28. PRAIA

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SARAH ACORDOU junto com o Sol

Era sábado, vinte e dois de maio. Era o dia em que contaria ao seu companheiro sobre Durina e o Império. Não havia como evitar o nervosismo. O colar com o cristal de Durina saiu da bolsa e foi para o pescoço. Talvez ele se tornasse parte da explicação, talvez não. Sarah tentou não planejar demais.

Abriu sua janela. O céu estava azul e sem nuvens, o vento frio balançava os ramos mais finos das árvores, uma leve neblina se misturava aos canteiros. Logo desapareceria.

Vestiu-se e arrumou sua bolsa. Hesitou alguns instantes, mas acabou por incluir seu maiô e uma toalha. Essa havia sido o único pedido de Enrique, em relação ao passeio: já sabia que Sarah gostava de nadar mesmo na água fria (parte da descrição da primeira ida à Praia Perdida), mas, por favor, nada de natação! Ele não gostava de água e não queria nem pensar em Sarah nadando enquanto ele ficava na praia, olhando e torcendo para nada dar errado!

A garota desceu, pensou em fazer um lanche rápido no refeitório, mas desistiu. Nada passaria em sua garganta. Desceu para o saguão e ficou numa das janelas, esperando. E, de repente, teve um medo doido que ele mudasse de ideia e não aparecesse nunca mais!

Bem nesse momento e absolutamente pontual, Enrique apareceu na alameda. Com um sorriso de alívio, Sarah encontrou-o na base da escadaria.

– Bom dia, Sarah. – Enrique ensaiou um sorriso tímido. – Está tudo bem com você?

– Claro... E com você? Enrique, o que aconteceu?!

– Eu cometi a besteira de mencionar algumas coisas que aconteceram entre a gente à Donasô. Estou com as orelhas zunindo até agora e acho que ela precisou se controlar para não me espancar. Estou mais envergonhado do que ontem pelo papelão que fiz e, de acordo com Donasô, você devia ter chutado. Com força. Ela me fez jurar que até beijo de bom dia eu só daria depois de você permitir. Eu posso?

– Pode.

Ele cumprimentou-a com um selinho comportado e doce, e mais um sorriso.

– Então, bom dia. Quer que eu leve sua bolsa?

– Não precisa. Não está pesada.

De mãos dadas, foram até o estacionamento. O campus estava quase deserto àquela hora. O carro de Donasô, azul, bem diferente do de Enrique, misturava-se aos poucos que estavam ali.

Sarah entrou e colocou sua bolsa no banco de trás, junto a uma grande mochila. Por sugestão de Sarah, a cesta de almoço havia se transformado numa mochila, por causa da trilha.

– De acordo com o mapa, é só seguir pela estrada principal. – Enrique manobrou para sair do estacionamento. – Mas, se você quiser ser nossa navegadora, eu ficaria mais tranquilo. O mapa está no porta-luvas.

Como o campus, a estrada estava vazia. A viagem foi tranquila e a conversa também. Falaram do laboratório (o coração de Sarah mais uma vez apertou ao lembrar que afastaria Enrique de suas pesquisas), de Anabel, do tal Dia dos Namorados e daquele jeito esquisito de fazer uma festa de encerramento: secreta. Sarah garantiu que, nas aulas, o assunto começava a tomar proporções cada vez maiores, e havia muita gente tentando descobrir o segredo da festa. Era uma espécie de guerrilha. Se a comissão organizadora conseguia manter o segredo, era lembrada como uma das boas. Se não conseguia, estava desmoralizada!

– É uma coisa sem sentido porque a festa sai de qualquer jeito. – Sarah estava consultando o mapa mais uma vez. – Mas a comissão organizadora passa esses últimos dias no maior sufoco, porque parece ser questão de honra descobrir o segredo deles. Estamos quase lá, faltam só cinco quilômetros.

Olho do FeiticeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora