𝟕𝟏 ⌁ 𓈒 ֹ ANGELINA CORVETTI ˳ׄ ⬞

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Uma semana se passara desde que a Escócia se tornara o novo lar de Angelina. O tempo, que costumava ser seu aliado nas aventuras, agora parecia seu carrasco. O apartamento, que por um breve momento parecia acolhedor, agora a comprimia, as paredes crescendo ao seu redor como se quisessem engoli-la. Tudo era maior que ela. O mundo, o silêncio, a ausência de Lorenzo. Angelina, outrora inquieta e exploradora, tornara-se uma sombra de si mesma, tão pequena que parecia que sua alma tentava escapar, arrancando-a por dentro, ansiando desaparecer de vez.

Não era um pesadelo. Já havia se passado uma semana, e uma semana é tempo demais para algo ser apenas um sonho ruim. Aquela era a realidade. E a realidade vinha com verdades que Angelina odiava encarar: quando se arrisca no amor, aceita-se, ainda que inconscientemente, o risco de sofrer por ele.

É preciso escolher com sabedoria quem merece cada lágrima, cada dor que percorre o corpo e se instala na alma. E Angelina achava que Lorenzo, por mais que tivesse sido o motivo de seu coração bater em um ritmo descompassado de paixão, não merecia seu choro. Só que como tudo em sua vida, aquilo ela não conseguia controlar.

Angelina sabia disso, mas saber não a salvava. As noites eram longas, e a cama, que parecia um porto seguro para o corpo cansado, se tornava um campo de batalha. Seu choro vinha das profundezas, uma dor que começava no estômago e subia até a garganta, deixando-a exausta e vazia. Ela se agarrava à ideia de não se importar, repetia como um mantra que Lorenzo não era digno de sua tristeza. Mas cada pensamento que surgia era como uma lâmina fina, cortando-a de forma lenta e cruel.

E então, no auge de sua exaustão, uma pergunta ecoava em sua mente: o que fazer quando algo nos dói tanto? Não havia resposta fácil. Não havia remédio ou atalho. Restava apenas o silêncio da Escócia, o eco de sua própria fragilidade e a certeza amarga de que viver é, muitas vezes, aprender a carregar a dor e seguir em frente, mesmo quando tudo dentro de nós grita por um fim.

Mas, continuava a se questionar: o que você faz quando algo te dói muito?

Você chora.

Você só chora.

Angelina caminhou com passos arrastados até a cama, seu refúgio provisório em meio ao caos. Seus cabelos ainda úmidos, recém-saídos do banho, deixavam gotas frias escorrerem por sua pele. Sentou-se à beira do colchão e suspirou, aquele som abafado que parecia ser sua única companhia nos últimos dias. Era um suspiro pesado, esmagador, como se um peso invisível apertasse seu peito, deixando-a sem ar para puxar de volta.

Seu olhar vagou pelo quarto até encontrar um boné esquecido sobre a cama. Era de Enrico. O simples objeto, inerte e despretensioso, parecia carregar toda a ausência do irmão. A saudade de Enrico era uma dor aguda, constante, que fazia seu corpo vacilar. Seus olhos desceram lentamente para sua mão, onde a aliança ainda brilhava em seu dedo anelar.

Fazia uma semana desde que Lorenzo destroçara seu coração, mas ele permanecia ali, alojado em cada pensamento, em cada batida que insistia em lembrá-la de que ela ainda o amava. Era um amor tão vasto que se transformara em raiva - uma raiva que ela não sabia como expurgar, uma raiva que só crescia, trancada dentro de si.

Com um gesto brusco, ela retirou a aliança, sentindo o metal frio pressionar a palma de sua mão. Caminhou até a janela, o punho cerrado, pronta para lançar o anel para longe, para se libertar dele, para expulsar Lorenzo de vez. Mas seus músculos congelaram no último instante. Não conseguia. Não conseguia se desfazer da última coisa que tinha dele.

Seus joelhos cederam, e ela caiu ao chão. A cabeça repousou sobre o colchão enquanto suas lágrimas se infiltravam no tecido, formando pequenas manchas que nunca secariam por completo. Apertava a aliança com tanta força que o metal quase lhe feria a pele. Era como se sua vida dependesse daquele pequeno círculo, mesmo sabendo que sua vida fora arruinada exatamente por causa dele.

𝗙𝗜𝗥𝗘 𝗔𝗡𝗗 𝗕𝗟𝗢𝗢𝗗 - @𝗅𝟢𝗌𝗍𝗋𝖾𝗂𝖽Onde histórias criam vida. Descubra agora