Capítulo 15

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Já havia se passado alguns dias desde o "incidente" com Zoe. Que eu claramente sabia quem havia feito, mas claro que, Karla não sabia. Karla também já havia voltado para o seu quarto, eu até instalei uma tranca extra na porta para quando ficasse sozinha. E por mais incrível que parecesse tudo estava tranquilo, a garota não aprontava há alguns dias, acho que era medo de não poder ir a missa de hoje que ela tanto queria ir, a missa da morte de dois anos da amiga. Pelo jeito os pais da garota eram religiosos, e todo ano faziam essa missa.

Então eu gastaria o meu precioso tempo, que parecia não ser tão precioso assim, em uma missa. Adorável, eu sei.

Desde criança eu nunca gostei de ir a igrejas, minha mãe tinha uma religião, mas que ao longo dos anos ela foi mudando seu pensamento completamente, cada domingo ela nos arrastava para uma igreja diferente, isso nos ajudou a não julgar nada, nem ninguém. Sempre aparecia porque era obrigado e ponto, mas depois de longos anos, morando sozinho, eu eliminei os domingos de devoção religiosa da minha vida. Poderia acreditar em Deus, mas estava cansado de mais para sair da minha casa para ir a um culto. Porem quem conseguiria me levar a uma missa depois de tanto tempo? Pois é, Karla Sullivan.

Entrei em seu quarto sem bater. As vezes, mas só as vezes ela deixava a porta aberta, na verdade esquecia de usar a tranca extra que eu havia colocado, e quando eu pegava a porta aberta, fazia questão de acordá-la de um jeito não agradável para ela lembrar de sempre usar a segunda tranca. Eu estava tirando sua privacidade, justo eu que sempre odiei o fato da mãe entrar sem bater em meu quarto, mas quem ligava para isso? Eu não!

Mas nos últimos dois dias, ela estava esperta. Acordava alguns minutos antes, abria a porta e logo ia para o banheiro para se arrumar. Ou seja, ela estava começando a pensar.

E ela estava lá sentada na cama comendo aqueles malditos salgadinhos com cheiro de chulé e com um sorriso de vencedora nos lábios, mas infelizmente não estava vestida para sairmos logo da escola.

- Sabe, eu acho que essa coisa de entrar sem bater no meu quarto é pra me ver nua. - Ela estava falando com a boca cheia e eu estava prestes a mandá-la engolir. - Isso faz sentido. Você não bate na porta, me acorda de um jeito que me faz querer gritar para o resto da vida. Talvez você queira que quando eu veja você, grude em seu pescoço e nunca mais solte. - Ela deu meio sorriso humorado.

- Você está falando nada com nada. - A encarei, mesmo a primeira opção ser um tanto tentadora. - E o que você está fazendo sentada ai? Vá se arrumar logo. - Pedi.

- É, eu estava fazendo isso, mas decidi te esperar. - Ela levantou-se. - Eu preciso de ajuda e não tinha ninguém no corredor. Então vejamos. É uma missa, certo? Eu uso o que em uma missa? Tem cor apropriada para isso?

- Não tenho a mínima ideia. - A olhei com tédio. - Talvez preto.

- É, eu pensei nisso também. Já que é uma homenagem a alguém que morreu. – Ela abriu a porta do armário e começou a tirar algumas peças. - Mas pode ser esquisito também, não pode? Sei lá, preto é luto, mas acho que deve ser a cor mais neutra no momento, não posso chegar lá com roupas mais coloridas que meus cabelos. - Ela curvou a boca e me olhou com várias peças de roupa nas mãos. - Não ache que eu vou dar o prazer da minha beleza física aos seus olhos. - E se trancou no banheiro.

- Karla, eu não estou tentando ver você nua. Só estou tentando controlar sua irresponsabilidade. - Mexi em meus cabelos.

- Me assustando quando esqueço a porta aberta? - Karla perguntou brava. - Você vai me matar do coração, prefiro achar que quer me pegar pelada.

- Se faz você feliz. - Dei de ombros e fui para a poltrona como sempre e a esperei sair do banheiro.

E o que ela estava fazendo lá dentro afinal? Já havia passado quase meia hora e ela ainda não havia saído nem para dizer que estava viva. Eu estava prestes a me levantar quando a porta se abriu e ela parou na minha frente com os olhos fechados.

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