Do povo de Durina, contaram-se trezentas e oitenta e cinco mortos. Oficiais, guardas, conselheiros, estudiosos... Jovens, adultos, velhos... Crianças.
Imperiais nunca atacavam crianças. Encontrar os pequenos corpos mutilados pelas espadas de Relana arrancou lágrimas de indignação e raiva dos oficiais mais empedernidos, dos médicos mais experientes. Era mais do que assassinato, mais do que traição... Era... Impensável. Inimaginável. Inacreditável. Em especial porque havia partido do Imperador, o maior responsável pela segurança do Império.
Houvera Imperadores excelentes, bons, médios, ruins e péssimos. Os Reis Vermelhos estavam sempre entre os péssimos.
Olhando as crianças mortas, a gente de Durina compreendeu que Jamion de Relana seria o pior entre os piores.
Um a um, os corpos foram retirados do Salão dos Tronos e entregues às famílias. A cerimônia de despedida seria coletiva, no dia seguinte.
Mas, apesar de toda a tristeza e revolta, cresciam relatos desencontrados do que acontecera no Salão dos Tronos. O príncipe superficiano desaparecendo com o Olho do Feiticeiro, o apagão de Durina... A coragem da guarda de Durina ao enfrentar a guarda de Relana, os poucos sobreviventes, os muitos e valentes mortos... A bravura do Lorde de Moolna que, mesmo gravemente ferido, resistira até o fim... Senira, suas armaduras prateadas, seu escudo de ventos, seu Rei que era um guerreiro tritão e que morrera enfrentando o Imperador com poder e fúria assombrosos... Os Patriarcas mortos, o Rei Sammal gravemente ferido, a Rainha Darah em seu Trono... E a previsão colorida que não acontecera.
Sim, havia muito do que falar... mas muito pouco a entender!
A Rainha agora entendia ao menos uma parte (uma aterrorizante parte) do que acontecera. Sua consciência se expandira para Durina inteiro, trocando informações com o Palácio, distribuindo ordens e instruções para toda a sua gente. Agora Darah aos poucos voltava a ser apenas ela mesma. Seu Palácio continuava enraivecido, mas estava sob controle. Ela podia sair de seu Trono.
O intenso clarão azul em torno dos Tronos diminuiu progressivamente até chegar à luminescência habitual e a Rainha determinou que todos, exceto Moolna, saíssem do Salão. Eles saudaram a Rainha e obedeceram com rapidez. Quando o último se retirou, as portas se fecharam, isolando o Salão dos Tronos.
A Rainha estava tão exausta que não confiou em suas pernas para levá-la escadas abaixo e, a uma ordem sua, Durina transportou-a para a base da escadaria. Mesmo com a intermediação do Palácio, ela oscilou após o transporte, sendo prontamente apoiada pelo Lorde de Moolna.
– Mãe, tudo bem?! Descobriu o que aconteceu?! E Enrique, onde está Enrique?! – Sarah olhou direito sua mãe e suspendeu as perguntas. – É melhor a senhora sentar, e depressa!
– Já vou sentar. Durina, retire as armaduras.
As armaduras de Rainha e princesa desapareceram, de volta à Sala de Armas.
– Carl, por favor... – Darah indicou os corpos dos seus pais, acomodados lado a lado em tablado a poucos metros deles.
Com o braço em melhores condições passado pelas costas da Rainha, Carl de Moolna acompanhou-a até os Patriarcas.
Tonar e Marah de Durina pareciam apenas dormir. Todas as marcas de violência haviam sido apagadas de seus rostos. Os trajes formais e suntuosos faziam parecer que eles estavam prontos para mais uma cerimônia oficial. A luz de Durina os cercava numa levíssima aura azul... Com a luz, o Palácio se despedia daqueles honrados integrantes de sua Linhagem.
Os olhos de Darah se encheram de lágrimas. Dera as ordens, mas não olhara enquanto o corpo do seu pai era literalmente remontado e colocado no tablado. Só olhara depois, quando ele já estava inteiro e vestido. E sua mãe... A espada atingira direto seu coração. Ela não tivera qualquer chance.
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Olho do Feiticeiro
FantasíaJá há dias o brilho e as cores do Talismã se intensificavam. Rei, rainha e princesa se revezavam na vigilância até que, depois de seis longos anos de silêncio, o Talismã abriu-se ao contato. O Rei chamou a esposa e a filha; assim, os três integrante...