Capítulo 22

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Karla

Por consequência do dia anterior fui suspensa outra vez. Esse último mês eu já havia quebrado recordes de suspensão, e tudo porque Allan me entregou... Mas tudo bem ele está fazendo o trabalho dele.

Quem eu estou enganando? Tudo bem o caramba, o que aquele infeliz tinha que entregar aquelas garrafas de vodca para Katharine? Justo as minhas garrafas, as que eu demorei meses para conseguir pegar do meu pai escondida, justo o litro de vodca Russa que eu queria abrir há meses, mas estava esperando o momento certo.

Nem ao menos sei como concordei com ele quando me disse que me deduraria. Ah, eu sei sim. Eu estava abraçada com ele no meio do meu quarto, aqueles braços fortes estava me rodeando, aquele perfume exalando pelo lugar... Eu concordaria com qualquer coisa, até porque ele havia dito coisas fofas, mas isso não quer dizer que eu não queria matá-lo, pelo contrário, queria muito e aquele filho da puta merecia.

Eu estava olhando o teto, não era bem o teto, estava apenas viajando, com o olhar vago, eu sabia que estava olhando para um ponto fixo, mas era apenas isso, mentalmente estava muito mais longe, o que me deixava cada vez mais agoniada, me perdendo em lembrança que eu sabia que não me faria bem, mas que ao mesmo tempo seria impossível de expulsá-las da minha mente.

Respirei fundo e olhei o quarto. Estava vazio, apenas eu, ali, deitada na cama. Allan não havia aparecido de manha, talvez tenha, talvez tenha me chamado, tentando abrir a porta e eu estava dormindo tão profundamente que não escutei nada. Apenas suposições, era provável que ele não tenha realmente vindo.

Sentei na cama, olhei para os meus pés no chão gelado, já que não havia carpete, apenas um piso de madeira que brilhava, deslizei os dedos pela minha coxa nua em cima de uma cicatriz que havia ali e desviei meu olhar para minhas mãos, a marca de queimadura em uma delas que havia escondido todas as outras cicatrizes ali. Sete meses, o meu próprio recorde. Olhei para a outra mão, as cicatrizes quase não eram visíveis, já havia tempo. Os pelos do meu corpo se eriçaram, alguma coisa me dizia que eu deveria fazer, que eu precisava, que tudo tinha que vir para fora, para sentir, para ver... Eu precisava me sentir aliviada, se fosse por alguns minutos, que seja, mas eu precisava.

Entrei no banheiro e acabei virando todas as gavetas de cabeça para baixo desesperada para achar o que eu precisava. Era tão forte quanto as das vezes que discutia com minha mãe, era chutada, quando Clarisse morreu, ou até mesmo as vezes em que lembrava sua morte. Impulsos que não lembrava de sentir a meses. Eu precisava.

Achei a gilete que eu queria, mas, ao mesmo tempo, que algo me dizia que eu precisava tirar esse peso de mim, outra coisa me dizia que era errado, que eu não deveria.

- Quase sete meses. Isso significa algo, não é? - Segurei a gilete analisando-a. - Isso tudo é por causa do Allan? - Talvez eu soubesse a resposta, só não queria ouvi-la.

Por anos antes de fugir tive problemas com lâminas, não sei dizer exatamente quando isso começou, mas sei quando se tornou frequente. Após a morte de Clarisse, isso se tornou tão frequente que não havia mais espaços em meus braços o que me levou as pernas, mas quando se tornou óbvio de mais, Carlos e Tomas não me deixavam muito tempo sozinha, nem mesmo em meu quarto, meses depois eu havia fugido e parece que tudo havia melhorado, até mesmo a relação com as bebidas.

- Quem eu estou querendo enganar? - Quebrei a gilete com um alicate de unha, nada fácil, mas nada que alguns minutos de dedicação não fizessem elas se soltarem.

Joguei duas, das três lâminas na gaveta e voltei para o quarto.

Deitei na cama, encostando a cabeça na cabeceira, rodei a lâmina entre os dedos sem parar, a olhando atentamente, como se a qualquer momento ela fosse criar vida e me atacar.

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