charuto e o perfume forte, embora de qualidade duvidosa, que parecia grudar nas paredes. A atmosfera era pesada, carregada de subentendidos e alianças veladas, como sempre acontecia em reuniões desse porte.

As mulheres encarregadas de servir as bebidas se moviam pelo ambiente com gestos calculados, mas suas vestimentas, ou a falta delas, não passavam despercebidas. Os vestidos curtos e provocantes, escolhidos provavelmente por Vincenzo, eram mais apropriados para uma praia do que para aquele salão carregado de gravidade. Lorenzo sequer lhes lançava um olhar; sua mente estava muito distante, perdida nas sombras da ausência de Angelina e no peso da responsabilidade que aquela reunião exigia.

Enquanto os Capos trocavam comentários ocasionais, o silêncio era interrompido apenas pelo tilintar de copos e o suave arrastar de cadeiras. A reunião estava prestes a começar, e com ela, decisões que poderiam alterar o equilíbrio de poder não apenas dentro da Cosa Nostra, mas em toda a Itália. Lorenzo respirou fundo, ajustando o terno enquanto tentava organizar seus pensamentos. Não importava o que sentia, ele era o Don, e naquele momento, precisava ser o líder que todos esperavam.

─ Estamos aqui para ser breve, ninguém quer ficar mais que o necessário.

Vittorio riu olhando descaradamente para uma das meninas que servia se whisky, não parecia nem de longe um homem casado.

─ Fale por você, meu Don. Esse lugar está bastante apetitoso. Você caprichou esse ano, Vincenzo.

Os homens riram se divertindo com a fala do homem, dentre todos ali ele era o mais velho, amigo do antigo Don, pai de Lorenzo. O Don apenas rolou os olhos, ele não estava interessado em nada que não fosse da reunião.

─ Qual o problema, Don? Na última reunião você parecia bem feliz com as garotas.

A tensão na sala ficou evidente quando Alessandro, geralmente o mais reservado entre os Capos, finalmente se manifestou. Sua voz, serena mas firme, cortou o ambiente, trazendo um momento de pausa à reunião. O respeito que ele inspirava vinha não apenas de sua discrição, mas também de seu trabalho impecável, sempre acima de qualquer suspeita. Lorenzo inclinou-se ligeiramente para a frente, pronto para responder, mas foi surpreendido pela agilidade de Enrico, que interveio antes, com a intenção clara de aliviar qualquer possível atrito.

𝗙𝗜𝗥𝗘 𝗔𝗡𝗗 𝗕𝗟𝗢𝗢𝗗 - @𝗅𝟢𝗌𝗍𝗋𝖾𝗂𝖽Onde histórias criam vida. Descubra agora