1. A Partida

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As jovens elfas caminhavam serenamente pelo pátio de Valfenda. Os longos cabelos ruivos de Alariën esvoaçavam ao vento enquanto ela segurava a mão de Elwën e da pequena Ainariël.

Elwën era sua irmã mais velha. Nascida cinco anos depois, Alariën se parecia mais com a mãe do que com o pai. Os mesmos cabelos, a mesma cor dos olhos. Tauriel e Alariën eram quase gêmeas. Elwën herdara os cabelos dourados e os olhos azuis do pai, o Rei Thranduil. Além da sabedoria, Alariën não herdara nada do pai, Elrond.

Alariën agora tinha vinte anos, e Elwën vinte e cinco. Elrond amava Alariën imensamente, assim como também amava seus outros filhos: Elladar, nascido dois anos depois de Elwën, e Ainariël, a mais nova.

Era o último dia de Alariën em Valfenda; ela ansiava conhecer Mirkwood havia muito. Elwën sentiu-se tentada a ir junto, mas decidiu que precisava ficar com Tauriel; sua mãe sentia-se cansada e doente frequentemente.

Alariën partiria no dia seguinte com seu irmão, Elladar. Ela estava muito ansiosa para ir, mas relutava em partir por conta de sua mãe.

- Não se prenda aqui por mim, minha filha. - dissera Tauriel, mais de uma vez. - Vá e conheça as maravilhas deste mundo; prometo-lhe que ficarei bem.

Finalmente chegara a hora; não havia como voltar atrás. Ainariël apegara-se muito a Alariën, e também se entristecia sempre que sua irmã comentava algo sobre a viagem. Ainariël só tinha dez anos de idade, mas era sábia como uma elfa adulta. Insistira para que também fosse, mas Elrond recusou terminantemente.

- Ei, minha pequena elfa. - dissera Alariën sorridente. - Estarei de volta em breve, prometo. Quero conhecer o lugar onde o pai de nossa irmã vive, e Elladar também está ansioso por tal coisa. Não me esquecerei de você nem por um segundo. - beijara a palma das mãos de Ainariël com carinho.

As elfas continuaram caminhando lentamente, andando por cada canto de Valfenda. Alariën entrou no salão de festas, onde fora realizado seu mais recente aniversário. Andou pelos jardins, pelas cozinhas e para onde mais pudesse ir. Queria lembrar tudo aquilo quando fosse embora.

Valfenda era enorme, e as garotas passaram por cada centímetro do lugar sem pressa, cumprimentando os elfos que ali viviam e admirando as paisagens deslumbrantes do lugar em que moravam e amavam. Algumas horas depois, ao pôr do sol, sentindo que já havia visto tudo o que podia, Alariën retornou com as irmãs para cear com o pai num banquete de despedida que ele organizara.

Elrond estava sentado na cadeira diretamente à frente da porta. Vários elfos estavam reunidos, e a maioria levantou e fez reverências quando elas entraram. Elrond sorriu tristemente ao ver Alariën, recordando-se de sua partida iminente.

O banquete durou quase a noite toda. Elwën havia saído mais cedo para colocar Ainariël para dormir, mas todos os outros continuaram lá. Vários elfos cantaram belas e inúmeras canções élficas, liderados por Lindir e Alatariel. Elladar chegou muito depois, e ficou em silêncio num canto observando os outros.

Quando se sentiu cansada para continuar no banquete, Alariën despediu-se de seu pai e foi deitar-se, acompanhada de Elladar, uma sombra silenciosa ao seu lado.

- Irmã, viajaremos amanhã ao nascer do sol. - disse Elladar, ao chegarem à porta do quarto de Alariën. - Esteja pronta antes, virei buscá-la quando chegar a hora.

Seu irmão tinha profundos olhos cinzentos, cabelos castanhos que caiam até o ombro e uma doçura em sua voz, mesmo que estivesse com raiva.

- Estarei pronta, irmão - prometeu Alariën. - Mas peço que não demore. Quero evitar despedidas além da nossa irmã.

