2.800 palavras.
E um monte de explicações.
**************************************************************************
DESDE MUITO CEDO, Linhagens prudentes ensinavam seus jovens a não confiar em Palácios. Uma das diretrizes básicas de um Palácio era proteger sua Linhagem, mas era importante ter consciência de que proteger a Linhagem não significava que o Palácio era obrigado a proteger todos os membros dela. Evidentemente, um Palácio procurava defender, da melhor maneira possível, o maior número possível de representantes de sua Linhagem; quanto mais deles houvesse, mais segura a Linhagem estaria. E porque os Palácios eram muito eficientes em suas tarefas de proteção, e porque as Linhagens costumavam não enfrentar maiores ameaças...
Abrir parêntese.
A maior ameaça a uma Linhagem costumava ser outra Linhagem. Quando integrantes de Linhagem se enfrentavam, um morria. Isto não era considerado falha dos Palácios; era considerado assuntos de Linhagem.
Fechar parêntese.
... Esta antiga lição era esquecida. Costumava ser lembrada de formas bastante dolorosas e fatais.
Relana, uma Linhagem que há muitas gerações tinha apenas um filho, esquecera, porque o Palácio sempre defendia furiosamente seu único herdeiro.
Mas, agora, o único herdeiro era o principezinho quase-nascido, e a maior ameaça à sua vida era seu próprio pai.
Se Relana poderia ter defendido Jamion quando ele fora atacado por Senira? Sim, poderia. Se teria defendido, caso Jamion ainda não tivesse um filho e isto o caracterizasse como o único herdeiro da Linhagem? Sim, teria defendido. Mas, por outro lado, Relana sabia que o Palácio de Senira não tentaria matar o primeiro herdeiro de outra Linhagem. Senira era um Palácio poderoso e esperto demais para isto.
Se Jamion fosse considerado um integrante de Linhagem que valia a pena defender, Relana teria, inicialmente, atenuado seu ódio para com Senira, distraindo-o com outros objetivos. Um tanto de pressão mental discreta seria suficiente. Caso este recurso falhasse (e falhava, porque havia limites de quanto um Palácio podia interferir com sua Linhagem sem ser percebido), Relana tentaria focar a raiva de Jamion em Durina, que era um Palácio muito menos perigoso. Esta pressão mental discreta costumava ser suficiente para guiar a Linhagem para onde o Palácio queria, afastando-a de problemas. Quando a pressão mental não funcionava, o Palácio criava obstáculos à execução do plano indesejado. Como, no Império, os planos indesejados eram quase sempre atacar alguém ou alguma coisa, o irritado integrante de Linhagem de repente escorregava e quebrava o braço da espada. Um infeliz acidente, é claro. O tempo de recuperação era suficiente para o Palácio, sempre agindo com discrição, fazer sua Linhagem descobrir outro interesse mais imediato.
Nada disto funcionou para evitar o problema em potencial? Restava um recurso extremo, em se tratando de Senira: a verdade.
O Palácio Imperial de Relana poderia ter alertado o Imperador que, apesar de todas as flores e brilhos do Palácio, e apesar de todos os chiliques da Linhagem, nenhum inimigo jamais colocara um pé nas lindas gramas verdes de Senira. Relana poderia ter informado que as correntezas e tempestades que Senira podia criar eram tão potentes que, no final, se tornavam tão eficazes quanto a camuflagem dos demais Palácios, porque ninguém, nem mesmo um Imperador, se aproximava do perímetro de Senira sem a permissão do Palácio. Senira, com sua diabólica sensibilidade, era o único Palácio à prova de espiões e intrusos do Império inteiro.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Olho do Feiticeiro
FantasyJá há dias o brilho e as cores do Talismã se intensificavam. Rei, rainha e princesa se revezavam na vigilância até que, depois de seis longos anos de silêncio, o Talismã abriu-se ao contato. O Rei chamou a esposa e a filha; assim, os três integrante...