Capítulo 6

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Era provável que a maioria dos alunos fizesse algo após o final das aulas, mas tenho certeza que, Karla Sullivan, não é um deles. Nem de longe podia ser, já que não vi ninguém, nem ao menos dizer que ela fazia algum esporte, ou se comparecia as aulas de idiomas disponíveis para escolha. Claro, ela optou por francês, mas de acordo com os relatos, ela nunca nem se quer apareceu para dar oi. Talvez o fizesse quando tivesse que arrumar nota para se formar.

O último sinal tocou e de frente para mim a porta da sala se abriu. Alguns alunos saíram até finalmente Karla passar por ela com cara de quem não dormia há dias. Talvez estivesse com sono mesmo, a aula era de filosofia.

Karla se aproximou desanimada deixando os braços caírem.

- Vai para o quarto? - Perguntei e ela apenas concordou com a cabeça. - Você precisa arrumar alguma coisa para fazer depois do horário. Já que passa a maior parte do tempo em seu quarto.

- Não tem nada para se fazer nesse lugar. - Karla começou a andar em direção a saída do prédio.

- Quantas opções de aulas de idiomas? - Perguntei.

- Sei lá, umas cinco talvez. - Deu de ombros.

- Esportes?

- Alguns. Não me interesso por nem um se quer saber. - Agora eu estava sendo metralhado pelos seus olhos.

- Teatro? Você gosta de teatro vi no seu histórico...

- Você viu no meu histórico também que eu sei tocar quatro instrumentos? - Ela parou no meio do gramado para me encarar. - Violão, guitarra, bateria e piano. Piano de cauda. Aqueles clássicos que tem um som maravilhoso.

- Eu sei o que é um piano de cauda. - Revirei os olhos. - Mas que eu saiba não tem diferença para um com cauda e um sem.

- Não fale comigo se você não entende a diferença do som dos dois. - Barrou-me com a palma da mão e continuou a andar. - Eu fazia parte do coral da escola. Por isso fazia teatro. Sempre peças musicais. Só isso. - Ela parou novamente e voltou a me olhar. - E não fale mais nisso. - Voltou a virar de costas e andar.

- Por que?

- Porque se eu quisesse fazer algo depois das aulas eu faria, porém, não quero. - Mostrou-me a língua e entrou no dormitório feminino. - Por que a final das contas você está me seguindo? Não ficaria apenas algumas horas no meu pé?

 - Tenho mais duas horas para ficar atrás de você. - Abri a porta das escadas.

- Você estipulou esse horário, não é? - Ela subia logo atrás de mim.

- É.

- Eu sou tão insuportável assim? - Karla parecia ofendida.

- Está sendo agora.

- Obrigada. - A garota bufou.

- Pare de fazer drama garota. Isso é estressante pra mim e para você, Karla. - A olhei rapidamente. - Você precisa ficar um bom tempo sozinha tanto quanto eu.

Karla jogou a bolsa em cima da cama enquanto eu me sentava na poltrona perto da janela. Da janela eu conseguia ver a entrada do prédio. Havia duas alunas entrando enquanto uma monitora que eu não conhecia saía. Respirei fundo e Karla começou a rir de um jeito estranho, desviei o olhar para ela, porém ela estava sentada olhando para o chão com um all star na mão e o outro no pé. Alguma crise de riso sem motivo ou eu havia perdido a parte engraçada. Logo ela percebeu que eu a observava e parou de rir se ajeitando na cama sem os sapatos.

Ela pegou a bolsa, tirou seus livros e começou a lê-los... Ou tentou.

- Acho que eu não deveria ter ficado tanto tempo longe. - Murmurou chateada.

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