69. LEALDADE A ESTA LINHAGEM

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Ok, está tarde e atrasado.

Mas são mais de 3.500 palavras escritas agorinha!

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– SE VÃO FICAR TÃO PERTO da nossa Linhagem, é bom acostumarem com situações destas! – avisou Lila, saboreando seu segundo cacho de uvas. – Porque acontece muita coisa em Senira que o Império nem imagina!

A frase era o gancho que Sulon estava esperando desde o início do jantar, e ele rapidamente lançou sua pergunta ensaiada:

– E por que, alteza, nós fomos trazidos para tão perto de sua Linhagem? É uma honra muito grande, mas nosso lar é em Durina.

– Porque, hoje, vocês pararam sorridentes e lindinhos na minha frente, e mentiram! – Lila encarou o rapaz, do outro lado da mesa. – Mentiram deslavadamente! Mas também pareceram uns caras decentes e, por isso, eu trouxe vocês pra cá, em vez de entregar pra tia Darah e deixar ela lidar com guardas mentirosos de Sarah. Senira tolera mentiras de bom coração melhor do que qualquer outro Palácio, e parecia que vocês estavam fazendo bem isto: uma mentira de bom coração. Nem precisei convencer vocês a virem. Vocês vieram sozinhos, arrastados pela admiração de um criale por outro. Eu só pretendia ver que raio de mentira era aquela e despachar vocês de volta com um bom carão.

Obviamente, era uma mentira tão deslavada quanto a deles; desde que pusera os pés em Durina naquele dia, o objetivo de Lila era trazer seu ga-ro-to para Senira. Com o tempo, Denaro e Sulon descobririam outra característica da Linhagem de Senira: eram os maiores e melhores mentirosos do Império. Muito provavelmente, os melhores mentirosos da Terra inteira.

– Daí descubro que a causa da mentira é justamente você ser criale. – Lila se voltou para Denaro, ao seu lado. – O que já começou a complicar as coisas porque, como eu disse, nenhuma Linhagem dos Reinos tem mais sangue criale do que a nossa. E, quando você falou do Verde de Chor, aí não tinha mais saída mesmo! Você TINHA que entregar seu segredo, mesmo que Senira tivesse que entregar uns em troca!

Denaro ensaiou uma pergunta, mas Lila calou-o com um gesto, voltando-se mais uma vez para Sulon.

– Não, vocês não são prisioneiros de Senira. São, como papai disse, hóspedes por tempo indeterminado. E quem vai determinar esse tempo são vocês!

Os dois rapazes se entreolharam, sem entender.

– Denaro já forneceu as informações que Senira desejava – disse a Rainha. – Gostaríamos de mais detalhes, Denaro, mas, se for seu desejo partir, você é livre para isto. Você é igualmente livre para partir, Sulon. No entanto, se optarem por partir, devem esquecer tudo o que ouviram e disseram dentro do nosso Palácio. Senira vai apagar suas memórias e implantar uma visita totalmente convencional, e encontraremos alguma justificativa para a demora em retornar a Durina. Como nada do que disseram é uma ameaça à segurança de Durina, é uma alternativa aceitável mesmo para membros da guarda da princesa.

– Esquecer?! – ecoou Denaro, olhando a princesa que amava e depois seu pai, um lendário guerreiro tritão. – E se eu não quiser esquecer?!

– Esquecimento e retorno pra Durina, lembranças e permanência em Senira – resumiu Lila. – Vocês podem escolher. Escolher ficar quer dizer aceitar as nossas regras.

Esquecer, avaliou Sulon. Esquecer de tudo... E voltar para Durina, onde era um respeitado membro da guarda que logo se tornaria oficial. Ou ficar em Senira, junto daquela Linhagem que, em poucas horas, tinha fornecido mais informações e surpresas do que Durina em uma vida inteira. Denaro ficaria, sem dúvida. Com sua princesa. Mas a família de Sulon pertencia a Durina.

Olho do FeiticeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora