59. PRISIONEIRO DE SUAS LEIS

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SARAH JUROU QUE não podia ter entendido direito. Palácio e Talismã, destruídos?! Como?! Olhou então o rosto grave do Lorde de Moolna, exclamando:

– O senhor já sabia!

– Palácios não sofrem lapsos como aconteceu aqui, Sarah. Mas Talismãs podem morrer e, quando morrem, levam consigo o Palácio a que pertencem. Pelo tempo de lapso, o Olho do Feiticeiro se salvou por pouco. De que forma isso se relacionou à previsão colorida e a Enrique, Darah?

A uma ordem da Rainha, o Palácio de Durina fez contato com sua princesa e com o Lorde de Moolna, repassando as informações que já prestara à Darah: a estruturação da previsão colorida havia iniciado há seis anos. Era a mais importante previsão desde o surgimento do Palácio, e seria crucial para a sobrevivência de todo o Império. A estimativa eram quatro anos de amadurecimento. Quando a previsão tinha três anos, ou seja, três anos atrás, Jamion de Relana estivera secretamente no Salão dos Tronos de Durina. Obedecendo às ordens do Imperador, o Palácio liberara seu acesso ao Olho do Feiticeiro. No momento em que o Imperador colocou as mãos no Talismã, passou a estar o coração de Durina como refém; por isso, o Palácio havia sido obrigado a assistir, impotente, enquanto o Imperador tentava destruir a previsão. Jamion de Relana usara todo o seu poder, inclusive o de Rei Vermelho, para alcançar seu objetivo. Mas a previsão era forte demais. Não podia ser destruída nem apagada. Ao compreender isso, o Imperador concentrara os esforços em danificá-la, para que não pudesse ser interpretada.

– Por que ele fez isso? – perguntou Sarah, apenas para ter certeza.

Jamion de Relana acreditava que a previsão se referia a ele, pessoalmente. Acreditava que a previsão revelaria seus atos passados e seus planos futuros.

– Ele assassinou os pais e os avós?

Em caráter excepcional, o Palácio de Durina respondeu com objetividade, mesmo sendo informação referente a outra Linhagem: sim. Jamion de Relana eliminara seus pais para se apossar do Trono de Relana, e seus avós para governar sem interferências. Seus atos haviam desencadeado a previsão.

– E agora não temos como saber o que aquele louco pretende para o Império! – exaltou-se a princesa, furiosa.

De forma lenta, enfatizando a importância, o Palácio de Durina repetiu as informações: a previsão seria crucial para a sobrevivência do IMPÉRIO. Os atos de Jamion de Relana apenas a DESENCADEARAM. Pelas estimativas do Palácio, a previsão abrangeria um período correspondente a quatro gerações futuras, o que representava o lapso de tempo mais longo alcançado pelo Olho do Feiticeiro.

Na surpresa do Lorde, Sarah entendeu o quanto a informação era extraordinária.

– Era algo muito maior do que Jamion de Relana – explicou Carl de Moolna. – Era algo que iria até nossos bisnetos. Durina, o Imperador foi informado do alcance da previsão?

Durina usou todos os argumentos, mas eles foram ignorados. Jamion de Relana acreditou que se tratava apenas de pretextos criados para detê-lo. Ao verificar que o Imperador realmente conseguiria inviabilizar a previsão, o Olho do Feiticeiro recorreu a um recurso desesperado: integrou a previsão à sua própria estrutura. Para danificar irreversivelmente a previsão, o Imperador precisaria danificar irreversivelmente o Talismã, e Relana não tinha poder para tanto. Então, em sua fúria, Jamion de Relana apunhalara a previsão e a acorrentara ao Olho do Feiticeiro, esperando que o próprio Talismã a destruísse, uma vez que ela não poderia permanecer ali para sempre.

Mas Talismãs não eram capazes de destruir algo essencial para a sobrevivência de sua Linhagem, seu Palácio e seu povo. O Olho do Feiticeiro tornara-se prisioneiro de suas próprias leis.

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