Capítulo 38

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Minha mãe me acordou aos tapas depois que amanheceu,me mandando levantar com uma calma que não era dela, o sono ainda estava a dominando, caso contrário eu já estaria de pé e vestido. O café já estava pronto e ela queria que eu subisse. Mas claro, antes de sair do quarto fez um bom discurso sobre eu ter que tomar o banho do dia e colocar uma roupa decente, já que estava de cueca.

A cozinha estava silenciosa, isso porque apenas minha irmã estava a mesa tomando café e comendo torradas. Sammy costumava ser bem contida, quase nunca gritava, pelo menos, quando estava em casa. Então tudo era muito sossegado com ela ali, o único problema era aquela boca que dizia coisas que não deveria.

- Não foi para escola, por quê? - Olhei para o relógio sabendo que já estava tarde. - Já é tarde. - Bocejei.

- Pintura. Tinta tóxica e tal. - Deu de ombros. - Fomos dispensados. Mas tenho um trabalho, vou sair daqui a pouco. - Concordei com a cabeça.

- Ah. - Puxei a cadeira e me sentei ao seu lado. - Onde está Karla?

Sammy me lançou um olhar que lembrava muito o da nossa mãe.

- Eu sou sua irmã, me dê um pouco de atenção também, eu mereço. - A encarei de volta e ela riu. - Está na cama, disse que ficaria mais um pouco porque não dormiu muito bem. Aham, e eu faço de conta que você não quebrou uma das regras da mamãe.

- Sammy... - Seu nome saiu em um tom de aviso.

- Não vem com esse Sammy. - Imitou. - Sei que é um velho e que transa, todos nós sabemos disso. Mas não aqui, mesmo com a porra da porta fechada. - Deu meio sorriso. - Eu sei sobre a porta.

- Sammy... - Novamente o tom de aviso. Eu fecharia sua boca a força.

- Ah, vá cagar. Eu sei que ela desceu e escutei quando ela entrou toda ofegante e com pernas bambas. Se não deram uma boa rapidinha, foi um belo de um esfrega porque ela ficou muitos minutos no banheiro se recompondo.

- Samantha. - Elevei a voz. Ela me lançou um olhar assustado e riu. - Você tem uma irmã pra falar sobre isso, e provavelmente muitas amigas, então use elas e não eu.

- Mamãe fez panquecas para você. - Empurrou o prato para mim mudando de assunto. - E café forte. - Apontou para a caneca. Era hora de esquecer o assunto e realmente pular para outro.

- Amo estar em casa. - Resmunguei tomando um gole do café. - Caramba, por que meu café não fica desse jeito?

- Porque não é feito com amor e carinho. - Sammy riu. Essa seria a resposta que nossa mãe daria. - Eu tenho que ir, antes do meio dia eu estou de volta, eu acho. - Levantou-se, me deu um beijo na bochecha. - Você me deve uma partida daquele game de luta que você adora. Eu não esqueci. - Afastou-se indo em direção a porta. - E também prometeu olhar minha pasta de desenhos e dizer o que acha. - Fez um sinal e sumiu.

Sammy desenhava muito bem, eu sempre soube disso. Mas ela precisava que alguém dissesse sempre isso para ela. Tinha medo por ser a diferente da família, por não se destacar nas mesmas coisas que o resto de nós. Mas, pelo menos, ela tinha alguma individualidade.

Estava terminando de comer a pilha de panquecas que minha mãe separou para mim, quando ela própria entrou pela porta da cozinha, caminhou em direção a sala, mas parou no meio do caminho para me encarar.

Deus seja pai e que toda a proteção do mundo caia sobre mim, porque eu não merecia aquele olhar.

- Ela desceu ontem! - Não foi bem uma pergunta, mas eu me senti no direito de me defender.

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