49. AS FAISQUINHAS

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ENRIQUE PISCOU, atordoado. Tinha desmaiado?! Por quê?!

Olhou em torno, verificando que estava numa cama enorme, em um quarto fabuloso. Os móveis eram estranhos, mas apenas móveis; paredes e teto, no entanto, eram do cristal azul cheio de faisquinhas.

Havia diversas pessoas falando de forma nervosa, um interrompendo o outro. Reconheceu a voz de Sarah, de seu pai e do doutor Janson. Virou-se, apoiando no cotovelo. Sim, eram eles, sentados em cadeiras e poltronas, parecendo planejar alguma coisa. Enrique, no entanto, não entendia uma palavra do que diziam. Estavam falando no idioma deles, o idioma do Império.

Sentou na cama, verificando que o piso era do mesmo cristal que paredes e teto. Colocou os pés descalços no chão e, como esperava, as faisquinhas se reuniram em torno deles, saltitantes e felizes. Coisa mais maluca. Lá no canto onde o grupo conversava, eram tantas faisquinhas reunidas que o chão brilhava e se mexia, tudo junto.

– Aham, com licença? – chamou Enrique, no que lhe pareceu a melhor maneira de interromper a conversa.

Todos se calaram ao mesmo tempo, olhando-o com estupefação. Sarah gritou de alegria, atravessou o enorme quarto numa corrida e atirou-se no companheiro, que se estatelou na cama com a garota por cima. Ela ria, chorava, beijava-o e falava sem parar, mas Enrique continuava sem entender uma sílaba. Segurou a cabeça de Sarah entre as mãos, sorriu e avisou:

– Sarah, calma! Não entendo nada do que você está falando!

Os outros já tinham se aproximado. O doutor Janson olhou Enrique com surpresa e fez o que pareceu uma pergunta, mas o rapaz também não entendeu.

– Olá, doutor Janson. Não tenho a menor ideia do que o senhor disse.

– Durina não está traduzindo pra você?! – Sarah estava perplexa.

– Agora eu entendi. Se você está falando na mesma língua que antes, então Durina traduziu.

– Não, eu estou falando no seu idioma agora!

– Então foi por isso que eu entendi.

O doutor Janson falou novamente no idioma deles, olhando Enrique.

– Não está acontecendo tradução alguma – concluiu o rapaz.

– Mas como?! – exclamou Sarah. – Durina SEMPRE traduz!

– Sarah, você deveria apresentar sua família – lembrou o doutor Janson.

Ainda com a calça jeans e a camisa da festa, o rapaz levantou para ser apresentado. Era uma família baixinha, verificou Enrique. Darah, a mãe de Sarah, era mais parecida com a filha pessoalmente do que na imagem, e acabou com o protocolo quando cumprimentou o rapaz com um caloroso abraço. Em torno dos pés dela, as faisquinhas eram tão compactas que o piso se tornava branco e cintilante. A avó, Marah, tinha a mesma estatura de filha e neta, e também prendeu Enrique num abraço forte. Sob os pés dela, as luzinhas formavam um halo menor, mas muito mais compacto. O último foi Tonar, o avô de Sarah, que o olhou de testa franzida e cara de poucos amigos.

– Você é pateticamente minúsculo, garoto! – disse ele, de repente, fazendo a família ter ganas de estrangulá-lo.

As faisquinhas sob os pés dele eram compactas, mas lançavam rápidos filamentos na direção de Enrique, como que tentando se conectar com as faisquinhas do próprio Enrique. O rapaz olhou o homem que, apesar de muito empertigado, ainda era diversos centímetros mais baixo do que ele. E respondeu, confiando na mensagem das faisquinhas:

– Lamento, majestade, não ter conseguido crescer até sua estatura.

Sarah chegou a se encolher, sem saber como o avô reagiria a uma resposta daquelas. Numa rápida espiada, Enrique viu as faisquinhas dele se imobilizarem um momento e depois girarem feito doidas. Estavam rindo.

Olho do FeiticeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora