74. MUDAR DE ESTRATÉGIA

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Certinho na quarta-feira, embora meio tarde!

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DURINA.

A primeira providência foi remover os corpos. Havia muitos, no grande salão-armadilha, mas também havia diversos no pequeno aposento onde o Lorde e os guardas haviam chegado com Donasô. De propósito ou por acaso, os guardas imperiais tinham caído com o Lorde de Moolna e os guardas de Durina. Lá dentro, foram rapidamente eliminados por disparos mentais do Lorde de Moolna. Dentro de Durina, o Campo de Inibição não funcionava. O poder do Palácio era maior.

Daquela vez, no entanto, os corpos não foram devolvidos a Relana. O Lorde de Moolna identificou diversos, usando a memória fabulosa de sua Linhagem.

– Assassinos, mercenários e criminosos condenados – disse o Lorde. – Os únicos que conseguem sobreviver junto a um Rei Vermelho. O Império está melhor sem eles.

Foram incinerados nas forjas. Não sobrou nada deles, e isto era bom.

No grande salão, o Palácio se encarregou de renovar a água suja de areia e sangue. Os capacetes protegiam a guarda de Durina da areia, mas o gosto de sangue se tornava nauseante em locais fechados. Quando toda a água estava clara e límpida, sem qualquer traço da batalha, era hora de esvaziar novamente o salão.

Inúmeros acessos redondos abriram-se nas mais diversas alturas do cristal, selados por contenções mentais muito semelhantes às que, no interior do Palácio, separavam as áreas inundadas das não-inundadas. Nada de fora podia entrar, mas a água de dentro podia sair, bombeada pelo Palácio. Pequenos peixes e moluscos saíam com a água. Os maiores eram detidos pela interface.

O nível da água gradualmente diminuiu até a maior parte do salão estar preenchida por ar. O piso estava totalmente coberto por areia, e a areia, em sua maior parte, estava sob uma lâmina de trinta centímetros de água. Em alguns pontos, a areia se empilhava em ilhotas. Em outros, havia piscinas com mais de dois metros de profundidade.

A Rainha Darah e os oficiais entraram no salão, verificando se tudo estava em ordem. Armas reluziam na areia e muitos animais nadavam, rastejavam ou se arrastavam no improvisado habitat.

– As crianças podem entrar – autorizou a Rainha, depois de uma última checagem.

As crianças e seus preceptores esperavam ansiosamente aquela liberação. Apesar de Durina ser um Palácio de águas rasas, as crianças não tinham permissão de visitar suas áreas quase emersas – atlantes nunca arriscavam suas crianças, mesmo que o risco fosse mínimo. O salão invadido pelo mar se tornara uma inesperada praia no interior de Durina, ou seja, um campo fértil para o aprendizado.

Cada grupo de crianças entrou com os preceptores e responsáveis. Alguns se dirigiram para as armas, mas a maioria se concentrou nos animais das praias e lagoas do salão. Enquanto aprendiam sobre as espécies encontradas, os pequenos coletavam os animais, aprendendo a maneira correta de manusear cada um. E, através de cestos, redes e aquários, todos os animais foram devolvidos ao mar. A grande quantidade de arraias chamou atenção, assim como a extrema docilidade dos animais, que permitiam a aproximação das crianças sem qualquer receio ou tentativa de fuga. Os pequenos ficaram encantados e se tornaram admiradores incondicionais de arraias. Nas semanas seguintes, arraias foram o maior assunto de todas as classes escolares.

Equipes adultas se misturavam às crianças, começando a lenta e trabalhosa devolução de toneladas de areia para o mar. O Palácio poderia expelir a areia, usando fortes jatos e correntezas de água. Isto, no entanto, atiraria para fora tudo o que estivesse misturado na areia, e o Lorde de Moolna suspeitava que havia uma arma preciosa perdida ali. Portanto, o trabalho era braçal. Quando encontravam uma arma da guarda imperial enterrada, as crianças mais velhas eram chamadas para identificá-la e levá-la ao arsenal. Quando encontravam um animal iniciando uma toca, as crianças menores vinham coletá-lo e liberá-lo para o mar.

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