85. COMPROMISSO

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Enrique acordou bem cedo. Sua primeira pergunta a Durina foi sobre Sarah, mas a princesa continuava incomunicável. Fez o desjejum com o Rei e o Lorde de Moolna. A Rainha estava com sua (ainda furiosa) filha, tratando de convencê-la de que aquela não era uma boa postura para o dia de seu compromisso. Enrique estava bastante calado, comendo provavelmente sem saber o que comia.

– Gostaria de dizer para não se preocupar, Enrique. – O Rei largou os talheres, cruzando as mãos frouxamente sobre a mesa. – Mas a verdade é que não sei o que esperar de Sarah. Sua atitude nos dois últimos dias, encarregando-se de tudo referente à cerimônia, foi a mais adequada possível, mas parece não ter feito diferença para Sarah. O que quero dizer é que, durante a cerimônia oficial, Sarah vai se portar como a princesa que é. No entanto, quando a cerimônia acabar...

– Ela deixa de ser a princesa para ser só Sarah, de novo. – Enrique completou a frase que seu futuro sogro deixara pela metade. – Eu sei, senhor. Passar o que deveria ser nossa primeira noite juntos dormindo no tapete não vai ser surpresa alguma, isto se ela me deixar entrar no quarto. – O rapaz esboçou um curto sorriso. – Quando a raiva dela passar, vai dar para rir bastante desta história. Não é com isto que estou preocupado. É com o compromisso em si. Vocês disseram que eu sou uma coisa que nem sabiam que existia: um príncipe dos Antigos. E, até onde eu entendi, os Antigos chamam Antigos justamente porque já existiam quando os atlantes começaram a pensar num Império. Então, Antigos não são atlantes. Como podem ter certeza de que a cerimônia de compromisso vai funcionar comigo do mesmo jeito que funciona com os príncipes atlantes? Traduzindo, como podem ter certeza que os bloqueios que impedem o relacionamento físico antes do compromisso vão ser mesmo cancelados?

– Nas poucas vezes em que Antigos se uniram às nossas Linhagens, não houve problemas. – respondeu o Rei. – O cancelamento dos bloqueios funcionou perfeitamente.

– Mas em nenhuma das vezes o compromisso foi com um príncipe dos Antigos – opôs Enrique. – E se não funcionar comigo?

– Durina vai, com absoluta certeza, anular os bloqueios da mente de Sarah – assegurou o Lorde de Moolna. – Quanto a você... Sua Linhagem não é atlante, mas, em raras ocasiões, nossas Linhagens assumiram compromisso com Linhagens externas ao Império, e o poder dos Palácios sempre foi suficiente para quebrar os bloqueios pré-compromisso dos príncipes que chegavam a nossas Linhagens.

– Linhagens tarilianas?!

– Linhagens superficianas – esclareceu o Lorde. – Existem diversas com poder consolidado, apesar de não possuírem Palácios como os nossos.

– Quer dizer que nunca houve compromisso entre as Linhagens do Império e as de Tarilian? E que Linhagens superficianas são estas? Não tinham falado delas até agora!

– Você ainda tem muito a aprender, inclusive sobre as Linhagens da superfície. Sobre as tarilianas, Merine já levou alguns excelentes príncipes nossos, mas os deles nunca vieram para nossos Palácios. A última princesa levada para Tarilian foi justamente Triss de Criale. Se ela não tivesse sido sequestrada, seria nossa Imperatriz agora.

– Tarilian sempre leva os príncipes assim? Sequestrados?

– Nem sempre. Às vezes, a ida é voluntária.

– E estes príncipes nunca voltam, nem que seja para ver suas famílias?

– Não, Enrique. Não voltam. Nem os que vão voluntariamente, e muito menos os sequestrados. Por que tanta curiosidade, de repente?

– Como o senhor espera que eu não me sinta curioso com outro mundo habitado aqui dentro do Sistema Solar, doutor Carl? Vocês podem achar isso muito natural, mas, para mim, ainda é uma tremenda novidade! Por que só Relana consegue se transportar para lá? Se é tão difícil e exige tanta força, como a Linhagem deles consegue? Disseram que é uma Linhagem muito mais fraca do que as imperiais.

Olho do FeiticeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora