I-NA-CRE-DI-TÁ-VEL. Rafael tinha tomado o maior fora da caloura!
A novidade correu pela Escola com a velocidade que só as mais estupendas fofocas são capazes de alcançar.
Rafael alternava entre furioso e desolado. Faltou a todas as aulas do dia, mas os amigos conseguiram mantê-lo afastado de Sarah.
— Esfrie a cabeça antes, Rafa. Calma! Quem sabe ela muda de ideia, não é? Mas não vai mudar se você chegar nela irritado desse jeito!
Principalmente, conseguiram manter Rafael afastado de álcool. Se ele enchesse a cara naquele momento, o resultado seria catastrófico.
Sarah compareceu a todas as aulas, recusou-se a fazer qualquer comentário sobre Rafael e exercitou sua habilidade de bancar a surda.
— Aaahhhhh, o cara mais lindo, o cara mais fofo, o cara mais tudo que existe, e você trata desse jeito?! Você é louca, é?! O que você quer, afinal?!
Sarah achou melhor não responder que, no momento, queria esbofetear uma garota daquelas até ela calar a boca.
Sem Rafael, jantares ou conversas, Sarah foi cedo para seu quarto, pendurou um grande NÃO PERTURBE do lado de fora e trancou a porta. Fez contato com a mãe e depois, sem cabeça para mais nada, deitou de costas na cama, braços cruzados sob a cabeça.
Sutileza era uma das características de sua intuição. As advertências costumavam ser discretas, quase silenciosas, e Sarah precisava estar atenta para percebê-las. Tinha ignorado todas as que se referiam a Rafael. E se estivesse ignorando também os avisos que a levariam a ele, seu companheiro de verdade? O Olho do Feiticeiro garantia que ele estava na Escola de Entre Rios. Todos asseguravam que bastaria se aproximar dele para a conexão começar a se formar, mas isso não acontecera ainda. A conclusão óbvia é que não tinha chegado perto dele ainda.
Sarah mapeou mentalmente os locais por onde já tinha andado: caminhos habituais, caminhos menos habituais, lugares aonde tinha ido apenas uma ou duas vezes, locais não visitados. Os não visitados eram poucos. Já conhecia quase toda a Escola.
Respirou fundo e fechou os olhos, repassando tudo desde sua chegada à Escola. Havia algum palpite ignorado? Algum impulso de frequentar um lugar específico? Alguma pista negligenciada?
Depois de uma hora e meia, a garota desistiu. Cada vez que deixava a mente vaguear, só apareciam os prédios das Exatas e, estranhamente, motos. Concluiu que devia ser apenas resquício dos dias passados com Rafael. Também havia a sensação insistente de estar deixando passar algo elementar; isso fez Sarah franzir a testa e relembrar tudo o que sabia sobre compromissos e companheiros. A solução não apareceu aí também e a jovem, frustrada, tratou de dormir.
Sarah tinha caído na velha armadilha de uma resposta tão óbvia que se torna invisível.
Sua intuição tentava avisar que o companheiro era das Exatas e gostava de motos. Se o companheiro não era Rafael, é claro que não se referia a ele. Mas Rafael era muito impressionante, Sarah ainda estava cheia de Rafael na cabeça e não pensou que o aviso se referia a outro rapaz com as mesmas características.
Quanto ao que estava escapando, era algo tão sabido que mal se comentava: os companheiros escolhidos pelos príncipes de Linhagem eram costumeiramente pessoas de exceção, com uma ou várias qualidades notáveis. Ou seja, se uma princesa fosse procurar seu companheiro na Escola Superior, seu foco óbvio seria Rafael, que era O Cara do campus.
Mas, naquele semestre, havia mais um Cara do campus. Enrique, o jovem gênio em Aerodinâmica, entrara na Escola justamente no semestre em que o Olho do Feiticeiro havia mandado Sarah para lá. E Sarah nunca havia se aproximado dele. No início do semestre, quando Enrique andava livre por todo o campus, rindo, conversando, passeando de moto e jogando basquete, Sarah estava entrincheirada em seu quarto, fugindo dos trotes. Depois, quando Sarah andava livre pelo campus, Enrique estava preso no melhor laboratório do campus, cercado pelos maiores expoentes de Engenharia Espacial da Terra.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Olho do Feiticeiro
FantasyJá há dias o brilho e as cores do Talismã se intensificavam. Rei, rainha e princesa se revezavam na vigilância até que, depois de seis longos anos de silêncio, o Talismã abriu-se ao contato. O Rei chamou a esposa e a filha; assim, os três integrante...