135 - INÍCIOS E FINAIS

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– NÃO É UM bom momento, Sarah.

Ela o olhou consideravelmente surpresa.

– Você não era um dos que dizia que esse assunto era prioritário?

– É prioritário, mas, hoje, você é uma figura pública da superfície. Não pode desaparecer, muito menos de uma instalação militar como esta. A hierarquia e os maneirismos das Forças de Defesa estão menos rígidos do que no passado, mas a questão da segurança permanece. Seu sumiço não iria passar despercebido. E creio que a ida até Entre Rios por meios convencionais está descartada. Seriam horas de viagem com toda a mídia perseguindo, e muitas explicações a seus amigos no retorno.

Era lógico e sensato, mas fez a expressão de Sarah fechar.

– É claro. Você tem razão. Devo estar mais cansada do que imaginei.

Carl tocou a princesa no ombro com afeto.

– O trabalho de vocês permitiu que uma nave fosse à Lua e voltasse em segurança, Sarah. É uma grande conquista, que vai entrar para a história desse mundo. Você, Bel, Rafa, Clara e Trovão vão fazer parte dessa história tanto quanto a tripulação da Perseverança. A Terra inteira está festejando, e têm muitos motivos para isso. Aproveite. É uma ocasião única. Enrique pode esperar até pensarem que fomos dormir, e não acreditariam que dormimos agora.

– Não. – Ela esboçou um sorriso. A festança no controle da missão era bem audível, mesmo com as portas fechadas. – Não acreditariam, e nenhum de nós dormiria.

Como que para pontuar suas palavras, Trovão surgiu no corredor e acenou ao vê-los.

– Ah, estão aí! Venham! Vai ter uma comunicação fechada com Neco! Depressa!

– É, eu não teria como sumir. Vamos, Carl.

Comunicação fechada queria dizer uma conversa só deles, sem todo o controle da missão ouvindo. Os amigos já estavam empilhados em uma salinha com o telefone no viva-voz, falando com Neco. Ele estava cansado, mas eufórico e muito ansioso para conversar com os amigos. Não teve muita chance, porque a estação orbital 1 também estava tomada por uma tremenda festa.

– Eles resolveram que, como não saímos da nave, não precisamos de quarentena, só de algum descanso, e olhem, até que um banho e umas horas de sono tranquilo vão cair muito bem! Nós devemos descer em três horas, e nós, aqui, quer dizer as duas tripulações, a da Perseverança e da Valéria, o Costa e mais um povo. Gente, vocês não fazem ideia da sensação que é ver outra nave ao lado da sua, lá no meio de lugar nenhum! É tipo atestado que vamos mesmo ao espaço! De verdade, dessa vez! E quero todo mundo aí quando eu descer, ok? Tem muita coisa pra falar!

Prometeram que iam ficar, e que iam dormir também, assim que fosse possível.

– Porque tem muito mais gente na festa aqui embaixo do que aí em cima – explicou Trovão, sorrindo.

Quando desligaram, perguntaram a Bel se estava mesmo tudo bem ficarem. Ela fazia contato ao menos três vezes ao dia para saber do pai. De acordo com Rafa, desde o ajuste da medicação, ele dormia de dezoito a vinte horas por dia. O humor não tinha melhorado muito, mas estava comendo melhor. De acordo com o psiquiatra, que tinha vindo mais duas vezes checar seu paciente, era o efeito esperado. Conforme o organismo acostumasse com a medicação, a sonolência diminuiria. Quanto ao humor, teriam que esperar um pouco mais.

– Se eu não pudesse ficar, teria avisado na hora – assegurou Bel. – Papai estabilizou, Rafa está cuidando dele, então está tudo bem. Dessa vez, quero falar com Neco. Quero saber como é viajar no espaço logo depois da viagem, com todas as sensações e impressões fresquinhas. Vamos lá na festa, mas só um pouquinho. Eu, ao menos, preciso dormir. Foram dias cansativos.

Olho do FeiticeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora