SARAH VOLTOU EM vinte minutos, lindíssima num vestido azul. A saia solta e drapeada ia até os tornozelos; no busto, os drapeados eram mais apertados e desenhavam um decote elegante e tentador. O cinto era largo, de metal prateado, todo filigranado. Ela não usava colar, apenas brincos. Nos pulsos, os braceletes prata-dourados reluziam. Os cabelos cacheados estavam ligeiramente presos para trás. E, na mão, ela usava a aliança e o anel dados por Enrique.
– Uau! – Enrique sorriu, encantado. – Você está fantástica!
– Obrigada, e... Desculpe meu estouro de agora há pouco. É que Lila é... difícil. É um amor, mas é espaçosa demais!
– Tudo bem. Seu pessoal disse que ela é assim porque gosta de você, de modo que, por tabela, eu já gosto dela!
– Não há como não gostar dela, Enrique. – Sarah sorriu também. – Espero que ela goste de você, porque Lila sabe ser insuportável se não gosta de alguém... Mas não se preocupe, acho que ela não sabe o idioma da superfície. Assim, você escapa!
Em dez minutos, Sarah respirou bem fundo e avisou Enrique que Senira havia chegado a Durina. Enrique reativou as faisquinhas, curioso com a opinião delas sobre Senira.
As faisquinhas azuis de Durina pareciam tontas, sem saber o que fazer. E Senira não gerava faisquinhas. Gerava saltitantes estrelinhas que ora eram cintilantes e verdes, ora brilhavam em branco puro. As estrelinhas corriam enlouquecidamente por todos os lados e, quando a primeira tocou a barreira que surgira de novo em torno de Enrique, a maior parte das outras convergiu para o surpreso rapaz. Aglomeraram-se do lado de fora da barreira, aflitas para entrar.
– O que você está vendo aí? – suspirou Sarah.
– Tem uma multidão de estrelinhas tentando passar pela minha barreira. Tem muitas perto de vocês também, mas, puxa, isso aqui em volta de mim é quase uma... invasão!
– Você acaba de definir a sensibilidade de Senira, meu companheiro.
***
UMA ONDA DE ESTRELINHAS surgiu perto da parede. Alguém de Senira havia se transportado para a antessala. Enrique não teve chance de avisar à Sarah e família, e nem eles tiveram chance de avisar a Enrique, porque a porta foi aberta de supetão e uma garota entrou correndo, rindo, gritando e atirando-se para Sarah num abraço tão enlouquecido quanto suas estrelinhas.
Enrique estava ao lado da companheira e se afastou um passo, espantado.
A garota tinha a estatura de Sarah, mas era ainda mais esguia, com corpo e rosto de menina. Os cabelos eram louros e muito compridos; os olhos eram claros, Enrique não conseguira ver a cor. Usava um vestido verde e prateado que ia até os tornozelos. Falava sem parar naquele idioma que Enrique não entendia. E brilhava.
Enrique desativou a visão para faisquinhas e a garota continuou brilhando. Ele lembrou que aquela gente brilhava mesmo, como os imperiais de Durina tinham feito no mar.
Lila de Senira, ainda abraçada a Sarah, virou para Enrique sorrindo.
Ele piscou, meio atordoado com o sorriso e a beleza extraordinária da princesinha de Senira. Ela era uma menina... fascinante! Encantadora! Irresistível! Maravilhosa!
Lila disse alguma coisa, Sarah respondeu e Lila riu de novo, mais deslumbrante ainda.
– Como assim, Durina não está traduzindo?! – A princesa de Senira riu, falando com perfeição o idioma da superfície. – Depois meu Palácio é que é maluco, né?!
A etiqueta entre Linhagens mandava Enrique ser formalmente apresentado. Lila ignorou a formalidade, é claro. Aproximou-se de Enrique em passinhos tão saltitantes quanto suas estrelinhas, sorrindo sempre, mãos nas costas, cara de menina moleca. Rodeou o encantado novo príncipe de Durina, que não conseguia tirar os olhos dela. Lila encerrou sua verificação cheia de sorrisos, hms e ahs e parou de novo na frente do rapaz.
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Olho do Feiticeiro
FantasiaJá há dias o brilho e as cores do Talismã se intensificavam. Rei, rainha e princesa se revezavam na vigilância até que, depois de seis longos anos de silêncio, o Talismã abriu-se ao contato. O Rei chamou a esposa e a filha; assim, os três integrante...