55. EXTERMINEM.

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DURINA CONFIRMOU que a previsão colorida iniciaria exatamente na hora do nascimento de Sarah: dezenove horas e dezoito minutos.

No Salão dos Tronos estavam os representantes de Cerna, de Relana e mais quatrocentos representantes de Durina, entre guarda, integrantes de famílias ilustres, conselheiros, estudiosos e amigos da Linhagem.

Abaixo da escadaria dos Tronos, um elegante pedestal aguardava o Olho do Feiticeiro. Em qualquer previsão, era o lugar obrigatório do precioso Talismã da Linhagem.

Às sete horas em ponto, a Linhagem entrou em seu Salão dos Tronos. Os Reis vinham à frente; logo depois, Sarah e Enrique, o companheiro que muitos viam pela primeira vez. A ausência de natils arrancou comentários em surdina de todo o salão porque, habitualmente, os natils eram entregues assim que o companheiro chegava ao Palácio.

Jamion de Relana dissimulou um sorriso feroz que insistia em escapar. Se Durina ainda não tinha entregado os natils, aquele pirralho insolente não era considerado parte da Linhagem e podia ser morto em qualquer lugar, até no Salão dos Tronos. As instruções por sinais alastraram-se na guarda: o superficiano era alvo prioritário também.

Patriarca e Matriarca entraram atrás de Sarah e Enrique.

A Linhagem de Senira, ao pé da escadaria dos Tronos, à direita, sorria amarelo. O Lorde de Moolna, à esquerda, observava impassivelmente. Os Patriarcas de Cerna estavam ao lado dele.

Os Reis de Durina subiram até os Tronos.

Enrique, como pessoa requisitada pela previsão, podia ficar onde quisesse. Ficou a cinco metros do pedestal, e Sarah postou-se ao lado do companheiro.

A Rainha Darah, herdeira de sangue da Linhagem, retirou o Olho do Feiticeiro de seu nicho e desceu as escadarias com o coruscante Talismã nas mãos. O Olho do Feiticeiro brilhava e chispava de forma impressionante, tão cheio de luz e cores que todo o resto do Salão parecia opaco, escuro, sem vida.

– Desde que você chegou, Durina está treinando você pra VER!

Enrique, que antes não podia olhar o Talismã sem ficar ofuscado, agora conseguia olhar diretamente para ele. Abstraiu o Salão repleto de gente. Havia a previsão. Havia o perigo. Havia coisas demais misturadas! Lila tinha razão: Durina o estava treinando para VER.

Portanto, agora era a hora de VER.

***

O JOVEM SE CONCENTROU no Olho do Feiticeiro, que se aproximava nas mãos da Rainha. As cores brilhavam em clarões, a luz fulgurava em todas as nuances. Era um espetáculo fascinante, capaz de encantar qualquer olhar com sua cambiante beleza.

Qualquer olhar, exceto o de Enrique.

Ele não estava encantado. Estava incomodado. Seu instinto esperava uma sequência de cores e, depois da terceira ou quarta mudança, a sequência se perdia. Esperava um clarão, mas ele não acontecia. Um padrão se esboçava e, instantes depois, desaparecia. Um novo padrão então surgia, tentando compensar seu antecessor. E também se perdia.

Outros olhos mal distinguiriam as cores no lusco-fusco do Olho do Feiticeiro. Os olhos de Enrique distinguiam cada cor separada, cada lampejo único, cada clarão individualizado. Invisíveis no negrume da íris e pela primeira vez exigidas em todo seu potencial, as pupilas primeiro alongaram-se para cima e para baixo, transformando-se em fendas estreitas como pupilas de gato. Depois, alargaram-se e se tornaram quase esféricas, ocupando todo o espaço da íris. Eram olhos de Antigo, aptos a ver o que ninguém mais enxergaria. E a mente de Enrique, sua genialidade na identificação de fluxos, podia usar o que seus olhos viam de uma forma que ninguém mais usaria.

Olho do FeiticeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora