Capítulo 19

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Levantei bem mais tarde do que de costume. Karla estava suspensa e não tinha o por que acordá-la, até porque ela deveria estar de ressaca. E se ela não estava, eu estava por ela. Minha cabeça estava latejando e eu nem ao menos havia falado com Charles ainda, não queria falar tão cedo também.

Bati na porta do quarto de Karla e como não houve resposta eu virei a maçaneta. Porta aberta. Ela estava realmente querendo me provocar, tirar do sério, me irritar com esse ato. Fechei os olhos segurando a vontade de jogar água em seu rosto, respirei fundo e me joguei na poltrona perto da janela. A garota deveria ter passado mal a noite toda e apesar de estar relutante em deixá-la dormir eu o faria.

Seu corpo todo estava coberto, até mesmo a cabeça, ela estava de barriga para baixo e um dos braços caiu ficando suspenso na cama o que me deu a visão perfeita de uma cicatriz que tomava todo o seu pulso, uma cicatriz de queimadura e das graves.

O que ela havia feito para ter uma cicatriz de queimadura daquela intensidade em seu pulso? Alguma coisa me incomodou em ver aquilo em seu braço, estava curioso para saber o que causou e o por que, não era muito comum adolescentes terem esse tipo de cicatriz, não no pulso.

Karla não se mexeu muito no tempo que eu fiquei ali em seu quarto a observando dormir, mas horas depois ela começou a ficar agitada na cama seu braço que estava caído tremeu e ela gritou.

- NÃO! - Ela revirou-se na cama desesperada e sentou-se. - Puta merda. - Suas mãos seguraram a cabeça e ela choramingou.

- Acordou. - A encarei. Karla virou para me olhar e correu para limpar as lágrimas que escorriam pelo seu rosto. Ela estava tendo um pesadelo.

- São dez da manhã, por que não me acordou? - Ela finalmente me olhou, seus olhos estavam avermelhados e inchados.

- Porque está suspensa.

- Ótimo, dia de folga. - Revirou os olhos e abriu a gaveta pegando um frasco de comprimidos e tomou um deles no seco.

- Eu não contaria com isso. - Dei meio sorriso. - Vocês terão uma reunião com Katharine mais tarde. Devo dizer que não vai ser nada legal. Ela expulsou dois alunos ontem a noite e se arrumar provas que os outros alunos também tenham usado, vai expulsar cada um de vocês. E eu vou achar pouco se ela o fizer com você. - Apontei para ela. - Mas não acredito que ela consiga alguma coisa. - Respirei fundo. - Estava chorando?

- As vezes eu acordo chorando. - Sua voz saiu fraca. - Longa história.

- Se quiser falar...

- Está ligado a Clarisse. - Foi sua vez de respirar fundo. - Eu a vi... Morrendo. - Engoliu seco e olhou para o chão. - Eu sempre vejo na verdade.

- Você a viu se jogar, naquele dia? - Karla apenas balançou a cabeça em um não. - Então o que?

- Eu sempre sonho com ela... Sempre! - Ela me olhou por alguns segundos. - Nós conversamos, rimos como riamos quando ela era viva e de repente ela está morta. - Balançou a cabeça em um não. - O final sempre muda, mas ela sempre acaba morta. - Olhou o teto por alguns segundos. - Eu preciso comer algo.

- Você precisa desabafar as vezes Karla.

- Eu não posso. - Sua voz se elevou e ela bateu a mão na cama. - Isso me faz relembrar. As ambulâncias, os paramédicos o corpo dela caído, a polícia na porta do nosso quarto, meu irmão me segurando para que não surtasse. Eu não posso dizer para todo mundo que eu sempre a vejo se matando, que sonho com isso quase todos os dias, que criei medo de altura, por causa dela. - Lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto. - Dói toda vez que falo nela. - Ela levantou sem se dar conta e veio em minha direção com lágrimas no olhos.

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