𝟔𝟗 ⌁ 𓈒 ֹ ANGELINA CORVETTI ˳ׄ ⬞

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Depois de sonhar tantos anos
De fazer tantos planos
De um futuro pra nós
Depois de tantos desenganos
Nós nos abandonamos como tantos casais

Depois — Marisa Montes

Angelina caminhava com passos decididos, cercada pelos seguranças da Cosa Nostra. Sua figura pequena parecia engolida pelas sombras dos homens que a protegiam, mas a intensidade em seus olhos denunciava uma fúria que transbordava de sua alma. Quando abriram a porta do carro, ela entrou sem hesitar.

Me leve para casa agora, Francisco! sua voz era um fio de aço, inflexível, carregada de uma convicção que surpreendeu até a si mesma.

Ela havia decidido: não faria mais parte daquele mundo.

Francisco hesitou, o desconforto visível em sua expressão.

Senhorita, eu não posso. O Don...

Ou você me leva agora ou eu explodo essa merda de carro com nós dois dentro. A ameaça fugiu de seus lábios, mais violenta do que jamais ousara ser. Seu olhar faiscava como fogo.

Francisco engoliu seco. Ligou o carro e deu partida sem mais protestos, o suor frio escorrendo pela nuca.

A cabeça de Angelina latejava, uma dor intensa que parecia ecoar de um lugar mais profundo que o físico. Era pior que o dia do acidente, quando passou horas lutando contra a dúvida de sua sobrevivência. Mas aquele momento, aquela verdade recém-descoberta, era insuportavelmente mais devastador.

Assim que o carro parou em frente à mansão Mattioli, Angelina não esperou que abrissem a porta para ela. Agarrou a maçaneta e saiu apressada. Dois passos foram o suficiente para fazê-la travar. Segurando as lágrimas, voltou rapidamente até o carro, batendo três vezes na janela fechada até que Francisco a abrisse.

Me desculpa por ter sido rude. É que... as palavras vacilaram na garganta. Não precisava explicar; ele sabia, todos no salão sabiam, e em breve, toda a Itália saberia. — Obrigada por me trazer.

Virou-se e retomou seus passos, a pressa aumentando conforme as lágrimas teimosas começavam a transbordar, sem que ela pudesse mais contê-las.

Ao passar por Paola, a jovem governanta lançou um olhar fugaz, mas nada disse. Sabia que aquele pequeno furacão traria mais caos, como sempre. Fingiu não ter visto nada, mas manteve-se alerta.

Ao entrar em seu quarto, Angel não perdeu tempo. Puxou uma mochila qualquer do armário e começou a enchê-la com roupas e com itens que achava essencial. Não pensava no destino, apenas na fuga. Queria desaparecer, ir para longe, mesmo que isso significasse colocar sua existência em risco.

Arrancou o vestido que usava como se ele fosse um peso insuportável, uma lembrança dolorosa de Lorenzo. Cada fibra daquele tecido parecia carregar o toque dele, e a ideia a irritava. Queria se despir não apenas do vestido, mas da pele que ele tocara, do coração que ele havia conquistado e destruído. Amava-o tanto que agora esse amor a fazia se odiar.

Vestiu uma calça jeans esquecida no fundo do closet, uma regata branca e um tênis pouco usado. Por fim, jogou uma jaqueta jeans por cima e saiu do quarto com a mochila nas costas.

Antes de deixar a mansão, foi ao quarto de Enrico e revirou o closet até encontrar um boné, colocando-o na cabeça como se fosse uma capa de invisibilidade. Como se aquilo fosse o suficiente para se esconder de seus próprios demônios.

No corredor vazio, seus passos ecoavam como um aviso de que algo irreversível estava prestes a acontecer. Puxou o celular e ligou para Serena.

Serena, eu preciso de você.

𝗙𝗜𝗥𝗘 𝗔𝗡𝗗 𝗕𝗟𝗢𝗢𝗗 - @𝗅𝟢𝗌𝗍𝗋𝖾𝗂𝖽Onde histórias criam vida. Descubra agora