Os Tronos de Durina eram cristal azul no centro de uma grande bola de energia da mesma cor. Silenciosos raios, brilhantes e claros, conectavam os Tronos à abóbada do teto, mais acima. A energia escorria deles e mergulhava nos degraus superiores.
Não havia mais enjoo, mas Enrique se sentia estranho, meio tonto. Engoliu em seco ao ver a energia se movimentando... Abrindo passagem!
– Quer tentar subir mais um degrau? – Sarah sorriu para o companheiro que apertava forte sua mão.
– Há raios subindo para o teto... Luz escorrendo pelos degraus. Tem vinte vezes mais luz no próximo degrau do que neste onde estamos... Talvez por isso as pessoas só consigam chegar até aqui. E eu... posso subir. A luz abriu caminho para mim daqui até lá. – O dedo de Enrique traçou uma reta que iniciava no degrau acima e terminava no espaço entre os dois Tronos de Durina. – O que tem lá, entre e atrás dos Tronos? É completamente negro. Do jeito que tudo brilha aqui, devia haver luz atrás dos Tronos. Mas não há. O que está escondido lá?
– O Olho do Feiticeiro.
O rapaz olhou o Rei, autor da resposta.
– Eu sei que posso ir até lá, senhor... Posso ver o caminho. Mas eu devo?
– Se Durina está convidando, sim, você deve.
Enrique olhou Sarah, engoliu em seco mais uma vez e, com a companheira, pisou no degrau de cima, ingressando no setor da escadaria ao qual apenas a Linhagem tinha acesso.
Diante dos olhos perplexos dos adultos, os jovens subiram degrau depois de degrau, sem pressa, na velocidade de Enrique. Chegaram ao patamar dos Tronos sem qualquer reação de Durina, como se a mais legítima Linhagem estivesse no centro do seu poder.
Rei e Rainha, de comum acordo, subiram atrás dos herdeiros.
Enrique evitou tocar nos Tronos feitos de luz e energia. O espaço entre eles permitia a passagem de apenas um por vez e, sem soltar as mãos, Sarah foi primeiro, Enrique foi depois. Atrás dos Tronos, tornaram a ficar lado a lado.
Sarah via a parede de cristal azul e, nela, um nicho. Neste nicho ficava o Talismã de sua Linhagem: o Olho do Feiticeiro.
Enrique só via escuridão. Completa escuridão.
Sarah indicou o Talismã, o rapaz negou com a cabeça.
– Não vejo coisa alguma. Tudo é tão negro que não sei nem onde está a parede.
– Nosso Talismã é protegido pelo mais potente bloqueio do Palácio. – Vinda do outro lado do seu Trono, a Rainha Darah se juntou a eles. – Você vê poder e energia, talvez por isso pareça negro. Recuem um pouco, Sarah. Vou retirá-lo do nicho.
As mãos da Rainha desapareceram no negrume. Quando reapareceram, Enrique protegeu os olhos diante do clarão.
***
PARA SARAH, seu pai e sua mãe, o Olho do Feiticeiro era a familiar bola com núcleo negro e mil cores cambiantes, e brilhava de uma forma muito linda, mas não ofuscava.
Enrique, por sua vez, demorou vários minutos até afastar o braço e entreabrir os olhos.
– É como se vocês tivessem uma estrela de mil cores na mão... É difícil olhar.
– Em circunstâncias normais, podemos bloquear parte do poder do Talismã, mas, com a previsão tão próxima, não é prudente.
– Como eu vou ajudar, se não consigo nem olhar pra ele? A previsão vai ser aqui?
– Não. Costuma ser lá em baixo, no centro do Salão.
– E será que dava pra eu ver como o Olho do Feiticeiro fica, quando está lá?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Olho do Feiticeiro
FantasyJá há dias o brilho e as cores do Talismã se intensificavam. Rei, rainha e princesa se revezavam na vigilância até que, depois de seis longos anos de silêncio, o Talismã abriu-se ao contato. O Rei chamou a esposa e a filha; assim, os três integrante...