DEZ DIAS SE PASSARAM desde a previsão colorida abortada e o desaparecimento de Enrique e do Olho do Feiticeiro.
Foram dez dias de silêncio.
Os Palácios dos Reinos Independentes souberam que o Imperador era um Rei Vermelho, receberam os relatos de Durina e Cerna sobre o massacre no Salão dos Tronos de Durina... Não fizeram perguntas nem comentários. Apenas lacraram acessos e meios de contato, tornando cada Palácio uma gigantesca trincheira de cristal inexpugnável. Até o contato entre Palácios foi cortado. Era mais seguro não confiar em ninguém enquanto o Vermelho estivesse no Trono.
As Mansões dos Lordes de Atlantis, belíssimas estruturas de cristal verde que rodeavam o dourado Palácio Imperial de Relana, bloquearam-se também. Eram Linhagens diretamente subordinadas a Relana, os ministros do imperador; no entanto, qualquer Linhagem era autônoma quando se tratava de sua sobrevivência. Não responderam aos contatos furiosos de Jamion de Relana, e as portas lacradas de suas Mansões ignoraram o ataque da poderosa espada vermelha que causara devastação em Durina. Nada podia arrombar uma Mansão que defendia sua Linhagem, e nenhuma Linhagem seria tola a ponto de abrir as portas pelo lado de dentro.
Enquanto o Imperador atacava as Mansões, a maior parte dos moradores e serviçais do Palácio de Relana fugiu. Os que moravam na água, em torno do Palácio, desapareceram também. A imensa área de águas rasas e transparentes que cercava o fabuloso Palácio Imperial ficou deserta.
Jamion de Relana estava sozinho. E enfurecido. E o maior alvo de sua fúria era uma bela Mansão de torres e arcos espiralados: a Mansão de Moolna.
Moolna pagaria. Sim. Um dia, Moolna pagaria!
***
MESMO NA SUPERFÍCIE, Carl de Moolna não retirava mais seus natils, mantendo-os escondidos sob a roupa. Sem saber como e quando Jamion de Relana retaliaria, estaria mais seguro no Império, em sua Mansão, mas alguém precisava encontrar justificativas para a ausência de Sarah e Enrique. A cidade ainda estava traumatizada pela quase-destruição da Escola Integrada e os questionamentos sobre Enrique se multiplicavam.
O Lorde de Moolna estava sozinho quando o cristal de Durina sinalizou, chamando-o para o Palácio. Com esperanças de que fosse alguma novidade sobre Enrique, o homem se transportou de imediato. Chegou e verificou o Palácio: não havia sinal do rapaz ou do Olho do Feiticeiro. Conteve um suspiro de impaciência. Dez dias, e nada!
O contato mental partiu de Sarah, saudando o convidado:
(– Boa noite, Lorde. Lila chega em alguns minutos. Acreditamos que o senhor gostaria de estar presente a esta conversa.)
(– Sim, é claro. Obrigado, Sarah.)
Carl de Moolna surgira naqueles que já eram seus aposentos, no Palácio de Durina. Trocou-se para roupas imperiais e foi para um dos salões contíguos ao Salão dos Tronos, onde Rainha e princesa aguardavam.
Sammal, o Rei, ainda passava a maior parte do tempo dormindo, devido à recuperação mental. A Rainha Darah mantinha sua impecável elegância, mas havia sinais de cansaço em seus olhos e em seu campo mental. Sarah usava roupas práticas, semelhantes às de sua guarda. Visivelmente mais magra, as enormes olheiras denunciavam que nem mesmo a força da Linhagem conseguia compensar as noites de insônia e a ansiedade pelo companheiro desaparecido.
O sinal de transporte de Lila veio contido, sem nada da alegria esfuziante tão característica da garota. Sarah mandou os guardas restantes se retirarem e, quando a princesinha de Senira surgiu, apenas Darah, Sarah e Carl de Moolna estavam no salão.
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Olho do Feiticeiro
FantasyJá há dias o brilho e as cores do Talismã se intensificavam. Rei, rainha e princesa se revezavam na vigilância até que, depois de seis longos anos de silêncio, o Talismã abriu-se ao contato. O Rei chamou a esposa e a filha; assim, os três integrante...