- Assim será. - disse Elladar, dando um leve beijo no rosto da irmã e retirando-se.

Alariën entrou no seu quarto uma última vez. Adorava aquele lugar; era seu refúgio secreto quando estava triste ou desanimada. Gostava de se debruçar na janela e olhar o jardim ao pôr do sol, gostava de ficar deitada na cama o dia inteiro, ouvindo a chuva cair; suspirou profundamente e deitou-se na cama, pensando sobre o que a aguardaria na Floresta das Trevas. Com certeza seria uma desconhecida para o Rei Élfico, mas se ele não aceitasse, ela partiria com seu irmão em busca de outro lugar; ambos ansiavam viajar para o máximo de lugares possível. Esperava que ele a aceitasse por ser filha de Tauriel.

Acalentando desejos para a viagem do dia seguinte, Alariën adormeceu momentos depois.

+

Ainda estava escuro quando Elwën chegou ao quarto para se despedir da irmã.

Alariën estava de costas, sentada num banquinho em frente ao espelho, quase completamente vestida; pôs um vestido de cor creme, com o decote em forma de V decorado de pedras preciosas. Estava escolhendo um jeito para arrumar os cabelos quando Elwën chegou.

- Sugiro que os prenda com a fita que nossa mãe lhe deu. - murmurou Elwën.

Alariën virou-se, surpresa, e sorriu ao ver a irmã.

- Ótima ideia - concordou Alariën. - Venha, ajude-me com isto.

Virou para o guarda-roupa e pôs-se a procurar a fita. Elwën esperou pacientemente enquanto a irmã revirava o quarto em busca do presente.

- Achei!

Alariën voltou trazendo uma fina fita prateada; Tauriel havia lhe dado quando fizera catorze anos de idade.

- Eu coloco para você. - ofereceu Elwën.

Alariën assentiu e sentou-se no banquinho. Elwën juntou seus cabelos com mãos hábeis e delicadas, e os prendeu com a fita. Tirou uma mexa e deixou-a cair na parte lateral do rosto de Alariën. Os cabelos de Alariën eram exatamente iguais aos de Tauriel. Longos, acobreados e tão brilhantes que refulgiam fortemente à luz do sol; Elwën sentia inveja quando era mais nova, mas aprendera a apreciar a beleza da irmã.

- O que acha? - perguntou Elwën ao terminar.

- Está lindo, irmã. - disse Alariën, sorrindo e virando-se. - Obrigada. Por tudo. Sentirei tanto a sua falta. - abraçou Elwën.

As duas ficaram abraçadas, lágrimas rolando pelos olhos de ambas.

- Não vamos chorar. - sussurrou Elwën, limpando as lágrimas. - Isso não é realmente uma despedida, não é? Ainda nos veremos novamente.

- Desejo que seja verdade, irmã. - concordou Alariën. - Mas agora está na hora.

Alariën libertou-se da mão de Elwën e foi olhar pela janela; o sol estava quase nascendo. Mal se passaram dez minutos, alguém bateu na porta.

- Deve ser Elladar.

Alariën abriu a porta e seu irmão entrou.

- Precisamos ir. - disse Elladar. - Nossa mãe ainda está dormindo, e o pai disse que deveríamos ir sem nos despedir. Já está tudo pronto, irmã.

- Já estou indo. - disse Alariën, virando-se para Elwën uma ultima vez.

- Adeus, minha querida irmã. Que possamos nos reencontrar algum dia.

Abraçaram-se novamente, e em seguida Alariën deixou o quarto ao lado de Elladar.

Foram em direção aos estábulos e encontraram dois cavalos selados. Elladar ajudou Alariën a subir na garupa de Snig e depois foi para seu próprio cavalo, Eschor.

Saíram do estábulo e se depararam com os primeiros raios solares despontando no leste, iluminando as fronteiras distantes de Valfenda. Com um aceno de despedida quase imperceptível, Alariën virou-se para a estrada e cavalgou alegremente ao lado de Elladar.

A FILHA DE VALFENDA - Contos da Terra Média (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora