4. Alteza

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O rei estava dando audiência, como sempre. Era impressionante o número de pessoas que queriam pedir algo a ele.

Legolas passou o peso do corpo de um pé para o outro, sonolento. Acordara antes mesmo do alvorecer, chacoalhado por um guarda que dizia que o Rei o aguardava. Fora obrigado a se vestir apressadamente, seus cabelos normalmente bem penteados estavam um emaranhado de fios que ele tentara arrumar com os dedos.

O Rei Élfico não parecia menos entediado que o filho. Revirava os olhos cada vez que alguém pedia algo de pouca ou nenhuma importância, acenando displicentemente para que a tal pessoa fosse embora. A audiência durou metade do dia, e o Rei quase não deu atenção a Legolas. Mas ele sabia que não poderia ir embora. Thranduil gostava de ter o filho por perto, mesmo que ainda estivesse evitando responder aos olhares inquisidores de Legolas sobre o elfo do dia anterior.

Legolas se perguntou onde estaria Alariën àquela hora. Seu irmão Elladar estava ao lado de Legolas, reto como uma lança e parado como uma estátua; o rei também pedira que Elladar estivesse presente nas audiências, Legolas não sabia porquê.

- Já chega. - disse Thranduil, quatro horas depois. - Legolas.

Legolas adiantou-se e ficou em frente ao pai.

- Diga que a audiência está encerrada. - ordenou o Rei, levantando e saindo do salão.

Legolas obedeceu e voltou para o lado de Elladar, olhando o salão esvaziar lentamente.

- Você também pode ir, se quiser. - disse Legolas, olhando para o outro com um sorriso solidário.

Elladar assentiu e também saiu do Salão, deixando Legolas sozinho.

O elfo abriu uma porta que ficava um pouco atrás do trono do Rei e saiu. Inspirou o maravilhoso cheiro que vinha da Floresta, observando os jardins abaixo dele.

Recordou o tempo que fora uma criança, correndo por toda a Mirkwood. Seus pais costumavam brincar com ele quando Thranduil não estava ocupado, o que não acontecia frequentemente. Às vezes sentia falta de sua mãe, apesar de pouco se lembrar dela. Seu pai nunca disse o que aconteceu com ela, e nunca gostava que Legolas tocasse nesse assunto. O elfo aprendeu a controlar a língua se tratando disso.

Fechou os olhos e várias lembranças passaram diante dele num flash. Seu pai lhe dando seu primeiro cavalo; o medo que ele sentia de arco e flecha, que logo depois se tornou uma paixão; as histórias que contavam sobre sua mãe. Sorriu ao lembrar tudo isso.

Um súbito perfume floral encheu o ar, o que fez Legolas abrir os olhos. Virou-se e viu Alariën encostada na porta, de braços cruzados, olhando para ele.

- O que faz aqui, minha senhora? - perguntou Legolas, surpreso.

- Não tinha nada a fazer, então resolvi andar um pouco. Subi até o Salão e vi essa porta entreaberta. Espero que não esteja incomodando, alteza.

- O que combinamos sobre me chamar de "alteza"? - Legolas sorriu.

- Desculpe-me, Legolas. - Alariën também sorriu.

A elfa andou até onde Legolas estava e também inspirou profundamente, inclinando o corpo para frente para ver os jardins.

- Aqui é tão lindo - ela comentou.

- É verdade. Gosto de olhar o pôr do sol daqui de cima. Sempre fico aqui quando me sinto solitário, o que significa que eu fico muito tempo. - ele sorriu.

- Não mora ninguém nas redondezas? - Alariën perguntou. - Algum amigo seu, algo do tipo.

- Não. - respondeu Legolas, virando o rosto para a paisagem. - Antes de vocês chegarem, eu não tinha outra companhia a não ser o meu pai.

A FILHA DE VALFENDA - Contos da Terra Média (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora