29. REIS DE ONDE?

365 42 1
                                    

O PREVISÍVEL ESPANTO surgiu no rosto de Enrique, mas ele não riu. Primeiras reações esperadas: espanto e se julgar alvo de uma brincadeira. Enrique só se enquadrou em um dos itens.

– Reis de onde?

– Não tenho permissão de dizer. É um lugar secreto e bastante escondido.

– Ah. Você é princesa de um lugar secreto. Como é o nome do lugar secreto?

– Não tenho permissão de revelar até levar você lá.

– E o nome da sua família?

Sarah encarou-o firme.

– Também não posso dizer. A essa altura, as pessoas costumam rir. Ou dizem para parar com a brincadeira, ou entram na brincadeira. Você não está fazendo isso.

– Se é brincadeira, é uma brincadeira que está deixando você com a cara mais séria que já vi. Vou partir do princípio que você poderia ter me aplicado essa lá no campus, sem precisar me trazer pra tão longe pra isso.

– Quer dizer que você acredita? – Sarah é que não estava acreditando naquilo.

– Quer dizer que estou ouvindo você e analisando o que está dizendo. Continue. Você é a princesa de um lugar secreto. É só você de princesa, ou tem irmãos?

– Sou filha única.

– Então é a princesa herdeira.

Sarah assentiu e ativou sua intuição na intensidade máxima. Aquele começo de conversa estava esquisito demais.

– Por que você saiu do seu lugar secreto e veio para a Escola de Entre Rios? Princesas devem ter um diploma antes de se tornarem rainhas?

A intuição gritou bem alto que ele não estava sendo sarcástico, estava sendo cauteloso. Estranhamente cauteloso!

– Não, não precisam. Eu vim para procurar meu companheiro: você.

A resposta fez a testa de Enrique franzir. A intuição avisou que a cautela dele tinha dado um salto acrobático para cima.

– Você veio me procurar? Não tem caras suficientes lá no seu reino pra você ter que procurar fora? Como sabia que eu estava aí na Escola Superior?

– Começando pela primeira pergunta, sim, eu vim procurar meu companheiro na Escola Superior. Não estava procurando você. Estava procurando alguém que eu sabia que estava na Escola. Quando nos conhecemos, eu soube que você era essa pessoa.

– Hm. Então não era eu, especificamente. Era um companheiro.

A cautela dele acalmou. Sarah se manteve bem atenta, não dando sinais de que estava entendendo mais do que ele falava.

– Não UM companheiro. O correto é O companheiro. Existem muitos caras de onde eu vim. Eu até gostava bastante de uns, e havia outros que meus pais gostavam bastante, mas não me apaixonei por nenhum deles.

– E a coisa do você é a princesa, precisa casar com o cara que nós mandarmos, ou então o cara que é interessante pro reino?

– Não tem. Minha escolha é livre e a única condição é eu estar apaixonada pelo meu companheiro. No momento em que me apaixono, ninguém mais tem o direito de interferir, não interessa quem eu tiver escolhido.

– Opa, isso é novidade! Não é desse jeito que famílias reais se casam. Sempre tem a parte das alianças, das conveniências e de você, como princesa, ter que pensar mais no seu reino do que em si mesma. E se você tivesse se apaixonado pelo pior inimigo de sua família, como ia ser?

Olho do FeiticeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora