Capítulo 37

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Karla 

A garota era bem veloz quando queria ser, ela me puxou pelas escadas como se sua vida dependesse disso, mas talvez, só talvez, dependesse mesmo. Suas palavras ao Allan não foram nada gentis, caramba, o cara era super protetor e ciumento, era óbvio que ele surtaria, na verdade eu achei que ele chegou muito perto de explodir de raiva.

Quando Allan me falou sobre sua irmã mais nova e como ele era protetor, eu tinha certeza que era algum tipo de exagero. Meu irmão se diz protetor, mas na verdade ele está se fodendo para mim, mas claro, nós estávamos falando do Allan, eu deveria esperar algo assim.

A garota me levou direto para o seu quarto, eu nem conseguia enxergar direito para onde ia, só sei que quando dei por mim estava dentro do seu quarto e Sammy estava andando de um lado para o outro na frente da sua janela e não passava segundos sem olhar para fora, era visível todo o seu nervosismo, até estava roendo as unhas.

Deixei Sammy com todo o seu nervosismo de lado e desviei toda a minha atenção para o quarto. Era bem menor que os quartos do porão. As paredes, cortinas, escrivaninha, cadeira, prateleiras, cabeceira, tudo em seu quarto era branco, isso me dava a sensação de estar em um quarto de hospício, mesmo sem nunca ter entrado em um. As prateleiras que haviam ali também estavam repletas de troféus e medalhas. Deus, eles competiam para ver quem tinha mais daquelas coisas, era a única explicação para o que meus olhos viam. Mas algo se destacava nesse quarto que era completamente diferente do quarto de Allan e Samara. Haviam quadros nas paredes, muitos deles. Pequenos, médios, grandes, bonitos, esquisitos, feios e alguns até assustadores.

Isso me gerou uma curiosidade até que grande, era sempre o mesmo estilo de desenho e pintura, mesmos traços. E enquanto Sammy continuava a andar desesperada pelo quarto eu me aproximei mais de uma das paredes para analisar os quadros melhor. Em um canto quase apagado de todos os quadros próximos de mim estava assinado Samantha.

- Você que desenhou? - Perguntei mantendo toda a minha atenção nos quadros.

- Sim. - Deu uma pausa e bateu as mãos.

- São legais, assustadores... Mas legais. - Virei-me para encará-la.

- Obrigada. Eu precisava me sobressair em algo que não tivesse ligação a matemática, química, assassinatos e esportes. - Encolheu os ombros. - É meio frustrante ter uma família em que todos se dão bem nessas áreas, menos você. Eles são ótimos em tudo que fazem, mas parece que deixaram para mim tudo que eles não queriam. Só fiquei com os genes ruins. - Riu. - Felizmente eu descobri algo que me fazia bem, algo que me diferenciava de todos eles. - Olhou para fora. - Descobri que tenho identidade própria e que não sou mais uma Stewart perfeita. - Respirou fundo apoiando os braços na janela. - Sou uma negação em números, minhas notas são péssimas, não sou boa em quase nada na verdade, isso deixa meus pais completamente malucos, porque afinal, eu fui a única Stewart a não seguir os mesmos passos... Mas, pelo menos sei dar uns bons socos.

- Você parece ser boa em muitas coisas. - Apontei para as prateleiras.

- Mas não tão boa quanto meus irmãos. São todas de competições, pratico algumas modalidades de luta, mas é só.

- Algumas? - Pareciam muitas.

- Sim. - Ela riu. - Pratico desde os quatro anos... dois, se levar em consideração meu irmão achar divertido me ensinar a dar socos e chutes. Ah, deve ter sido ótimo, até o momento em que dei um soco na cara de um garotinho na creche. - Olhou para os seus dedos sorrindo. - Meu pai sempre achou importante, sabe? Saber se defender sozinha, não precisar de ajuda de ninguém. Importante também pra faculdade. Samara parou com tudo logo depois da sua formatura. Allan parou dois anos depois por causa do trabalho, ele sempre competia. Andy, bem, ele ganhou mais competições do que Samara, Allan e eu juntos, ele leva essa coisa pra valer, duvido muito que pare, é a área dele. E eu, já desisti de duas modalidades, ainda faltam algumas, mas já sei me defender bem, e não sei se vou chegar até o último ano de faculdade praticando, não é pra mim. - Abri a boca para perguntar o por que ainda praticava se não fazia tanto seu gosto, mas não foi preciso, ela respondeu antes. - Você conheceu minha mãe, ela é uma pessoa difícil, eles não aceitam que eu deixe tudo, já foi bem difícil fazer com que me deixassem entrar para o curso de desenho e bem, eu preciso de uma bolsa de estudos. - Seus olhos me encararam de cima a baixo, ela inclinou a cabeça para o lado e estreitou os olhos. - Você pratica algo?

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